Só até às 21h

INDIANÁPOLIS | Quando às 21h14 o casal de mais de meia-idade saiu às pressas, para não dizer correndo da loja da Apple, os quatro ou cinco vendedores aplaudiram. A loja fechava as portas com orgulho e peito estufado, bem como a de chocolate, a de perfume, a de roupas femininas, a de óculos e todas as outras. Sobrou ali a vendedora de sanduíches e comidas rápidas, mas ela limpava tudo bem mais rápido do que a comida que vendia.

Às 21h23, o vendedor da Starbucks, depois de vender um Caramel sei-lá-o-quê, chiava veladamente do rapaz que ouvia seu iPod todo esparramado na cadeira, ao qual já havia pedido na caruda para que se retirasse do estabelecimento.

E assim é Indianápolis, a cidade que é considerada a 13ª mais importante dos Estados Unidos, cujo expediente vai de x horas da manhã, não muito cedo, até 21h, se possível numa pontualidade herdada do colonialismo britânico.

Os funcionários dos restaurantes, chinfrins, medianos ou renomados, ao ver o aproximar do horário-limite, fazem bico porque não querem trabalhar além do “ponto”. Quem vem de fora e conhece o modus operandi fala que tem até quem pare com a bandeja na mão só para não atender o cliente que porventura esteja faminto ou sedento. Fora o papo do cuspir na comida. Horário de jantar por aqui é por volta das 5 da tarde, quando o sol ainda está longe de se esconder nesta época do ano. Happy hour significa não fazer hora extra.

Indianápolis é pacata, e nem o aumento exponencial de turistas por conta das 500 Milhas dá uma chacoalhada. O novo aeroporto, entregue no fim do ano passado, nunca viu tanto movimento; mesmo assim, seu comércio é limitado. Baladas além das 3 da matina nem pensar. É lei local. A partir das 2, os notívagos são devidamente avisados de que só há mais 60 minutos de curtição.

Quem quiser festa que curta o fim de semana prolongado nas dependências do infinito Indianapolis Motor Speedway. A pista mista usada para a F1 transforma-se em mero acesso ao estacionamento, que se localiza na grama contígua, toda pintada meticulosamente para que os carros não parem como bem quiserem. Lá, os americanos ou oriundos de qualquer lugar já levam suas birras e começam cedo a bebedeira. Três garotas, por exemplo, aproveitaram o impressionante calor da quarta-feira sem nuvens para soltar um “hey, guys”, seguido de um gole bem dado na cerveja da garrafa verde. Perto da entrada do Gasoline Alley foi criado um espaço para os afeitos ao mé, o Alley Cats, um cercadinho onde tomar todas é permitido 24-hours-a-day.

Indy, o autódromo, vai assim até o domingo. Trêileres e barracas se armam, o público se ajeita como pode, come, bebe, arrota e faz a esbórnia sem pudores que quiser, conforme relatos de quem sempre vem aqui e de que provavelmente participa, sem hora para acabar. Porque sabe que saindo de lá, a Indianápolis que abarca mais de meio milhão e vive da fama por causa de sua grã-corrida, não muda sua rotina. Nem por um minuto.
 

Comentários