Vitória para cortar cabelo

INDIANÁPOLIS | É a primeira vez em todos estes anos de Indianápolis que ‘Tee Kay’ parte para a corrida na condição de azarão, o próprio piloto admite isso. Mas como nos anos anteriores a vitória esteve sempre perto e escapou por detalhes do destino, vai que, ao mudar o início, o fim também seja outro.

Personagem dentre os protagonistas da cena da Indy, Tony Kanaan tenta esconder a ansiedade com lampejos de tranquilidade. Ainda mais depois do treino do Carb Day, em que seu desempenho apresentou uma evolução. Só que se o domingo vier e a conquista, não, que seja, é a vida. E assim será até o fim da carreira. Sem nenhuma frustração. Talvez só uma: o cabelo grande.
 
O brasileiro que carrega a Andretti Green no lombo revelou o momento difícil. A Penske e a Ganassi estão à frente, algo que não se sucedeu em outras épocas. “Eu sempre tive um carro competitivo desde o primeiro dia [de treinos], e neste ano a gente sofreu um pouco com o carro”, me falou Kanaan ontem à tarde. “Até agora, a gente não descobriu qual que é o problema. Acabei trocando de carro na sexta-feira antes da classificação, e a gente teve de começar tudo do zero de novo.”

O carro foi meticulosamente remontado, pecinha por pecinha. “Tudo que eu tinha feito até aquele momento, a gente ficou se perguntando: ‘Será que funciona?'”. E todo o trabalho foi praticamente perdido. “A gente começou bem atrás, uns dois dias”, disse Tony. “Nos outros anos eu tive um carro super bom, sempre tive chance de ganhar, mas de repente, começar diferente…”

Veio a última oportunidade de acertar o carro 11. O calor em Indy era maior ontem do que em todo o mês de maio. Ficou em 11º. O 11º mais aliviante dos últimos tempos. “Eu fiquei impressionado porque estava muito bom, do jeito que eu queria. A gente treinou com a temperatura que a gente acha que vai estar no dia da corrida”, falou. “E tudo pode acontecer, até porque nem sempre o carro mais rápido ganha.”

“E você trocaria todas as vitórias que teve na carreira por uma aqui?”, perguntei. “Não”, de pronto rebateu Kanaan. “Acho que é uma corrida importante, que quero ganhar muito, mas minhas conquistas todas foram muito boas. Já me perguntaram se eu trocaria o campeonato, e eu disse que não, porque ganhar um campeonato é muito mais difícil”.

Tony fez até uma comparação com Senna. “Quantos anos o Ayrton (Senna) tentou ganhar no Brasil até levar? É uma coisa que quero conquistar, é um sonho, é um ideal, mas eu não sou uma pessoa frustrada se isso não acontecer até o fim da minha carreira”, revelou.

Kanaan já pôs em prática o capacete adaptado às cores da Brawn, a fênix da F1. “O carro já melhorou três milhas”, sorriu. “Vou guardar [o capacete] no meu armário. Não quero ninguém encostando”. Tony falou que seria “um sonho” ver o amigo Rubens Barrichello, aniversariante do sábado, vencendo em Mônaco e ele ganhando em Indy. “É capaz de eu pegar o avião e ir para lá para comemorar.”

E só vencendo o mundo veria a aparência de Kanaan como se habituou. O baiano está deixando o cabelo crescer, digamos assim. Vítima de uma aposta com Dario Franchitti, que retornou à Indy com os cabelos compridos. “O Dario apareceu com o cabelo parecendo o Bozo, uma menininha — mas como ele é casado com a Ashley Judd, ele pode fazer o que ele quiser”, salientou Tony.

Aí veio a explicação da brincadeira. “Eu falei para ele o seguinte: quem ganhar a primeira corrida entre os dois, se eu ganhar, eu corto seu cabelo seu cabelo raspado; se você ganhar, eu deixo meu cabelo crescer até o dia que você decidir ou até eu ganhar uma corrida. Ele ganhou Long Beach, e meu cabelo está aqui. Tomara que eu corte segunda-feira.”

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