I am (in) Indy, 9

INDIANÁPOLIS _ Ela não tem o apoio que o povo e os patrocinadores dão a Danica, talvez não seja tão rápida quanto Simona e Bia, nem tem os peitos e a bunda desenhados siliconicamente de Milka. Sarah Fisher é uma espécie de lado B dentre as pilotas. Não se fala muito dela, não se dá a importância devida em termos de cobertura. Mas todo mundo aqui tira o chapéu ou o boné patrocinado para ela. Principalmente pelo esforço de, após anos de sofrimento para encontrar uma vaga no grid da Indy, iniciar o projeto de ter uma equipe.

E essa empreitada foi diferente neste ano. “Porque foi a Dollar General que me ligou no começo do ano. Eu, que passei a vida toda pegando o telefone, ligando para as empresas, um belo dia recebi a ligação deles. ‘Eu sei do seu trabalho e da sua luta, eu quero patrocinar seu time, eu quero investir em vocês'”, e Sarah continuou contando sobre o investimento da rede de mercados que tem mais de 8 mil lojas em todo os EUA.

O patrocínio da Dollar General, no entanto, ainda não permite que Sarah corra a temporada toda com dois carros. Tanto que no começo do ano, nas provas de misto, Graham Rahal foi quem representou o time tricolor — preto, amarelo e branco. No Kansas, Sarah apareceu pela primeira vez, ao lado de Jay Howard. Os dois usaram a prova como preparação aqui para Indy.

E Indy representa muito para a Sarah, principalmente pelo que pode financeiramente trazer para garantir o resto do pão anual. Com uma equipe recém-nascida, Fisher não tem um grupo que lhe dê o melhor dos acertos. Mas Sarah sempre passa uma impressão positiva. “O carro está andando muito bem, e ontem foi na verdade um resumo de uma hora do que tivemos durante todos os treinos para aplicar na corrida. Só que foi o resumo mais importante de todo ano. E tudo que tivemos de informação é chave para que seja usado no domingo.”

Mas Sarah tem de olhar para frente diante com certa dor pelo que aconteceu há seis dias. Howard, que estava classificado para as 500 Milhas até cinco minutos do fim do Bump Day, resolveu — com apoio da equipe, diga-se — ir para a pista para tentar um novo tempo. Pelas regras, retirou-se do grid, fazendo subir Sebastián Saavedra. E falhou. Howard era a desilusão e fez de tudo para não chorar em público. Sarah não teve o mesmo controle. Porque, por contrato, os dois carros tinham de estar na corrida. Ali sua Indy 500 já parecia arruinada.

Então perguntei se emocionalmente havia se recuperado. A resposta fluiu inicialmente sincera. “Eu acho que nunca vou me recuperar. O que aconteceu com o Jay, aquela saída final de pista…”, e Sarah engoliu seco e ficou me olhando e por segundos, e não foram um ou dois, foram seis, contados no relógio, seis segundos num silêncio que dizia tudo, o tal silêncio sepulcral que expressa a dificuldade que carregou não só no domingo passado, mas talvez por uma vida toda. Assenti com a cabeça, dei um sorriso e levei a mão em seu ombro, tipo em um sinal de consolo. Ela retribuiu e eu lhe dei boa sorte.

Vou torcer muito por Sarah, durante seis segundos, mais de três horas amanhã e sempre.

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