Mal Azia, 3

SÃO PAULO | Posso dizer, sem problema, que queimei a língua. Ou as mãos, no caso. Jamais esperava que esta McLaren se recuperasse de tal forma daquela malfadada pré-temporada a ponto de fazer a Red Bull suar mais do que o calor da Malásia já  na segunda prova do campeonato. A McLaren, sublinhe-se, é a equipe que melhor trabalha na F1 para se refazer de um erro ou problema, mas muito, muito à frente da Ferrari, que merece linhas à parte.

Cabra bom, esse Vettel. Perguntei ao meu amigo alemão, o Dirk, como é que se diz ‘cabra bom’ lá na terra dele, e ele veio com um ‘ziege guter’. Acho que ele me enganou, mas enfim. Arrancou a pole de Hamilton com maestria e com o KERS.  Vettel é um piloto quase imbatível em volta rápida — e só Hülkenberg o bateu, na secagem de Interlagos, desde o GP da Coreia do ano passado. Já são 17 vezes na primeira posição em toda carreira, meteórico para um moleque que não tem nem quatro anos completos na F1. Dos últimos campeões, de 2006 pra cá, Sebastian é aquele que melhor vem honrando o número 1 que carrega no carro e no peito.

Essa McLaren é realmente surpreendente. É mais rápida em reta, o motor da Mercedes é melhor que o da Renault. Hamilton cravou tempo no TL3 de manhã, foi melhor no Q2 e foi por 0s1 que não tirou a zica que perdura desde Canadá-2010. Button também vem no embalo. E nas condições abafadas e secas ou na chuva, haverão de importunar Vettel. E Webber, vá lá, não é de todo um descarte. A Red Bull, pelo que analisam, pode ter quatro ou cinco voltas a mais na economia dos pneus. Serão três ou quatro paradas. A ver.

Aí vem um calabouço e de lá se ouve um eco, tipo a voz robotizada do rádio de hoje. Numa análise que a Ferrari deve ter visto dos setores, o Fiat 150-3 vem no embalo no primeiro, perde meio segundo no trecho 2 e toma mais 0s3 no fim. É de pôr Alonso sentado, sozinho, de fronte a uma tela dos tempos, tipo vendo a banda passar, sem muitos gestos de amor. E foram bonitos os gestos de apoio pachequístico do ‘tio’ a Massa — o 2 a 0 da sexta-feira, o 3 que ficou no quase que só ocorreu por um “errinho” na volta final do TL3, a melhor volta no Q1 e tal —, mas Felipe acabou levando 0s4 do espanhol e falhou ao formar uma terceira fila vermelha. Ali intrometeu-se Heidfeld, provavelmente como pelo menos faria Kubica.

Abre parêntese. Tirando o HD, a TV teve lá seus destaques, como de costume. Para três pessoas, a Red Bull fez a pole — situação inédita na história da emissora; só para um que foi a RBR, e assim será para todo e sempre ou até que seu patrocínio da empresa que contém um energético exista. Jornabilidade, como diria o outro. E voou uma peça da Toro Rosso. Segundos depois, a peça era da STR.  E não foi uma teteia ouvir o encanto do abrir da asa, “tal como uma libélula jovem em busca da mãe natureza”, como definiu Fábio Seixas por SMS? Fecha.

Foi Kobayashi, o mito, que desfez a ordem das cinco melhores equipes. Pôs-se no lugar de Schumacher, que ainda não se achou muito bem. Vale quanto pesa, a idade. É bom também ver o que o japa pode fazer. Evidente que não será nada para pensar entre um top-5, mas a Sauber mandou bem demais na estratégia de pneus na Austrália.

E a Williams não há meio de fazer um carro decente. O 15º lugar de Barrichello facilmente seria pior nas mãos d’outro piloto. Tanto que Maldonado nivelou-se com as Lotus — ótimas, tire-se o chapéu. “É performance, não tem outra explicação”, falou o piloto à RGT. O negócio vai ser sofrer com a Force India ali atrás. Nem a Toro Rosso nesse ritmo dá para alcançar. A Williams não ganha patavina desde 1997, com Villeneuve — que hoje chega aos 40. Provável que, quando completar 60, ainda apareça como o último campeão feito pela equipe.

E ora, ora, a Hispania passou com louvor pelo crivo dos 107%. Liuzzi estava todo pimpão e catito no paddock e agradeceu ao Vaticano, Karthikeyan virou para Nova Délhi e curvou-se sete vezes. Vão largar, já é um passo à frente. De formiga, mas é.

Ao fim e ao cabo, mantenho a aposta que fiz no BRV e vou de Vettel. Mas se na quinta eu cravava como barbada, a corrida pelo jeito não é fava contada, não.

Comentários

  • O Rubens Barrichello já esta fazendo mais um campeonato medíocre na sua carreira e não tem nada que reclamar e ainda nos vamos ver ele perder muitas voltas para o Vettel um cara novato que sempre ganhou dele e agora só resta ele deixar á F1 e ainda não fara a miníma fauta e não deixara saudades.

  • To achando essa transmissao em “HD” meio suspeita. Nos ultimos anos, quando ela era em SD-wide (a turma do Bernie filmava em baixa definicao, ampliava e mandava pras emissoras), o resultado era praticamente o mesmo. Compare a atual qualidade de imagem da F1 com Nascar ou Indy em HD de verdade (a Band costuma miguelar, mas Indianapolis ela transmite em HD) e vc verá uma diferenca brutal.

    • Concordo, lembro mais ou menos de algo sobre ter de reduzir os giros por conta do calor ano passado…provavelmente um problema não resolvido pela cosworth.

  • e o Liuzzi a “apenas” meio segundo da virgin do belga? To achando q o carro da HRT é melhor do que da MVRT, como diria o locutor oficial da grande RGT

  • Só assisti ao Q3, mas deu pra notar que no delay da imagem em HD, os fanfarrões da RGT, tipo, anteveem o que vai acontecer 4s depois…
    Vai ser um saco a transmissão, com o ‘iluminado GB’ antecipando tudo o que acontecer…

  • E o GB falando sobre o Collin Chapman, foi citar o Patrick Head e disse o seguinte:

    “Falando em projetistas aeronaúticos, o Patrick Head era um grande projetista de barcos.”

    Quer dizer q barcos voam agora????