Hoosiers, 12

INDIANÁPOLIS | E começamos o dia aqui em Indy, sol e temperatura agradável, mas sem atividade nenhuma em pista. Os 33 pilotos que se classificaram para a corrida vão ser espalhados pelos Estados Unidos para fazer promoção da referida. Mas ontem à noite, em meio aos motorhomes das equipes e aos ataques dos mosquitos, conversei um bom tempo com Raphael Matos, que acabou eliminado da Indy 500, tornando-se o primeiro brasileiro em 16 anos a não conseguir classificação.

A avaliação inicial

“A gente só tomou susto aqui. Primeiro que a gente perdeu os dois primeiros dias de treino porque o carro não estava pronto.  Nosso programa começou muito tarde. Eu assinei com a equipe menos de uma semana antes de começar o campeonato. Eles prepararam aquele carro para as pistas mistas, e este carro daqui é outro. E minha equipe é pequena, e tinha uma corrida em cima da outra. Então ficou muito em cima para eles se concentrarem em cima deste carro. Passamos os dois primeiros dias terminando esse carro aqui na garagem, e é aquele negócio: isso é um produto e um resultado daquilo que, infelizmente, uma equipe pequena sofre, de certa forma, mas ela fez tudo que tinha de fazer para comprar as peças para o carro funcionar bem, que eles chamam de ‘go-fast-parts’. Tinha tudo do bom e do melhor. Mas a gente está coçando a cabeça para descobrir porque é que não foi.

Se tem uma coisa para consolar é que tem dois carros da Andretti na mesma situação que a gente. Estes carros… não dá para entender o que acontece. Montam exatamente com o mesmo acerto e a mesma coisa e não viram.

A estrutura da AFS

Os engenheiros que contrataram eram todos da Indy, mas não adianta: a gente podia ter o engenheiro da Ganassi aqui que não resolveria. É questão de preparação, de como os caras montam, os detalhes. É como um quebra-cabeça: se você tirar uma pecinha, acaba não funcionando. No ano passado, a gente tinha o mesmo acerto da Andretti Green, e o carro não andava, tanto para oval quanto para misto. Ter os melhores engenheiros não significa que o carro vai estar uma bala. Meu engenheiro [Tom Brown] já ganhou três vezes essa corrida em dez anos quando estava na Penske. Ele está bem abalado, como todo mundo. Foi a primeira vez que ele não conseguiu participar dessa corrida e é também a minha primeira vez em três anos que fico fora. Eu me classifiquei super bem nos outros anos.

Os problemas

Eu tive uma situação aqui nos treinos que, graças a Deus, eu senti. Tinha um negócio agarrando a caixa de marcha. Aí eu parei, a gente abriu e foi ver, e o garfo que segura as engrenagens estava azulado. Eu estava virando em 218 (mph). Aí trocaram, mexeram naquilo, comecei a virar 221. Então tem um monte de detalhezinhos que, se não tiver controle daquilo tudo, não vai.

A classificação e a tentativa de descontrair no Bump Day

Acho que no final da tarde a pista piorou um pouco, tanto que no meu primeiro ‘run’, eu virei 223,3 de média e, no final, a gente colocou um pouco de pressão aerodinâmica para ver se assentava, e o carro continuava instável e o tempo subiu pra caramba. Tanto que eles me deram o ‘waived off’ [o aborto da volta] porque eu estava virando em 222 e tinha que no mínimo estar em 223,6 pra tirar o tempo do 33º.

Eu estava super tenso. Estava andando com -4,5º de asa e era o carro ali do grid que tinha menos pressão aerodinâmica de todos. Nós fomos olhando e investigando um por um pra ver. Eu estava salvando minha vida na pista porque o carro estava traseiro pra caramba, dando tudo, e em todas as saídas de classificação eu quase bati, passando centímetros do muro. Eu realmente estava muito tenso. Você tenta descontrair e manter a equipe descontraída, mas no fundo a adrenalina está pegando ali. Foi difícil. Foram dois dias bem difíceis para mim.

Como será a semana da equipe…

A gente vai desmontar o carro todo porque não tivemos tempo de fazer isso antes. O negócio é analisar todas as informações que a gente coletou nestes dias mais profundamente e tentar chegar numa conclusão por que isso aconteceu, por que o carro estava tão lento e tão instável.

…e a de Matos

Muda tudo. Acabou. Os compromissos que eu tinha com relação à mídia e tal já eram. Só tinha alguma coisa quem classifica para a corrida. Então agora é juntar as coisas e ir para a casa em Miami. Não tem muito o que fazer. Amanhã eu ainda vou ficar com a equipe porque tem algumas coisas pra fazer, também dar um apoio moral e reagrupar, e bola pra frente.

As consequências

Não afeta muito, não. É o primeiro ano da AFS na Indy, o dono da equipe [Gary Peterson] é apaixonado por isso aqui, eu já ganhei um campeonato com eles… isso aqui não vai afetar a gente, não. E talvez a gente corra no Texas.

A comparação com o dia em que perdeu o emprego na De Ferran Dragon

Não, acho que o ano passado foi pior. Tenho que te ser sincero que foi bem pior. Sem falar na perda do meu pai, só falando da perda do emprego, comparando as situações, foi pior. Porque aqui, quando comecei a andar, já notava que o carro não tinha velocidade. E é muito difícil você encontrar velocidade se já não tem desde o início. Você melhora talvez, no máximo, 1 milha no acerto fino. Ou os caras te dão mais potência — que é o que aconteceu, na minha opinião, com a Danica; ela andava em 223 no começo e acabou virando 225; e o Marco, também, a mesma coisa.

O desempenho da ex-equipe

Meu carro no ano passado era o que está com o Scott Speed este ano. E o cara estava se arrastando na pista. E aí você se pergunta: como é que pode? Ele devia estar pelo menos no mesmo nível em que estava no ano passado. (Carpentier, seu substituto ontem, estava rodando já na mesma milha de Speed antes de bater) O carro era o mesmo, provavelmente o acerto era o mesmo, mas não virou. Às vezes é alguma coisa que você monta no carro, a caixa de câmbio mais apertada aqui e acolá, um pouco mais de torque na peça, um espacinho diferente na engrenagem, isso amarra o carro.

Avaliação final

Corrida é política. Essa corrida não pode não ter a Danica e um Andretti. Em 50 anos, sempre teve alguém da família deles. E por questões assim, não podia acontecer de ficar fora. 

Eu conversei com o Ryan (Hunter-Reay), ele é meu amigo, e me contou que o carro dele também não tinha velocidade. Ele não estava esperando grandes coisas, mas no fim ficou um pouco amargo porque foi o companheiro dele (Marco) que o tirou, um cara que teoricamente tem o mesmo equipamento e estava virando mais ou menos igual, que de repente achou 1,5 milha no carro. Eu já estava esperando mais que ele. Mas, confesso, que só de estar aqui já está bom.

Comentários

  • Afirmar que “corrida é política” nesse caso é choro de perdedor, me desculpem…

    Que culpa Danica e Marco tem de ter a competência de se classificar?

    Mandou mal agora Rapha Matos, muito mal!