Os sinais de Magdeburgo

MAGDEBURGO | O périplo para cair nesta região que pende para o nordeste da Alemanha começou por São Paulo e um encontro com Eduardo Suplicy, que era o claro sinal de algo, porém ainda não tão claro. O senador estava lá na sala especial do aeroporto e caiu, como se tivesse sido pelo corpo tutelar da escola, na mesma fila do avião que partiu em direção a Munique. Não foi muito incomodado, o pobre, afinal a maioria daquela gente que embarcou não tinha traços muito comuns aos nossos, corroborados pela língua arrastada que desembestaram a soltar.

Fiquei do outro lado só de olho em Suplicy, que não largava o celular enquanto lhe era permitido conversar, e depois no calhamaço que tirou de sua pasta, como se estivesse lendo o último ensaio de uma possível palestra ou de uma reunião que secretamente teria em terras teutônicas. O bom jornalismo talvez me fizesse sair ali da poltrona H para ir à A só para cumprimentar aquele que considero um dos únicos remanescentes da política limpa e fazer uma série de perguntas para o ‘Portas em Automático’, seção aeroportuária rara, possivelmente exclusiva, que criaria no blog para ter o senador. Entre uma Warsteiner e outra, rabisquei até uma pauta. Só que as aeromoças vieram com mais coisas, o jantar e tal, e ao fim dele, Suplicy tratou de apagar a luz, esticar-se na poltrona e colocar aquela venda tapa-olho de cinema e novela para ter o descanso dos justos.

Para quem nunca havia saído da América, a parte de cá da Europa é um conglomerado de partes verdejantes com microrregiões habitadas de forma civilizada. Olhando por cima, vê-se que as cidades tem às vezes quatro ou cinco ruas estreitas que desembocam em uma principal e um comércio de subsistência. Nem se percebe que há uma cidade grande quando o avião inicia o processo de aterrissagem na cidade do Bayern. Mal dá tempo de ver como é Munique; Berlim chama; Suplicy não vem junto.

Também dá para falar pouco da capital que muitos têm como a melhor do mundo. Novamente por uma visão superior, é de se admirar, mesmo. Parece que tudo funciona. O aeroporto é um sinal disto, e logo a caravana que tem também Larissa Nicolau, Alex Ruffo, Juliano Barata e Leandro Alvares seguiu rumo às proximidades do circuito de Oschersleben.

A cidade que nos acolheu é Magdeburgo, sem o ‘o’ na grafia deles. O hotel fica numa região central, com nome impronunciável, e ao chegar ao quarto, chego a uma conclusão importante: a Alemanha é um país de poucas tomadas. Seria de bom grado que a sra. Merkel tomasse providências urgentes. Tal como a internet, que funciona por períodos de 10 horas na base do cartão. E é esse o país que sediou a Copa de 2006.

A catedral evangélica/luterana de Santa Catarina e Maurício, com mais de 100 metros, que passa por um processo de restauração

Neste contexto, Magdeburgo se apresenta com uma infinidade de prédios de média altura, mas comprimento extenso, e uma mesma característica de fachada, com janelas em formato de sacadas, divididas ao meio. É uma clara evidência da presença soviética nesta parte oriental da Alemanha: o comunismo que deixava todos no mesmo pé e que punha fim a grande parte do passado. Magdeburgo foi destruída tanto durante a Segunda Guerra quanto o pós-conflito, perdendo grande parte de seu histórico barroco e de suas construções do início do século passado.

O pós-guerra também mudou esta parte da Alemanha em termos de povos, e a miscigenação é clara quando se sai às ruas de calçadas largadas e permissivas aos ciclistas, divididas pelos bondes que vão e vêm rigorosamente no horário. O ‘La Perla’ é um restaurante tipicamente italiano ao lado do hotel. Do lado de dentro, saem dois garçons que soltam com sotaque as boas vindas. Ao primeiro, basta um olhar rápido na napa para saber sua procedência. “Me chiamo Maurizio”, e entregando a weissbier de meio litro, gelada e encorpada, logo diz que é da Sardenha, tifoso di Cagliari, “quente como o Brasil”, e o outro, mais calado, jambo e com barbinha suja, é da região árabe da África, de Túnis. A torre de Babel se completa pela gerente do ristorante, cubana.

A pizza era individual, pelo que entendemos no cardápio. Aí eu e o Alex Ruffo, da Speedway, pedimos uma cada. Veio isso...

Os prédios que serviam de morada para as gerações anteriores ou foram totalmente reformulados ou estão em vias de. O consumismo chegou forte nesta região da Saxônia, e nas partes térreas destas construções se encontram exemplos globais desta volúpia, como o McDonald’s e a C&A, além de shoppings que remetem ao famoso Macy’s americano. Enquanto isso, as ruas nunca lotam: é uma impressão eterna de um domingo em uma cidade do interior brasileiro, o que me faz ficar curioso para saber o que se faz de domingo aqui.

Perto das 20h por aqui, a noite cai, e com ela, a temperatura despenca junto. Parece que o verão já acabou por estas bandas, e o povo torna a tirar de seus armários as blusas e complementos protetores. Depois do primeiro sinal, bom, todos os que vieram apontaram para o que tudo se fala da Alemanha: um primor.

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