Os 23 dias de Razia

SÃO PAULO | Logo depois do desenrolar dos atos que culminaram no término do contrato e na reposição de Jules Bianchi que chamei Razia para uma conversa. “Gostou da novidade?”, ainda disse. Luiz ainda se refazia do momento, que lhe era, sim, novidade. Enquanto recebia a ligação da Marussia, a imprensa já dava sua saída. “Fiquei surpreso”, confessou. E daí o baiano passou a contar o que foram seus 23 dias como titular, as negociações com a equipe com a qual fechou “porque era o que dava”, a Lotus, a Force India, os investidores que teimou esconder, a carreira que quase largou para ser engenheiro mecânico e a volta por cima — que vai precisar dar novamente. A entrevista, dividida em três partes, está aqui.

Razia sabia que o desfecho seria este, daí seu conformismo. Porque todos os esforços que ele e sua equipe fizeram nos últimos dias para honrar o pagamento da segunda parcela seriam em vão — se os patrocínios não vieram nos projetos nos últimos meses, não surgiriam no estalar dos dedos e na pressa. Se em um primeiro momento, Luiz avaliou que tudo foi feito de forma correta, depois, ao se deixar expor mais, admitiu que vai precisar sentar para ver “onde foi que erramos” e por que não foi feito um plano B.

O que impressionou nos bons minutos de conversa foi a serenidade com que tudo foi tratado e a maturidade de um rapaz que poderia sair atirando para todos os lados e chorar todas as pitangas possíveis, mas que tem a consciência de que deu errado, de que o “tombo foi duro”, mas que é possível se reerguer, trabalhar e conseguir voltar à F1.

E para isso, que novamente fique bem claro, Luiz tem de trabalhar com gentes claras e sólidas, que não precise escondê-las sob a cortina da ética.

Comentários

  • O circo ficou muito caro. Numa economia global com problemas de recessão e desemprego a coisa tá fora de lugar. O orçamento da McLaren dá pra pagar quantas equipes de Nascar ou de Indy? Eu não tenho esses dados, mas provavelmente uma grande parte do grid destas categorias poderia alinhar somente com a grana da McLaren. Isso, num continente onde a França, potencia economica, não consegue ter o seu GP, virou brincadeira de sheik. Se houver outro mergulho como o de 2008, provavelmente dançam Force India, Marussia, Caterham e talvez a Lotus que está hoje sem patrocinador principal. Vamos pegar a despesa da McLaren nos ultimos cinco anos só em desenvolvimento aerodinamico. Zilhões pra que? Pra fazer curva a 270 km/h? Qual o benefício disso para a industria? Zero. Ou melhor, dividam a grana da venda de todos os superesportivos pela grana dos carros comuns e vai dar 0,00000001. É só circo.
    Conclusão brilhante, mudança de paradigma:
    Tem que tirar os aerofolios dianteiro e traseiro. Aderencia mecanica. A coisa vira um kart com 800 hp. Vai fazer curva a 270 por hora? Não. Mas vai ter que gastar dinheiro em suspensão, em pneu, em freio, em novos materiais, em cambio, em tecnologia híbrida e assim por diante. Abrem-se novas frentes de pesquiza, o que irá beneficiar a industria como um todo. Se continuar do jeito atual, é apenas um circo muito caro.
    E tenho dito.

  • Uma pena. Boa pessoa e piloto competente. Mais um bom valor que será vitima dessa Formulas 1 que vende seus cockpits.

    Nao adianta virem dizer que “antes era assim”. Logico que era, mas ha muito tempo nao se veem tantos bons pilotos fora da categoria pq nao levam (muito) dinheiro. Ta na hora de trabalharem para diminuir esse acontecimento. Tem muita gente boa ficando de fora, e Razia é apenas mais um deles!

  • Vale o comerçial..
    Faisca, não esqueça de levar seu Mater card…Nunca…Olha fica triste não, a grana que faltou deve ser pq não tinha any cash….
    Mastercard..
    Se não assinou, é pq não pagou simples…
    VM, blogs dos bons….

  • Parabéns à você, à equipe do site, e principalmente, ao próprio Luiz Razia, porque eu sinceramente duvido que outros pilotos tivessem coração aberto para ter uma conversa sincera com um veículo de comunicação que os criticou como o Grande Prêmio fez. Isso demonstra uma atitude madura, de pessoas maduras, tanto de um lado quanto de outro. Quem dera fosse assim em mais lugares.

      • Entendo, tem a ver com o site ser um campo de exposição de idéias e opiniões dos jornalistas contidos nele. O que me deixa admirado é que o piloto, a figura central da polêmica, agiu de forma aberta, mesmo estando em uma posição que o coloca no centro de um questionamento. E também que vocês jornalistas tenham desenhado uma linha bem clara sobre tudo isso e que consigam superar essa coisa que existe entre o elogio constante e a devida apuração dos fatos que uma imprensa responsável faz. Não posso dizer muito, mas esse tipo de interação não costuma acontecer normalmente no Brasil nunca.