É só o começo

SÃO PAULO | Fui um dos últimos a deixar a Paulista, certamente. Limpa e molhada pelos caminhões-pipa, voltava a ter a vida silenciosa da madrugada ainda carregada pelo maior barulho coletivo que nossa geração fez. A manifestação deixou a polícia petrificada em seu posto e sem sua ação repressora e não deixou rastro algum de vandalismo. Ao mínimo sinal dele, ainda que sempre diminuto, os demais tratavam de coibir. Do Largo da Batata à Berrini, da Brigadeiro ou da Casa Branca, as massas infladas empunhavam as mensagens e seus coros ecoavam os brilhos nos olhos fixos de quem jamais esperava que fôssemos capazes daquilo.

O prédio em construção foi usado como telão, a aglomeração chegou a fazer uma coreografia de agachar e levantar simbólica, o caminho encontrou ônibus parados com as gentes que até traziam seus protestos escritos, as bandeiras brancas eram agitadas nas janelas de quem não foi pra rua, e vem pra rua, vem pra rua, vem porque a rua se encheu da gente que tinha uma proposta de transformar esta terra em um lugar melhor, e mesmo a gente que se encheu de nós houve ou teve de entender. De cada lado surgiam vários grupos que se mesclavam e formavam o mesmo lado, o nosso lado, o lado que foi dividido em dois rumos para difundir os desgostos a quem geralmente desgosta e destoa neste globo, e depois voltou a se encontrar.

E a cada reencontro, os aplausos se seguiam como se a passarela recebesse o seu maior desfile de astros, brilhantes e reluzentes na noite que não deveria nem podia ter fim. A cidade que não para parou e, enfim, foi símbolo de um país que não é a Turquia nem a Grécia, mas que decidiu sair da inércia. A cidade que lida com suas brutais diferenças demorou, mas enfim deu um orgulho profundo que não há meio de se esvair se mantiver o mesmo patamar daqui pra frente e alcançar outros objetivos após este primeiro. A gente  vive a História, e já está se dando conta disso porque estamos fazendo a História.

A Paulista vazia ainda tinha nossa alma e as almas de quem nem mesmo chegaram a ela. Ali estavam as almas de Juliana, Fábio, Talita, Luciana, Sofia, Daniela, Cesar, Eder, Esther, Diego, Gustavo, Renan, Gabriel, Gabriela e Gabriela, Rodrigo e Rodrigo, Guilherme e Guilherme, e todos os nomes, todos os anônimos e todos os populares. Ali estávamos todos nós, centenas de milhares, até os todos que não foram, para mostrar que é, é só o começo.

É só o começo.

Comentários

  • Quando seu filho passar mal leve em um estadio
    Quando seu filho passar mal leve a um autodromo
    Prova de cidadania mas estão pedindo o que mesmo ?????
    O Brasil deve sim promover a Copa, Olimpiadas, F1 e por ai em frente
    O retorno financeiro para o pais é sim positivo isto sem falar na imagem divulgada
    O pais melhorou muito e a corrupção não aumentou, o que mudou é que agora quem estava metendo a mão não teve a proteção da midia e vc pateta da Paulista ficou sabendo

  • Victor tem como postar fotos da repressão policial na década de 70 e agora? Parece que agora tem mais gente na rua e mais pancadaria.

  • o PT está agindo pior que o governo militar. Só falta o Flávio Gomes postar receita de bolo no warmup. Belo texto Victor.

  • VALEU BRASILEIROS E BRASILEIRAS PELO MOVIMENTO EM PROU DE UM PAIS MELHOR PARA SE VIVER, PARA QUE POSSAMOS REALMENTE ACREDITAR QUE HAVERA UM PAIS MELHOR PARA NOSSOS FILHOS NETOS . VAMOS EM FRENTE POIS O MOVIMENTO NÃO PODE PARAR.

  • Olha, muito legal tudo isso que está acontecendo, nunca achei que iria viver para assistir aquele mar de gente invadindo a Faria Lima. De longe, mas parecia uma cena de Walking Dead. Só que mais importante do que o recado dado para a cena política, na minha humilde opinião, é que isso seja inspirador, para que as pessoas se dêem conta que isto aqui não pode ser o país do jeitinho. Porque no fundo, a atitude dos políticos nada mais é do que reflexo do que as pessoas fazem no seu cotidiano. A diferença é que eles têm a obrigação funcional e moral de zelar pelo bem estar do povo. Como o rapaz disse acima, de nada adianta cobrar isso e aquilo dos políticos, e não fazer a lição de casa. Ser o mais esperto, dar aquele incentivo para o fiscal, costurar o trânsito em alta velocidade, dar aquela gorjeta para liberar a TV a gato, parar na vaga de deficiente só por 5 minutinhos, ir pelo acostamento porque não é otário, não devolver o troco errado, colocar o dedo em riste e perguntar se o outro sabe com que está falando, etc, etc, etc. Tomara que, nem que seja um pouquinho, as pessoas percebam que não é preciso ser o espertão para vencer na vida, que suor e dedicação fazem valer bem mais a pena… Aliás, tem mais de uma notícia no site que chama o Anthony de Alex Davidson. Isto está certo?

  • AnonymousBrasil, as suas 5 “causas” estão mais para 5 objetivos midiáticos e factuais do que uma mudança estrutural. Gostaria de sugerir essas novas “causas” mas agora mais abrangentes:
    1) As PECs deverão ser decididas por voto popular – plebiscito;
    2) Fim de reeleição para presidente, governador, prefeito, deputado, senador e vereador;
    3) Voto distrital;
    4) Financiamento público de campanha;
    5) Antecipação das eleições de 2014 e 2016 sem reeleições;
    6) Os ministros do STF serão escolhidos por voto popular e não indicação do presidente.
    7) os conselheiros dos Tribunais de Contas serão funcionários de carreira e não indicados do executivo.
    8) Proibição de propagandas de governo e/ou estatais nas mídias.
    9) Novo pacto federativo no qual os recursos fiquem nos municípios e não com a União.
    10) Fim da aposentadoria especial para o funcionalismo público

  • Grande relato Victor! E grande exemplo vcc vem dando para este site! Pena que tem alguns ( FG) que ainda tentam defender este governo federal, e que adora adorar o Lulao! Ate que enfim acordamos e fomos para rua brigar por um país sem esta corja no poder. (PT, PsDB etc, sao todos farianha do mesmo saco) precisamos continuar a pressionar estes canalhas para que eles realmente tenham medo da rua e do povo, e comcem a governar para o povo e nao para eles como eles fazem a 500 anos!

  • Legal as manifestações e tal. Só gostaria de fazer algumas considerações que acho válidas:
    1° Ainda bem que NINGUÉM que está participando ativamente das passeatas compra Cd/ Dvd pirata e acha que tá fazendo grande coisa, pois, se contrário for, é um grande CARA-DE-PAU;
    2° Ainda bem que NINGUÉM que está participando ativamente das passeatas fuma um baseadinho e tal, ou dá uns “tequinhos” de vez em quando ou quase sempre. Se contrário for, deveria é estar NA CADEIA por ser o maior fiador da violência que vemos por aí. CANALHAS esses maconheiros e cheiradores;
    3° Ainda bem que NINGUÉM que está participando ativamente das passeatas, compra mercadoria sem nota fiscal;
    4° Ainda bem que o AUTOR do tópico não faz nada disso………..

    Curiosidades:
    Por quê não estão protestando contra os traficantes, estupradores, pedófilos etc?Será que eles estão no meio dessa passeata?

  • O problema é essa falta de direcionamento, tem que dar nome aos bois. Existem muitos problemas políticos e várias razões para protestar contra essa classe.
    Mas do jeito que está sendo feito, até o Feliciano se acha no direito apontar os alvos da manifestação, excluindo-se, obviamente.

    Realmente é hora de tomar cuidado, vários integrantes da mídia e políticos safados estão tratando de pautar as reivindicações aos seus interesses.

    Por mais que se tenha a reclamar deste governo federal e suas trapalhadas, não é possível direcionar tanta revolta a ele, já passamos por muita coisa pior nos governos anteriores com F.M.I. ditando as regras e extorquindo juros abusivos, dólar batendo nos 4 reais, disparada da gasolina, juros altíssimos. Era inimaginável tantas pessoas de baixa renda comprando casas e carros financiados há 15 anos.

    Ao meu ver, faltam cartazes e faixas claros contra esse congresso cheio de ratos, que votam e aprovam absurdos na surdina, que cobram contrapartidas do governo para aprovar projetos de interesse de todos nós. Que rejeita destinação dos royaltis do pré-sal para educação. Que querem a todo custo se safar das investigações e condenações, para continuar roubando sem importunos. Cadê o fora Genoíno, Calheiros, Feliciano (não só pelos preconceitos, mas principalmente pela extorsão pública que faz com fiéis), Sarney.

    Não faltam nomes a serem apontados. Nem pautas, só precisam apontar claramente.

  • É importante uma boa dose de ceticismo sim!

    É bonito ver e participar dessas manifestações? Sem dúvida.

    Mas mais bonito é ver resultados concretos depois disso tudo.
    E não apenas resultados concretos feito pelos políticos, mas por nós mesmos, por nossas consciências e com boa dose de maturidade política.

    E um resultado concreto precisamos alcançar logo: não nos iludirmos com a perfeição, pois ela não existe.
    Não construiremos um Brasil perfeito, sem nenhum defeito, sem nenhum problema, mas podemos ter um país bem menos imperfeito, com bem menos problemas.

    Outro resultado concreto que precisamos alcançar, é não se iludir que “derrubaremos a classe política”. Isso não existe em nenhuma democracia do mundo, alguém conhece uma democracia sem partidos políticos, sem figuras políticas?
    O que podemos fazer é melhorar (e muito) a qualidade dos políticos e dos partidos que já existem. A cobrança sobre eles, a pressão popular, é fundamental para que eles não se acomodem e busquem se aperfeiçoar, para não ficarem para trás. É a lei da concorrência. Vacilou, a fila andou.

    Mas essa pressão popular que reivindica reformas no país, não pode ser tão difusa, tão sem rumo, pois não chegaremos a lugar algum. Por hora querem a redução das tarifas de transporte público, um belo motivo, e que parece que vai ocorrer devido a essa pressão popular, seja hoje, amanhã ou semana que vem. E depois, vão querer mais o quê? O fim da corrupção? Um belíssimo tema, mas a questão mais importante é: COMO se dará o fim da corrupção?
    Só uma reforma política profunda pode solucionar a questão. Não vamos erradicar a corrupção por completo, ela certamente vai continuar existindo, mas em uma dimensão bem menor, e com risco pequeno de impunidade. Portanto, mais uma vez devemos pensar com os pés no chão.
    E quando cito reforma política, devemos começar pressionando o Congresso para que aprove o modelo que proíbe o vergonhoso financiamento privado de campanhas eleitorais, germe que contamina nossa política com o poder do dinheiro. A política deixa de ser praticada através das ideias, e passa a ser praticada através da força da grana, por empresários que cooptam políticos com gordas doações.
    Nesse modelo velho e falido, a política é mais praticada em escritórios empresariais do que nas ruas, nas casas, nas escolas, e outros lugares na qual circulam pessoas comuns. São elas que precisam ser incluídas no modelo político institucionalizado.

    A cobrança sobre a classe política tem que ser permanente, e é por isso que o caráter pacífico das manifestações de rua pode, e deve, ser uma rotina eterna em nosso país a partir de agora. Mas imaginar uma ruptura institucional, querendo impeachment deste ou daquele governante (seja da instância municipal, estadual ou federal), sem comprovado ato ilícito respaldado por lei, ou violação constitucional, é pura infantilidade política, de quem desconhece o funcionamento da democracia.

    Precisamos ter uma exatidão maior do que queremos, mas também de COMO queremos. E pensar que somos muito heterogêneos em nossas visões políticas, precisamos encontrar o meio termo, o equilíbrio, e só com maturidade política alcançamos isto.

  • Como já comentei em outro blog, não vai adiantar de absolutamente nada essas manifestações, se nas próximas eleições o povo votar novamente nos mesmos “caras” de sempre (caras entre aspas, pq tem mulher no meio…).

    Vai continuar a roubalheira, os desvios de dinheiro publico, a impunidade de políticos safados…

  • Há uma sede latente na nossa geração (os nascidos de 70 pra cá) de contribuir com um momento ímpar, de ir às ruas, de fazer um pouco da história. Crescemos ouvindo o discurso heróico dos que lutaram contra a ditadura, suas narrações de perseguições e lutas, e da quase dependência que tínhamos e temos em agradecer ao seu passado por tudo que temos e desfrutamos hoje, de um filme no cinema à possibilidade de expressar-se em um blog, não esquecendo é claro a conquista eterna e intocável da quase indiscutível “liberdade de expressão”. Pelos muitos cartazes exibidos nas manifestações via-se que sequer temos ainda as nossas próprias frases de protesto e indignação. Ainda usamos muitas da “geração de ouro” do engajamento político, embora o personagem da HQ V de Vingança já seja uma unanimidade passeatas afora. Devemos desde que nascemos a nossa semana de “Primavera Árabe”. Pesquei hoje de um comentário no Facebook uma frase significativa no post de uma estudante que acabara de voltar das ruas: “Orgulhosa de ter participado, o motivo já não importa.”. É claro, a frase já estava recheada de centenas de “curtidas” engajadas. Creio que ainda haverão outros destes momentos no qual “a história acontece”, sempre seguidos de períodos em que nada, absolutamente nada acontecerá. É natural – não se acorda de repente de um sono letárgico de décadas. A maioria de nós teve aulas de Educação Moral e Cívica no colegial e apesar de não darmos a menor bola, também não aprendemos o que exigir, como e quando. Lutamos contra o governo estudando para o próximo concurso público que nos fará mamar nele também. Ainda vive-se muito de posicionamentos extremos, tanto para a acomodação como para a ação. A todo um jogo aí no meio que precisamos aprender porque e como jogar. Não considero que “o gigante acordou”, seja lá o que querem dizer com isto. Mas está sonâmbulo, e começar a falar dormindo já é melhor do que nada.

  • Poxa! fizemos o mesmo caminho e eu nem te vi por lá! talvez por nunca ter te visto e essa fotinha ai de cima ser meio mentirosa, mas tá valendo! Foi só o começo, e só duvida quem ficou vendo do sofá!

  • Na verdade o começo já passou, estão quase na metade. Quando acabar a copa das confederações, os protestantes somem para só voltar ano que vem na copa.

    Quando nesse país se viu o povo se organizar e estourar assim? Teve o “Cansei”, teve o mega protesto organizado pela internet que reuniu 6 pessoas no Masp… e ninguém deu bola.

    Hoje, um moleque de 17 anos convoca os caras no Facebook e uma multidão invade o Congresso? Faz favor vai, não sejamos inocentes! Por que logo agora (com toda a mídia internacional voltada para nós)? Por que por um motivo tão besta? Já tivemos tantos motivos piores para protestar (Renan Calheiros, por exemplo) e ninguém saiu às ruas.. Está mais que óbvio que tem coisa muito grande por trás disso tudo. É o golpe de estado na era da tecnologia. E o povo, coitado, que acha que está lutando por ideais (cada dia um ideal diferente, é bem verdade), está sim é servindo de fantoche.

    Meu medo não é de ver onde isso vai parar, e sim quem é que vai se beneficiar com isso tudo. O povo, pode ter certeza, que não é.