Fim de feira

SÃO PAULO | Acompanhar um treino da garagem da equipe dá uma noção e uma perspectiva das coisas bastante diferente do que ver do sofá de casa ou da sala de imprensa mesmo. É verificar como um trabalho é meticuloso e detalhista também em questão de segundos ali para os mecânicos e cúpula da equipe. É uma orquestra cujo som é amplificado à máxima potência pelo forte barulho do motor — principalmente na redução de marchas. O sábado que passei nos boxes da Williams a convite da Pirelli é um tipo de experiência que talvez se perca nas palavras, mas que em breve hei de passar aqui e no Grande Prêmio.

Foi de lá que vi o absurdo tempo de Vettel no demorado Q3. O que esse rapaz tem andado e dominado a F1 abre bocas e balança cabeças até dos funcionários rivais que nem com ele brigam por posições na prática. Foi só uma volta necessária para entubar a galera e colocar 1s2 de início. Rosberg diminuiu o vexame em seu giro final para conquistar o segundo lugar. Sebastian gritou olê, depois se desculpou por ter se enganado, sem saber que olê ou olé é palavra universal, sorriu, riu, venceu.

E sobre a demora no Q3, bem… falaram em chuva torrencial, em chuva moderada, em chuva forte, em chuva que vinha da represa, em chuva qualquer predicado. Véi, não tinha chuva alguma. Era uma garoa constante que permitia a prática do automobilismo verdade com pneus específicos para aquela condição — os tais wets. Parar uma classificação por 40 minutos é um zelo e até um desrespeito com quem tá lá nas arquibancadas, com os pilotos e com as equipes. Se realmente há uma perda de audiência global da F1, a lista dos itens contém a frescura com que a FIA trata a categoria quando a pista está molhada.

A previsão para o domingo à tarde é de chuva, oh!, 40%, mas em situação semelhante à vista neste sabado. Quer valer quanto que vão desistir da largada normal para colocarem o safety-car e seu frufru ali na frente? É uma bosta, em suma.

E a primeira classificação sob chuva do ano apresentou um grid normal, sem muitas surpresas. Dá base ao que o próprio pole/campeão falou, de que não há mais muita diferença entre acerto entre as condições de pista seca e molhada. Talvez Alonso tenha conseguido no bom braço um terceiro lugar irreal para a realidade da decadente Ferrari, mesmo com um erro confesso. Webber em quarto, coitado, vai vazar sem ganhar. Hamilton não tem o melhor dos carros, assumidamente, então não se deve esperar muito do pobre. De Grosjean, sim, há um espaço bom para evolução e busca por lugar ao pódio. Das Toro Rosso se ouviram palmas a Vergne e Ricciardo. E Massa não foi lá muito bem. Deve ser a emoção. O domingo, sem eufemismos, será foda ao brasileiro.

No caso da Williams, não havia muito o que comemorar. Maldonado caiu logo no Q1, saiu do carro, ficou olhando para a tela dos tempos, foi acompanhado por um mecânico em direção ao cercadinho de imprensa, ninguém se preocupou. Quanto a Bottas, o tratamento é outro: 13º no grid, recebe atenção especial, beijo de Claire Williams, conversa, se dedica a passar informações, está em casa.

Onde estiver, o público quer acompanhar aquela corrida que se espera só de Interlagos: bagunçada, maluca, acidentada e intensa. Diferenciada das demais. Para dar fim a uma temporada que já deu seu recado. Para encerrar um campeonato que se tornou monotemática por conta de um regente uno e dominante. E que vai engatar a nona vitória consecutiva para aplauso geral merecido a quem sabe como poucos guiar um carro de corrida.

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