Quem vai pro samba

SÃO PAULO | Quem queria um chacoalhão na F1 para quebrar o domínio de Vettel e da Red Bull está sorrindo desbragadamente. Já foram duas semanas de testes, ambas diferentes entre si em suas características, e já é possível dizer que apostar no pentacampeonato é uma ousadia – e até uma burrice. Não é nem pelo trabalho da equipe, mas a Renault errou a mão na concepção de seu V6 turbo. E tal como uma questão aerodinâmica, leva um tempo para que a montadora resolva todos os problemas de sua unidade para alcançar quem vem à frente, no caso a Mercedes.

Jerez é um circuito prioritariamente de baixa com uma reta mediana e apresentou temperaturas baixas e chuva em alguns momentos. Apesar de agora ter oito marchas, os carros mal chegavam à sétima com a configuração atual. Sakhir está sob o deserto, com temperaturas acima dos 20ºC e com seu teor tilkiano. Não teve um santo dia dentre os oito que a Red Bull passou incólume às falhas. E por mais que a tecnologia seja brilhante e avançada, não faz milagre. Os quatro próximos dias no Bahrein serão fundamentais para que os taurinos não cheguem na Austrália para fazer um papelão. O trabalho conjunto com a Renault nunca foi tão necessário. E os franceses, por sua vez, não podem se debruçar apenas sobre os atuais campeões porque há uma Lotus, uma Toro Rosso e uma Caterham que pagam, e muito, por seus propulsores.

No começo do ano, Button sugeriu que as equipes empurradas pelos Mercedes trabalhassem juntas. Talvez Vettel deva implorar por isso entre os usuários do losango. É o que acontece abertamente na Caterham, que abriu mão de seu desenvolvimento para ajudar a Renault. Kobayashi bem viu que a diferença dos motores chega às vezes a 30 km/h na reta. É absurdo.

O caso remete à Indy em 2012. A Lotus – que acaba sendo esta mesma da F1, na mescla confusa entre as divisões que acabou fazendo – resolveu se aventurar como fabricante de motores e se tornar a terceira via contra Honda e Chevrolet. Os motores eram os turbo de 2,4 L e empurrariam os carros da Dragon, DRR, Bryan Herta e a HVM de Simona de Silvestro, além de promover a volta de Alesi, embaixador da Lotus, ao automobilismo para disputar a Indy 500. Logo em St. Pete ficou claro que faltava potência. Às vésperas da principal corrida, três destas equipes se livraram dos motores e assinou com a Chevrolet. Simona e Alesi se arrastavam nos treinos, e o papo de que poderiam ser excluídos da corrida caso representassem perigo aos demais se confirmou na prática após parcas nove voltas. A HVM aguentou até o fim do ano, quando a Lotus resolveu abandonar o projeto. É uma prova que, por mais dinheiro e recursos que se tenha, não é tarefa simples achar a pólvora.

Pelos números apresentados em Sakhir, principalmente, os motores Ferrari também precisam de um ajuste maior para render como os Mercedes. Assim, a equipe homônima não vem com pinta de quem briga pelas primeiras posições nestas primeiras etapas fora da Europa. Alonso e Räikkönen devem se misturar com Force India e Williams pelas posições intermediárias da zona de pontos. A Sauber parece ter errado de novo a mão no nascimento de seu carro e a Marussia, coitada, até vírus de computador a afeta.

Os oito carros abençoados com Mercedes partem com larga vantagem, sobretudo Mercedes e McLaren. São aqueles que não têm problemas e andam rápido com constância. O cenário indica que dificilmente o título saia das mãos de Hamilton, Button, Rosberg ou Magnussen – este, então, tirou a sorte grande. Force India e Williams precisam só acertar uma ou outra coisinha: os carros são bons.

Na semana que culmina com o Carnaval, a F1 já sabe que a rainha de bateria tem uma estrela que samba na cara da sociedade. Os ensaios que ainda restam vão servir para, principalmente, ver se os touros e os cavalos ficam na dispersão ou o quanto tentam dançar no mesmo ritmo.

Comentários

  • A chacoalhada foi boa mesmo e a Renault vai ter que mostrar porque são os atuais tetracampeões. Newey mais uma vez deve ter feito um carro no limite do regulamento e isso impacta na confiabilidade. O motor francês claramente tem problemas, porém o RBR não deve ser um exemplo de confiabilidade, nestes momentos os bons aparecem, vamos ver se são tudo isso mesmo.

    A Mercedes é favorita desde já mas a briga vai ser próxima com certa vantagem para o Lewis, mas Rosberg não é o companheiro dos sonhos porque vai roubar pontos e vitórias preciosas.

    A Mclaren parece ter ligeiramente o melhor carro no momento enquanto os alemães tem o melhor motor com um carro também muito bem feito.

    A Ferrari pode surpreender mesmo, mas a briga por lá também vai ser de foice no escuro. Alonso ganha do Kimi mas com certa dificuldade. Se o carro for bom e brigar por vitórias com frequencia, aposto minhas fichas no título para o espanhol.

  • VM….Boas tardes,,,
    Olha, podem pegar todos os pilotos e teams.. junta mesmo, unta na mesma forma, e não esquece do linguinha plesa, e ainda dou 5 voltas, para a esquadra gemanica socar segundos nessa pataiada…
    Só mesmo uma daquelas cagadinha, pode fazer a Mercedes perder esse ano…..kkk
    Podem aposta..rss

  • O problema não é exatamente do motor Renault e não podemos dizer que eles erraram a mão. O problema é conjunto motor Renault mais o projeto do carro RedBull. O encapsulamento do motor e todo o conjunto mecânico é extremamente agressivo. Tudo extremamente compactado gerando grande dificuldade para refrigeração. Por isso outras equipes com motor Renault, mesmo sendo nanicas, conseguiram andar mais que a RBR. Além disso, com o design arrojado da RBR existe uma maior dificuldade para acessar e consertar possíveis problemas, incluindo o sistema ERS que foi desenvolvido pela RBR.
    O fato é que eles ainda estão andando com a potência do motor reduzida e não é possível comparar realmente os motores nesse momento.
    Mas o ponto é que realmente as equipes com motor Mercedes estão na frente, com um bom motor e um bom sistema ERS e considerando a confiabilidade demonstrada até agora.

  • Ainda acho que Mercedes e Mclaren podem ser dúvidas… 1ª a Mercedes, se ela conseguir se firmar como uma equipe boa para corrida (ano passado, no treino era uma maravilha, na corrida nem tanto), já Mclaren a dúvida fica pelo desenvolvimento do motor que será o último ano com a equipe de 3 pontas… Acho que a Ferrari tem grandes chances, mesmo com um desempenho discreto nos treinos… pode surpreender e ser ótima em corrida…

  • VM, mais uma vez perfeita a sua análise!
    Apenas um reparo, se me permite, pode apagar meu post depois de lido.
    No assunto “Indy”, o correto do ponto de vista gramatical seria “e assinaram com a Chevrolet”.
    É isso, sei que por vezes o tal do corretor automático nos prega peças que acabam por passar desapercebidas.
    Pode até parecer preciosismo, mas tenho certeza de que concorda com minha colocação.
    Abraço.
    Zé Maria

  • Mas no caso da Lotus na IndyCar em 2012. Os problemas aconteceram porque a Judd que foi contratada pela Lotus para fabricar e desenvolver o motor não recebia os pagamentos em dia da Lotus e eles demoraram para desenvolver o motor enquanto que Chevrolet e Honda já tinham mais de 5 meses de quilometragem com os Turbo V6. A Lotus só botou o motor para funcionar em Janeiro. A Renault ainda pode consertar a cagada que fez porque tem recursos para tal coisa. É dar o tempo ao tempo.