O maniqueísmo dos testes coletivos

SÃO PAULO | Finalmente, meu povo, é hoje que a bagaça retorna aos nossos olhos. Todo ano, a gente fala que a expectativa é grande, mas nunca antes na história desta categoria, pelo menos nos últimos cinco anos, a expectativa tem sido tão grande assim. Primeiro porque muda tudo, e até todo mundo se ambientar – nós e eles –, vai um tempo; o novo sempre atrai. E porque, para Brasilino Pacheco e os torcedores locais, Massa aparece com boas chances de se dar bem, nessa Williams à la Brawn pintada de Martini – o retrô sempre atrai.

E neste maniqueísmo de atração é que vamos verificar se os testes de pré-temporada enganam ou trazem a realidade. E, sim, os resultados destas primeiras semanas de treinos também provocam uma dicotomia. Eis um levantamento dos últimos cinco anos:


Mercedes e até McLaren apareciam bem nos testes de 2013, que escondiam Vettel

Quem apenas olhasse para os tempos de volta jamais cravaria que Sebastian Vettel teria vida fácil na temporada do ano passado. A última rodada de testes coletivos, realizada no mesmo período deste ano, mas em Barcelona, havia colocado a Mercedes como a mais rápida dentre todos, sobretudo nos dois dias finais, liderados por Lewis Hamilton e Nico Rosberg, respectivamente. Eram programas diferentes realizados por Red Bull e Mercedes, é verdade, mas a diferença no cronômetro se fazia exorbitante aos olhos de que nem estava preocupado com isso: quase 2s4 entre os alemães das mencionadas equipes.

Na sessão da semana anterior, também rodada na Catalunha, Sergio Pérez punha a McLaren como destaque no agregado dos tempos. Fernando Alonso, Nico Hülkenberg — então na Sauber — e Romain Grosjean apareceram na frente de Vettel. Quando andaram em Jerez pela primeira vez com os carros de 2013, Felipe Massa e Kimi Räikkönen — que corriam por Ferrari e Lotus à época — dominaram as sessões. Vettel foi novamente o quinto no geral.

Räikkönen começou o ano na Austrália com vitória, Massa teve bom desempenho naquela prova junto com Alonso. Vettel sofreu para ir ao pódio. Melbourne, na verdade, ficou fora da curva do campeonato, e só a Mercedes teve lampejos de grandiosidade confirmados na primeira metade da temporada. Os testes — ainda mais considerando o que foi a McLaren e o início da Sauber — só se fizeram valer, mesmo, na Austrália. De resto, camuflaram.

Campeão de 2012 saiu da pré-temporada em que posição? Isso mesmo, último

A temporada retrasada teve sua decisão excepcional – mais uma – em Interlagos, com a presença de uma garoa que ditou o ritmo da prova. No fim das contas, Vettel arrancou para o título com uma sequência de vitórias na segunda parte da temporada – não como a do ano passado – e bateu outra vez Alonso. E pensar que o alemão foi o último colocado da última sessão de treinos daquela pré-temporada em Barcelona, enquanto o espanhol tomava tempo de Lotus (Räikkönen), Sauber (Pérez), McLaren (Button) e até Toro Rosso (Ricciardo). Os três primeiros fizeram um campeonato deveras decente, de fato.

E nas baterias anteriores, só para constar, Vettel foi sexto em Jerez e quinto em Barcelona. Sempre atrás de Alonso.

Em 2011, desempenho nos treinos coletivos até apontava prenúncio de domínio

Aquela pré-temporada foi a última que teve uma quarta semana de testes embutida. Uma primeira olhada nas estatísticas que trazem seus respectivos líderes já aponta um cenário ‘comum’: não aparece o nome de Vettel. Mas até que o alemão teve desempenhos que corresponderam ao domínio que apresentou em 2011. Na primeira sessão em Valência, liderou o primeiro de dois dias em que treinou, terminando em quinto no geral; na seguinte, em Jerez, já não foi lá essas coisas: 14º no agregado; quando apareceu em Barcelona, foi o mais rápido em ambas as práticas, terceiro no geral; para finalizar, ponteou a tabela de tempos uma vez, novamente sendo quinto no total – nota: Michael Schumacher foi o melhor daquela semana com a Mercedes.

Vettel nadou de braçada para conquistar seu segundo título no Japão, quatro provas antes do fim do campeonato. Foram 122 pontos a mais que Button.

Alonso e Hamilton apareciam com força em 2010, ano do primeiro título de Vettel

Quem acompanhou os testes de 2010 tinha bastante confiança de que a disputa pelo título ficaria entre Alonso, líder geral em Valência, e Hamilton – o melhor nas duas semanas em Jerez e em Barcelona. O negócio estava feio para Vettel – coisa de mais de 1s5 de diferença no começo, considerando do segundo testes em diante, que se reduziu a 0s6 no fim, levando em conta as diferenças para os mais rápidos que enfrentava na pista. O companheiro Webber aparecia mais em forma, andando no ritmo de Lewis.

Os quatro chegaram a Abu Dhabi, a prova final, com chance de título. Hamilton tinha chances remotas, Webber era o segundo no campeonato já sem as forças que havia mostrado durante 3/4 da competição e Alonso empacou em Petrov, ajudando a coroar o jovem alemão em um ano de algumas mudanças significativas: a proibição do reabastecimento e dos testes durante a temporada, o ano sabático do Kers, o uso dos pneus do Q3 para a largada e a mudança no sistema de pontos que passou a premiar os dez primeiros colocados.

2009: surge do nada a Brawn e papa o título

Bom, um campeonato que uma equipe surge às pressas e vence só pode ser considerado atípico – ainda que se saiba que deixaram a Brawn correr com algumas peças que pareciam proibidas para as outras… O espólio da Honda fora adquirido por seu chefe de equipe em um ano em que a liberdade de testar era imensa: foram contabilizadas 20 sessões em que as equipes se dividiam como bem entendiam. A Brawn só participou das últimas três. Na primeira delas, foi Rubens Barrichello quem apareceu na primeira colocação geral da sessão que contou com grande parte das equipes, liderando o último dos quatro dias de treinos em Barcelona. Button foi o segundo, melhor no terceiro dia. Os dois não andaram no encerramento da pré-temporada, sendo substituídos, vejam vocês, por Mike Conway e Marcus Ericsson – que só foi conseguir vaga como titular agora pela Caterham.

Assim, não se pode negar que a Brawn tinha pinta de que podia andar entre os primeiros. As seis vitórias nas sete primeiras provas do ano encaminharam o título de Jenson em um ano que representou a então última grande guinada no regulamento técnico da F1, com a proibição de todas as aletas e penduricalhos possíveis que eram vistos nos carros até o ano anterior e a volta dos pneus slicks à competição, além de mudanças nas dimensões das asas dianteira e traseira e do difusor, e da introdução do Kers.

Comentários

  • É, como diria o Didi (o jogador, não o cearense), “Treino é treino, jogo é jogo”. Pessoal “especializado” já colocando a Merc no pódio e praticamente já deixando a Renault/Red Bull na garagem ou em cima de um guincho, e olha ela lá em quarto com o neguin ficando na mão com seu mercedão dando um passeio a pé. E não foi por falta de aviso sendo que a rubro-taurina fez o mesmo nos últimos quatro anos. Testes lá atrás do pelotão, classificação e corridas acachapantes. A Red Bull sabe como ninguém a jogar um jogo onde a Ferrari é a principal para a Fia enquanto o resto são coadjuvantes.

  • Muitas vezes falam da ilegalidade da Brawn GP, mas além do tal difusor duplo, que a Williams e Toyota também tinham desde o começo (e aparentemente não funcionavam tão bem), o que mais tinha de irregular nesse carro?

    • Não precisa mais que um difusor duplo pra ter um carro muito mais rápido. Nesse vídeo explica, apesar de williams e Toyota terem o difusor duplo, a Brawn foi muito mais agressiva e desenhou todo o carro em torno do difusor, a Toyota deu uma maquiada, a williams também.
      http://youtu.be/BitbhumTI0c

  • Nada de novidades..
    Bons dias VM.
    É, nada tem de novidades, a RB, já tem o carro 80% nas mãos, Mercedes, com carga total, e a willians torqueando( do verbo,,vamos torquear, facilmente nas falas do linguinha plesa), pois como eu falei antes, FOTOS NÃO GANHA NADA..
    Alonso, vai mostrar serviço, se não o Kimi vai tomar com suco da tâmaras, o espanhol…mas não tá morto, fez tempo bom..
    Só o entendo, como a mídia tupiniquim já deu o Amassa barro, como fortíssimo campeão de, em qual categoria….Será que ele estava no macacão do Airton na escola de samba do RJ..
    AHHH era isso….ele animou o publico..era sim o linguinha plesa,, esquentando as pernas..para fazer caminhadas nas provas de ..
    Valeu VM…
    Blog serio, não é como uns certos psdeu jornalistas que mistura vontade de ser piloto com jornalismo..
    Melhor blog do pais………………VM.

  • Ótima análise!

    Saliento, apenas, que ano passado a Red Bull vinha no mesmo ritmo das rivais, até começar o chororô com a Pirelli, de que os pneus eram muitos fracos e blá blá blá (de fato eram). Depois que os pneus começaram a explodir, a Pirelli teve que ser mais conservadora e foi onde a Red Bull começou a deixar o pessoal para trás, haja vista que o forte do carro eram as curvas rápidas, em especial as de alta, ponto fraco na resistência dos pneus.

    Adendo a observação de Button que disse que a Red Bull, assim que resolver os problemas em seu motor de Sandero, será um carro muito rápido. Button exemplificou, onde em um dia de testes ele jantou Ricciardo na reta, deixando-o para trás e, quando chegou a curva Ricciardo chegou e o passou por fora, ambos em condições normais de performance.

    É isso. As Erdingers me esperam na geladeira para me fazer companhia durante os treinos de hoje!

    \o/ \o/ \o/ \o/ “Ôôôô, a F1 voltô, a F1 voltô, a F1 voltô ô!” \o/ \o/ \o/ \o/

  • Se o que você quer dizer é que o ano é longo e que não se pode descartar a RBR, concordo plenamente! Agora comparar a pré-temporada com o GP da Australia é justo! se pegarmos que RBR, Ferrari e cia tem dinheiro para investir! Eu realmente acredito na Williams somente no começo da temporada… Na minha opinião o titulo está entre Mercedes, Ferrari e RBR (em ordem de favoritismo).

  • Pro bloguista tedesco então a rbr está escondendo o jogo? Uma coisa é rodar 300 voltas e ficar atrás nos tempos, outra é andar 70 voltas em toda pré temporada. Tanto é que andaram em Idiada semana retrasada, “testes em linha reta”. E quanto ao Massa, quem esteve no Bahrein disse que o carro é bom e o motor é bom também. E até nas enquetes de fora o Massa é top 5. São todos pachecos?

      • Fala sério. Releia seu texto. Quer dizer que a rbr começa mal o ano e só o Vettel que se recupera no final. O amigo faz entender que a RedBull não teve o melhor carro na pré temporada, mas aí no final do ano Vettel se recupera. Acontece que em 2013 não houve modificações no regulamento que justificasse descartar a RedBull da briga ainda mais depois da mudança nos compostos do pneu. O mesmo vale sobre os carros que vieram depois do RB5, em 2009 e anos seguintes. Por mais que a rbr tenha competência e capital, estão sim atrás da Mercedes e até da Ferrari nesse início de ano e sem uma base vencedora pra desenvolvimento, é tudo novo.

      • Concordo Victor que quis dizer: Ate pouco tempo (Era Senna-Prost-Piquet), os “campeões do inverno” não eram campeões. O pessoal escondia o jogo a beça, principalmente MacLaren e Ferrari.

  • Levando em conta as muitas mudanças, acho difícil qualquer um dos times estar camuflando, dado a necessidade de se desenvolver o equipamento.

  • O ano de 2009 é uma caso à parte, grandes mudanças aliadas a um carro ilegal que permitiram porque a Brawn era a coitadinha do grid. Naquele ano se a RedBul tivesse acertado a mão no carro no início da temporada teríamos uma equipe penta-campeã.

  • Em 2013 a RBR não estava escondendo o jogo não, eles realmente brigaram no meio do pelotão até a pirelle trocar os pneus, depois dos estouros em silverston. Mesma coisa em relação a Sauber e o inverso com a Force India que caiu.

    • O lance dos pneus foi decisivo no campeonato de 2013 sim. Inclusive o chororô maior dentre as equipes, com relação aos pneus da primeira metade do campeonato, era da Red Bull. E o fim do ano foi marcado pelo abandono do desenvolvimento dos carros de todos os concorrentes, quando viram que Vettel levaria. Ganhariam sim, mas não de lavada como foi.

      Sobre a temporada desse ano, creio que as primeiras etapas serão um festival de variedades. Porque mesmo os aparentemente mais rápidos vão quebrar, todo mundo vai ter problema com consumo de combustível, vai ser um circo. E acho que algumas equipes (como a Ferrari e mesmo Mclaren) podem estar escondendo cartas na manga.

      Sobre a Williams, tudo leva a crer que terão um carro que os permita ao menos beliscar pódios numa etapa ou noutra. Massa está motivado e isso conta demais também. Afirmar mais do que isso é leviano.

      A Red Bull vai entrar no jogo em algum momento. Pode ser após algumas corridas, no fina do campeonato ou mesmo pro ano que vem. Têm uma grande fábrica e dinheiro, não andarão atrás eternamente, se assim iniciarem o ano. Mas é bom tê-los fora da ponta por um tempo.