Sobre Nasr e a Sauber

SÃO PAULO | A última vez que havia saído para comer uma pizza, Gabriel Curty, eu e outrem estávamos lá de boa e MANO RED BULL ANUNCIOU SAÍDA DO VETTEL AH NÃO MANO PQP. Aí ontem reunimos o pessoal do trampo para uma pizza pré-cobertura do GP do Brasil, Américo Teixeira Jr. me liga lá pelas 20h40 e pergunta se estou a par da notícia. Estávamos decidindo a segunda pizza depois da meia quatro queijos, meia calabresa, quando ele solta a notícia. Eu a repasso em voz alta. A mesa que estava ao lado se assustou: foi um tal de tirar notebook da mochila, procurar wi-fi, ligar para Juliana Tesser, que estava em casa, verificar, confirmar AH NÃO MANO PQP, e aí, quando a coisa acalmou depois, perguntei ao Flavio Gomes se ele tinha reparado na reação geral. “O cara ficou segurando a pizza durante uns 2 minutos sem saber o que fazer”.

Primeiro que é um temor sair pra comer pizza. O jornalismo dinâmico ensina que devemos estar munidos — ou comer na redação ou ficar em casa. Segundo que dá a noção do inesperado: não era algo que aguardássemos, uma notícia dessa, às vésperas do GP do Brasil. Talvez fosse mais racional fazê-la hoje ou durante o fim de semana, mas as ligações evidentes de Nasr com a Globo — e aqui não vai nenhuma crítica a isso; cada um se associa ou se melhor relaciona com quem bem entende — levaram ao anúncio oficial no jornal de maior alcance da casa. Terceiro, leva a muitas reflexões assim que a poeira baixa e a pizza é digerida.

Uma menção mais ao Américo: ele sabia do que estava acontecendo. Estava apenas esperando a confirmação de uma fonte para cravar. Em algumas vezes, de passagem, citamos que Nasr estava na lista da Sauber nos textos do GP. Sobre o acordo em si, falam em cifras iguais às levadas por Ericsson, anunciado dias atrás, algo entre 50 e 55 milhões de dilmas. Por coerência, se o sueco é pagante, o brasileiro também o é. A Sauber precisa, Felipe precisa, junta-se a necessidade de comer com a fome. O comunicado emitido pela Sauber talvez seja o mais explícito do vínculo de um piloto ao patrocínio que o põe lá.

Acordo Felipe Nasr

Não que precisasse, mas a chegada de Nasr corrobora a penumbra em que se encontra a Sauber. O favorito à vaga era Van der Garde, outro que tem as costas largas e ricas. De uma tacada só, a equipe abriu mão de uma série de laços: 1) com o próprio VDG, que era piloto reserva e provavelmente tinha alguma cláusula em seu contrato lhe dando preferência para ser titular em 2015; 2) com Sirotkin — lembram dele? —, o russo que ia estrear neste ano, não estreou, no fim não tinha idade nem superlicença nem dinheiro pra tanto, só treinou na Rússia, tinha lá alguma promessa e, skavurska, tchau; 3) com a Ferrari, com quem não vinha nutrindo o melhor dos relacionamentos — Monisha Kaltenborn e Marco Mattiacci vinham se estranhando neste período de debate de crise e de divisão de lucros — e que deixa Marciello, piloto da academia de Maranello, sem opções.

Sobre Nasr, outras pensatas. Felipe se deu muito bem, no fim das contas, ao não ter conseguido a vaga da Sauber para esta temporada: faria um ano miserável com este carro xucro e provavelmente seria relegado ao ostracismo. Não é possível que o C34 do ano que vem seja um resquício do malogro que deram nas mãos dos pobres Sutil e Gutiérrez. É um piloto bom? É, não se pode negar, mas, por enquanto, nenhum baluarte do automobilismo. Seus três anos de GP2 já deveriam lhe ter dado um título e mais vitórias, que só aconteceram justamente nesta temporada. O pachequismo que se arma pela chegada de mais um brasileiro à F1 acaba camuflando a visão geral do que representa este acordo em termos gerais: Nasr só está na F1 porque o Banco do Brasil está bancando e não pelo que representa em termos de desempenho. Assim, seu trabalho será árduo em 2015: o de persuadir a todos de que é um piloto de F1 capaz de prover resultados pela sua habilidade e não pelos lados globais que escolhe e das cifras que o empurram.

Ah, e pedimos quatro pizzas no total. Tavam excelentes, sobretudo a margherita.

Comentários

  • Só existe duas formas de chegar a Formula um estar num programa de pilotos e superar seus concorente ou ter patrocinadores milhionarios,concordo com a visão do Helmut Marco de dar prioridade no potencial do piloto e não com os resuntados que podem ser enganosos principalmente na GP2 que só prepara o piloto para correr de Gp2.Os demais brasileiros ou são fracos ou estão só começando portanto ou é o Naser ou não teremos pilotos locais quando o Massa parar

  • E bem facil falar do que nao se sabe internamente. Hoje em dia so se entra na formula 1 pagando e sabe-se que mesmo assim muitos nao chegam la.
    Ademais, Nasr tem DNA de piloto, cresceu em uma oficina, provou e prova que é muito bom piloto. Me digam voces, qual outro piloto brasileiro dos ultimos anos fez uma base vitoriosa como a do Nasr?
    O que voces deveriam noticiar é um apoio ao piloto, vibrar pela conquista e incentivar o futuro que temos na formula 1 e nao noticiar um jornalismo critico, sem sal, negativista e que nada acrescenta.
    Não precisa nem responder, pq essa materia nao mais vou ler e vou esperar que voces publiquem materias melhores em qualidade e sugestoes.

  • Gente eu não tô entendo esse oba oba , por que o cara arrumou parceiros para leva-lo a F-1. Querem o que???? Com as coisa na f-1 do jeito que estão (e não é de agora!) o cara consegue um parceira para bancar o que as equipes pedem por uma vaga e ficam nisso de que o cara é piloto pagante! E jornalista pagante,…??? Ou os senhores quando viajam para coberturas mundo a fora o fazem do próprio bolso, por “amor” ao esporte? Não tem um anunciante que paga a conta??? Meus queridos não existe almoço grátis, assim como não existem passagem de avião grátis, não existe hospedam grátis !!! Assim como também não existe vaga em equipe da F-1 grátis, e ponto final!!! por que tanto espanto???? O resto é bobagem!

    • boa…. que nem o netinho do Fitipaldi que bancou a uma parte da carreira nos e.u.a com dinheiro público R$ 1MM de Dilmas….. é ou não é????

  • Victor, o Max Verstappen entrou pela Red Bull, mas tem o patrocínio da Jumbo… Todos que entram hoje são pagantes…
    Até os mais talentosos… O mais estranho e isso não vem de hoje é um patrocinador gastar bilhões e nem aparecer no carro… Apenas numa lateral de boné…

  • Um viva ao pachequismo, que bem ou mal mantém a audiência de TV e de outros meios. A geração mais nova não consumirá o produto F1, a não ser que seja atrativo. Sobre o Nasr ser um pagante, ainda bem que desta vez não se trata de um blefe como o Razia deu, seria mandar a F1 no Brasil para a UTI e contando com a ajuda de aparelhos..

  • Tinha alguma pizza doce?

    Sobre o Nasr, bom piloto e deu sorte de encontrar alguém que o bancasse.
    A Sauber que é um problema neste momento.

  • Eu discordo em pontos, creio que ele não tenha sido contratado TÃO SOMENTE PELO CHEQUE, mas pelo conjunto da obra: grana + desempenho. É inegavelmente expressivo o que ele tem feito nos últimos dois anos de GP2 a bordo da equipe Carlin, uma equipe de menor expressão brigando por títulos com as poderosas DAMS, RE, ART Grand Prix…e veja bem, é só ele, na equipe ele consegue resultados melhores que os seus companheiros de equipe, e no ano de estreia sendo relegado pela DAMS andou muito próximo do experiente e campeão daquele ano Davide Valssechi.

    Pode não ser um gênio, mas merece tanto quanto Gutiérrez, Verstappen, Kivyat, Max Chilton…

    • Só lembrando que em 2013 ele detonou o Jolyon Palmer, quando correram juntos, pela Carlin.

      E se for pra considerar o Felipe pagante, então Senna foi pagante, Schumacher foi pagante…isso tirou o demérito da carreira deles?

        • Schumacher foi bancado pela Mercedes, tanto que voltou da aposentadoria como forma de retribuir um favor à eles.

          E Senna foi bancado pelo Banco Nacional e mais outras empresas que o ajudaram a ir para a Toleman. Mas também tinha Sergio Tacchini e Marlboro que sempre o acompanharam, até a F-1.

  • A Sauber que passa por problemas financeiros, poderia tentar novamente um acordo com a montadora alemã BMW e refazer o time Sauber BMW que deu 1 pole e uma vitória e revelou Robert Kubicka e Sebastian Vettel e assim a montadora alemã voltaria à Fórmula 1 outra vez e ela teria ao menos um patrocinio forte da marca alemã e a Sauber deixaria de depender dos motores Ferrari .
    Alias se Monisha Kaltenborn não está se dando bem com o atual chefão da Scuderia Ferrari (Marco Machiacci) qual seria a opção de motor a disposioção ? Renault ou Honda ou Mercedes. Mas a Lotus A pegou o motor alemão e sobraria o frances Renault (que está na STR e RBR e a Lotus B Caterham) e o japones da Honda (que está com a McLaren) e que a Honda poderia ter um segundo time que fornecesse motor

    • A BMW não tem o menor interesse em investir na F1 de novo. Depois de 10 temporadas com Williams e Sauber sem muitos resultados, percebeu que o investimento não vingou e picou a mula. A Honda passa a ser uma possibilidade de 2016 adiante.

  • Você falou que o Marciello fica sem opções, talvez não. Eu sei que é muito improvável que Caterham e Marussia estejam na F1 em 2015, mas digamos que alguém resolva comprar a Marussia e provavelmente seria mantido o acordo de motores com a Ferrari, que incluía a indicação de um piloto, aí poderia haver uma vaga pra ele.

  • Me parece uma reedição do esquema Brasil-sil, Rede Globo e piloto brasileiro. Engraçado que a emissora, que nesta semana dedica imenso espaço ao GP Brasil, destacando essa “fantástica e emocionante F1”, deixou de transmitir a prova anterior, há uma semana, por causa do “fantástico e emocionante” campeonato brasileiro de futebol.

  • Pagante, de certa forma, todos, ou pelo menos a maioria o é. Pois é impossível progredir no automobilismo sem patrocínio. Não me recordo das equipes pela quais ele passou na GP2 se eram de ponta ou mediana. Independente disso, não se sagrou campeão, tão pouco alcançou um número de vitórias significativas. Mas na minha opinião, nos treinos livres andou próximo ao Massa, agora, se vai ter ritmo de corrida, inteligência, coragem e sangue frio para fazer um bom trabalho com o carro que lhe vier as mãos isso já é uma outra história (lembrando que o Bianchi com a Marussia foi infinitamente melhor que todos os seus companheiros que corriam com o mesmo carro). Agora acho que o sucesso passa por não cair na pilha/armadilha de certa emissora de ser o salvador da pátria e construir uma carreira sólida e com dignidade. Mas por já ter sido cooptado assim logo de cara, até porque sabe lá como obteve esse patrocínio, derrepente alguém influente da G… junto a outro do BB, o colocaria como soldadinho de chumbo de alguns interesses que nós pobres mortais nunca saberemos….

    • A equipe em que ele correu, a Carlin, é uma tradicional equipe da F3 britânica, tendo conquistado vários títulos, inclusive com o próprio Nasr. Na GP2 estreou em 2011 e foi a vice-campeã no ano passado e nesse. O Palmer, que conquistou o título deste ano, está em sua quarta temporada de GP2. Além disso, como você cita, sem grana, não corre. Tem muito bom piloto que ficou pelo caminho, como o Robin Frinjs e muito sem tanto talento, mas com grana, que chegou à F1.

  • Victor,

    Quanto ao episódio, o que não consegui entender, se considerarmos a maior parte das pizzarias de São Paulo, é pedir meia 4 queijos / meia calabresa, sendo que cobram o preço da mais cara, no caso, a de 4 queijos. Geralmente o pessoal que sai para comer pizza faz uma engenharia de cálculos e vários brainstormings para montar as combinações de pizzas mas tudo bem, vai que foi a única combinação que restou.

    Dito isto, na minha opinião, todos os pilotos são pagantes, de certa maneira. Alonso só saiu da McLaren para a Ferrari porque o Santander bancou a brincadeira. E era o Alonso. Um dos inúmeros exemplos.

    Quanto a Nasr na Sauber, se temos um cara que tecnicamente pode não ser um gênio (mas que ruim não é) e que venha com bastante dinheiro, por que não contratá-lo?

    Gutierros é ruim, só estava pra bancar a brincadeira. Na minha opinião, Ericsson fará seu mesmo papel. Sutil é bom piloto, meio destrambelhado, e também levava seu dinheiro. Nasr fará seu papel, espero que não o de destrambelhado.

    Acho que Nasr precisará marcar seus pontinhos nos próximos dois anos de contrato com a Sauber e fazer constantemente boas corridas, nada de excepcional, e terá seu lugar em 2017. Provavelmente assumindo o lugar de Massa na Williams. Mas até lá há muita borracha para ser destruída.

    Parabéns, de novo, ao Américo!

    Abs e boa cobertura do GP Brasil a toda a equipe.

        • Concordo Vitor, o Hamilton também quando estreou não era pagante. (Veio da base digamos assim). Acho que aí entra a questão do talento contrapondo com a questão de custos. Fazer oque… a F1 é um esporte de 1º mundo, mas com uma estrutura de poder e ética de uma Republiqueta das Bananas… causa essas distorções. Nada contra o Nasr mas…. que a Petrobrás, com dinheiro público patrocine a F1… vá lá… porque o business dela é esse. Agora o BB que nem é um banco global patrocinar automobilismo e ainda internacional com a audiência que temos aqui é da casa do caralh… Teremos olimpíadas o ano que vem e acho que os nossos atletas olímpicos JUNTOS não receberam nem metade disso aí… Isso é que revolta….

          • Que confusão… Uma das funções das empresas estatais é intervir na economia através, por exemplo, da concessão de empréstimos à valores menores que os praticados pelo mercado, forçando os outros “players” a atuarem da mesma forma. Agora, se é bom pro BB patrocinar ou não o Felipe Nasr, quem deveria se preocupar são os acionistas minoritários. Excetuando os casos de quebra do BB, que já ocorreram no passado, o banco não vive dos nossos impostos, portanto, de público esse dinheiro não tem absolutamente nada. Gostaria que parassem de achar que o povo brasileiro está bancando o Felipe… Se o lucro do BB fosse do povo, ou esses recursos voltariam ao erário público ou deveriam ser restituídos à população…

          • Como não??? o controlador do banco é a união??? Seguindo o seu raciocínio, se o BB pega dinheiro caro e repassa barato quem vai ter q cobrir é UNIÃO. É que nem cinema brasileiro…. não tem um q não tenha apoio da Petrobras ou de Estatal… cade a iniciativa privada?

  • “Nasr só está na F1 porque o Banco do Brasil está bancando e não pelo que representa em termos de desempenho.”
    1) Sem pachequismo, mas sendo sincero lhe pergunto uma coisa: E quem entra na F1 de hoje sem dinheiro?? Talvez os caras da RedBull, e inclusive tentaram contratar o Nasr quando ele foi campeão da F-Inglesa, que por sua vez não quis se submeter a forma como eles trabalham.
    2) É difícil avaliar o desempenho quando a equipe não ajuda muito nas categorias de base, certo?? Só é bom quem é campeão?! A Carlin de longe não tem os melhores carros da GP2, tanto que até hoje nunca ficou nem entre os 3 primeiros colocados no mundial de pilotos.

  • Eu sei que devo estar errado, mas estou com uma sensação grande de caso Luiz Razia denovo… Anuncio no JN, equipe em crise, anunciado do nada. Tomara que não.

    • A diferença foi que, no caso do Razia, os patrocinadores que o estavam bancando eram desconhecidos e não pagaram o que fora acordado. No caso do Nasr é o Banco do Brasil, acho que dificilmente deixará de honrar os seus compromissos…

  • Seria mto bom se a Sauber retornasse sua antiga parceria com a Mercedes.
    Já ajudaria bastante no quesito desempenho.
    Mas já q a Lotus foi mais rápida e assinou com os alemão e a Renault só vai ficar com a Red Rosso, só resta a Sauber continuar com a porcaria do motor Ferrari.

  • Seu texto é incrível! Me sinto preso, ansioso e ao mesmo tempo entusiasmado para continuar a ler cada frase! Parabéns, escrita fantástica!

    • Assino embaixo!!
      Inclusive e principalmente porque não vi ninguém até agora, nem mesmo o Flavio Gomes, botar o dedo na ferida e desmistificar o “Nasser”!
      É só um tal de “tem o seu valor”, “o caminho é só esse mesmo” e por aí vai. . .falasééério!
      E o Kvyat e o Verstappen, que estão aí para desmentir essa tese!’
      Abraço
      Zé Maria