Interlagos tá bom

SÃO PAULO | Dizer procêis que não ir ao autódromo não significa menor trabalho. Desde quinta, a correria é grande e os horários não são os mais católicos. 4 da madrugada, a gente despenca da cama. Interlagos está jorrando notícias, mas fora dela há também o que se comentar. A morte da Marussia deixou 200 desempregados e mais um time com começo, meio e fim. Não vai deixar grandes saudades, apesar de ter sido uma equipe aparentemente simpática, que tentou sobreviver numa selva canibal que resmunga quando deixa migalhas. E não deixa de ser estranho que o esforço de Bianchi em Mônaco tenha sido em vão.

Só que são os dois pontos de Bianchi que geram o ato de misericórdia da Caterham. Ao saber que a equipe não conseguiu ir além, o administrador novo resolveu criar um crowdfunding para levantar quase 10 milhões de dilmas para que o time consiga ir a Abu Dhabi.  E é só por ir, porque o sinal de sobrevivência a faria entrar entre os dez primeiros no Campeonato de Construtores — por contrato e até lógica, a Marussia não teria como receber a fatia do bolo. Soltaram até comunicado oficial com declarações absolutamente válidas, SQN, do CEO do site da vaquinha.

Pois quer saber? Ridículo. Por mais que a coisa esteja caminhando para que se consiga o valor, atribuir ao povo a farra de correr de F1 chega a ser pateticamente feio. Ninguém no mundo tem de pagar por erros de administração e contratos mal ajambrados numa coisa que tem duas horas de duração a cada 15 dias, um mero entretenimento para quem só tem o trabalho de ligar e desligar o controle remoto.

Cada um faz o que quer com seu dinheiro, mas gostaria de ver que cada um que tenha dado os 40 contos mínimos para que dois carros verdes e lentos fiquem dando e tomando voltas num circuito nababesco cravado num emirado aplicassem a mesma quantia a iniciativas que realmente tenham um propósito e um objetivo digno e nobre. A África está pastando para conter o ebola e precisa de recursos. O Médicos Sem Fronteiras é um projeto bem difundido que requer uma maior atenção nossa. Aqui no Brasil tem Teleton este fim de semana, e as crianças dependem de nós.

Não me parece que a riquíssima F1 ou quem quer que viva dela, e viva bem, tenha tido qualquer iniciativa nestes anos todos visando um bem comum. Ninguém de lá, por exemplo, teve consciência em pensar, sei lá, nas consequências da queima de combustível para a natureza e tenha destinado X% para reflorestamento nas cidades onde se apresenta ou para pesquisas ambientais que ajudem a conter as catástrofes causadas pelas intempéries do clima. Estas vaquinhas têm propósitos muito justos em muitas das vezes — passando pelo jornalismo e até mesmo em atos isolados, como o da agente de trânsito do Rio que foi condenada por aquele juiz babaca —, mas não me entra na cabeça que uma equipe de F1 ou até mesmo um piloto — como Kobayashi fez há dois anos; é o Mito, OK, mas é horrível — seja bancada a base de esmola. O pires na mão não é sinal de humildade, mas de imoralidade.

AIN AIN agora vem esse discurso próspero de cidadão do mundo que tinha de apoiar a sobrevivência da Caterham porque é jornalista que fala de F1 e deveria apoiar e escrever coisas só positivas sobre a F1 e a F1 te sustenta. Meu jeitão, cara. E a F1 não tá sustentando nem às equipes, que dirá a mim. Uma equipe de F1 ficar mamando nas tetas da vaquinha é simplesmente patético, e se você não acha, OK, paciência. A vida segue. Só busca aí fora do casulo sua consciência porque ela tá solta, fera.

Comentários

  • Concordo totalmente. E a gente ver, saber e entender que nos importamos com tantas coisas mesquinhas nos deixa vazios por dentro na maioria da vezes.