A nova vida dos Bianchi

SÃO PAULO | Diz-se que não há dor no mundo maior que a perda de um filho. Pois a família de Bianchi a sentiu desde que ele se acidentou em Suzuka no ano passado e lá mesmo se desligou. Por mais que se tivesse esperança em um milagre, o histórico de quem havia tido aquela ruptura cerebral não apontava para uma continuação normal. Os Bianchi viveram dois períodos de parto com Jules, o da vida e o da morte, e pelo que sempre expressava o pai nas entrevistas, era um desejo condoído que aquilo acabasse.

Bianchi era moleque do sorriso fácil, do trato tranquilo, um destes talentos exuberantes que a F1 ainda estava por ver em uma equipe grande — a Ferrari. Fez com a Marussia o que ninguém conseguiu até agora, pontuar, e é em certa medida o responsável pela sobrevida da equipe na categoria. Entra agora para o imaginário do que poderia ter alcançado e para as estatísticas como a primeira morte após as de Ratzenberger e Senna.

Aliás, triste sina, a da Marussia, de ver um segundo piloto seu morto. A primeira foi Maria de Villota, que perdeu um olho depois de um acidente com um caminhão da equipe em um teste privado e veio a falecer um ano depois de causas naturais, porém evidentemente decorrentes do golpe que levou na cabeça.

Jules deixa um novo legado sobre as questões de segurança na F1, novos procedimentos e reavaliações, apesar de ter sido uma fatalidade daquelas que raramente se poderia imaginar acontecer. E neste sentido, pesam muito mais as decisões que foram tomadas naquele fim de semana em que o GP não deveria ter acontecido, face as consequências do tufão que assolou o Japão, do que propriamente os materiais e as células que protegem os pilotos.

E Bianchi também nos faz pensar como está Schumacher e na correlação com o caso, ainda que seja estranha e tolamente abafado pela família, como se não fosse do interesse público seu estado de saúde e se não houvesse uma preocupação mundial com um ídolo do esporte.

Ainda que tenha pegado todos de surpresa pelo momento em si, a morte de Bianchi também é o fim de um sofrimento arrastado. Era uma morte necessária, mesmo que doa pensar de forma desapegada de emoção e sem vínculo sentimental. A morte de Bianchi é a nova vida que a família precisa ter.

Comentários

  • A F1 como a maioria das categorias de monopostos e turismo top tem um nivel de segurança inimaginavel a alguns anos atraz e pilotos que tem acidentes normais quase sempre sai andando do carro e atualmente é mais facil se machucar andando na cidade a 40 K/h do que a 300K/h num carro de corrida mas tem acidentes que foguem da lógica e continuarão tendo resuntados imprevissiveis a menos que corram em tanques de guerra ou em carros de controle remoto,sair da pista naquele momento e naquele lugar e atropelar um trator não é um acidente normal e aposto que em 50 anos não se repetira assim como não é normal ser atingido por uma mola que saiu do carro da frente como um missel como o Massa ou bater com a parte de cima do carro no muro interno a dezenas de metros da pista como o Greg Moore

  • Uma pena, mas todos já esperavam essa notícia, sobre Schumacher tenho cmg que o Alemão está morto e ninguém nunca mais terá notícias dele…

  • Victor,infelizmente era algo esperado.O interessante é que o Felipe Massa sofreu um acidente ainda mais grave em 2009 e passou apenas dois dias em coma,enquanto o Jules sofreu um acidente,de uma certa forma,até “bobo”,se comparado com o do Massa.O Burti também sofreu um acidente muito mais sério,mas,sabe como é,a sorte nem sempre sorri para todos,e penso eu que diferente dos casos de Massa e Burti,que foram acontecimentos “de corrida”,o Bianchi foi vítima de uma falha inadmissível da organização de Suzuka.Eu ainda me pergunto o porquê daquela corrida ter continuado quando todos sabiam que não havia nenhuma condição para tal?E ainda por cima os pilotos mal conseguiam enxergar o traçado?

    • O Jules entrou em baixo de um trator? como foi um acidente bobo?
      A saida da pista pode ter sido boba (e evitavel) mas não achar grave entrar em baixo de um trator..

      • Sim,Bruno,entendo sua opinião,eu só quis dizer que outros pilotos sofreram acidentes teoricamente mais graves,como os casos de Massa,Burti e Karl Wendlinger,mas de maneira nenhuma a tragédia que vitimou o Bianchi deixou de ser grave.Pelo contrário.

  • Entendo seu ponto Victor, a partida de Jules era mesmo necessária, posto não haver esperanças de recuperação. Irônica a vida, nove meses de espera por Jules e nove meses de espera para que ele se fosse.
    Um jovem talento não aproveitado, como Bellof. Mais triste, contudo, é a perda de um garoto, que viva de lutar contra o tempo.
    A perda de um filho é o que de mais devastador pode acontecer com uma pessoa. Sei por experiência. A perda da minha única e amada filha, um ano e meio atrás, levou nosso futuro embora. Restou a dor, a saudade, o vazio. Desde então, lutamos para encontrar razão de continuar. Tenho fé que vale viver para homenagear, honrar e amar a Lú, nossa linda.
    Que essa motivação ajude os pais do Jules.
    http://reiv8.blogspot.com