O que dizem os testes

SÃO PAULO | Foram longos oito dias de testes de uma pré-temporada bem mais interessante — e trabalhosa, em todos os sentidos — da do ano passado. Havia ali na pista uma dezena de carros e 2o pilotos titulares — além de um reserva e outro chamado em substituição — dispostos a entender esta nova F1 de carros e pneus mais largos, barbatanas e apêndices esquisitos. Junte-se a isso o fato de o GRANDE PRÊMIO ter estado em Barcelona com dois repórteres — Thiago Arantes nas duas semanas e Evelyn Guimarães em uma. E já dá para ter uma ideia do que ao menos vai ser o começo do campeonato.

É cedo? É. Pode ser precipitado? Pode. Mas tamo aí pra isso. A Ferrari passou a Mercedes. Isso é notável nos dias 7 e 8. Vettel foi o mais rápido ontem tirando o pé claramente no último trecho, setor 3 da pista, ali no trecho da chicane que leva à reta principal; Räikkönen tirou o recorde da mão do companheiro com pneus piores: o alemão girou com ultramacios e o finlandês, supermacios. Ficar em silêncio fez bem ao grupo de Maranello. Falaram pouco, trabalharam muito.

A Mercedes obviamente vai achar alguma solução no intervalo de duas semanas até o GP da Austrália. Mas se percebe que ela não está nadando de braçada quando se começa a testar uma série de elementos que até então lhe eram desnecessários. Exemplo é aquela asa dupla-T horrorosa, uma aberração que parece uma antena parabólica Santa Rita pendurada em um carro de F1. Lauda, que não costuma blefar, já fala em ano difícil. Hamilton já soltou que a Ferrari está pelo menos no mesmo nível. É outro que não costuma também camuflar a situação. Bottas parece ter se encaixado bem no time, mas também não vai sair cuspindo abelhas afro-descendentes. A Mercedes vai ter achar um meio segundo aí para brincar de igual para igual.

A Red Bull é a grande incógnita até agora. É natural dela fazer o papel de marketing para qualquer lado. Verstappen e Ricciardo andam à sombra, pouco falam, mas indicam que o RB13 até pode ter nascido bem, mas não está à altura dos dois primeiros. Ainda há o que se buscar do novo motor Renault que dá alguma dor de cabeça à equipe de fábrica e também à Toro Rosso. Neste caso, fica mais uma aposta do que propriamente uma certeza, quase que jogar no Barcelona depois de tomar 4 a 0 do PSG: na primeira parte da temporada: é a quarta força do momento. Atrás da Williams.

Quando a gente viu aquelas duas fotos simplórias do FW40, logo tratou de desdenhar e fazer muxoxo. Mesmo quando veio a apresentação ‘oficial’, a impressão que se tinha era de que a equipe faria um papel similar ao do ano passado, tentando ser a melhor do resto. Na pista, com um Massa muito mais relaxado e despojado, mostrou-se que pode ser, no mínimo, a pior das grandes. O carro, acima de tudo, é confiável: anda, anda, anda, e não se encontra um problema. Ao andar em ritmo rápido, teve tempos interessantes. O único pormenor é o segundo piloto. Stroll vai demorar para engatar. OK, começou agora, tá pegando mão da coisa, mas só entenda a comparação com dois nomes jovens e recentes: Verstappen e Ocon. Deve resumir bem ou fazer com que se pense a respeito.

Das seis equipes restantes, há algumas claríssimas certezas e outras dúvidas por um olhar nem tão atento assim.

Bom, a não ser que a Honda ache uma nova pólvora, Alonso e Vandoorne não completam o GP da Austrália e, talvez, os seguintes. É espantoso ver como uma montadora erra a mão duas vezes na fabricação de um produto que deveria ser sua prima donna. Do primeiro ao último dia, o mesmo contratempo crônico de vazamento de combustível. O espanhol já sabe que já era, e por isso que não se furta em atacar publicamente a fábrica japonesa. O belga arrisca a seguir o mesmo discurso, porém mais polidamente. A McLaren não conseguiu dar mais do que 11 voltas seguidas em oito dias. O motor beirou ser 30 km/h mais lento; quando a Honda liberou um pouco potência, foi 15 km/h. Fiasqueira total.

A Toro Rosso é belíssima. Dá gosto de olhar para o carro. Mas se não se achar com o Renault, há de dar as mãos com os laranjas. Ainda que em menor escala, não houve um dia em que Sainz e Kvyat puderam acelerar plenamente o que parece ser um modelo decente, que vem para incomodar o meio do pelotão. Talvez seja o máximo que dê para extrair neste momento.

Já se sabe que a Force India tem um problema de peso. Pedir para que seus pilotos, já magros, percam 2 kg até a Austrália me remetem ao MMA e a insana vida de quem tem de perder 10 desidratando e suando como um porco no rolete. Além de ser um carro esteticamente pavoroso, há alguns pontos a serem resolvidos. Pequenos, segundo o mexicano. No fim das contas, a Force India deve ser a quinta ou sexta força.

Tem ali a Renault. Há um paralelo com a Williams: a diferença entre os pilotos. Hülkenberg vai carregar a equipe no colo e nas costas, alternadamente, três séries de 12, 40 segundos de descanso. O carro novo resolveu alguns dos problemas do ano passado, mas não é rápido o suficiente para dar o salto pretendido. O que conta a favor é a grana que a montadora vai despejar. A possibilidade de evolução é enorme. O começo, então, se desenha claudicante para que o fim do ano mostre algo parecido com o quinto lugar no grid entre os times.

Quanto à Haas, há uma evolução evidente em relação a 2016. Os caras trabalharam neste carro há um ano, então não podia sair algo pelo menos confiável. Os tempos de Magnussen e Grosjean ficaram sempre no meio do pelotão, o que indica uma possibilidade alta de briga por pontos aqui e ali, dependendo da confiabilidade de quem vem na frente.

E tem a Sauber. Que vai ser a última colocada do ano caso McLaren e Toro Rosso melhorem. Com um piloto mediano (Ericsson) e outro zicado (Wehrlein), Monisha Kaltenborn tem de dar graças que a Manor não tá mais no grid.

Comentários

  • Willians já não é grande faz tempo.

    Mclaren segue mesmo caminho.

    Grandes, hoje, só três.

    Tomara que dê Lewis no final do campeonato.
    Ano que vem Vettel vai pra Mercedes e teremos o tira-teima dos “tetras” com o mesmo equipamento!

  • Acredito que o que esteja dando mais trabalho para Mercedes, seja a suspensão, principalmente a dianteira, pois como observamos desde o lançamento do carro a geometria foi retrabalhada, com o braço superior estando em uma posição que me parece mais horizontal, com o pivô mais alto, ficando até mesmo fora da roda. Talvez essa mudança na suspensão, que me parece para priorizar o fluxo aerodinâmico, esteja fazendo com que o carro esteja com um comportamento de sair mais de dianteira. Não vejo como sendo um problema crônico da fase de projeto, mas sim uma questão de acerto do carro, pois tanto o motor quanto a aerodinâmica do carro parecem estar muito bons, seguindo a mesma linha do carro do ano passado.