Ben Sulayem, o covarde

Já tem um tempo que queria colocar em palavras o que sinto a respeito de Mohammed ben Sulayem.

Não são necessárias muitas linhas para aquele que defino como o Rolando Lero do esporte: finge que entende do que está falando, mostra-se íntimo dos ‘mestres’ e, mesmo quando tentam lhe ajudar, solta uma patacoada.

Foi assim com o caso dos brincos e joias que tinha como objetivo claro atingir Lewis Hamilton, foi assim com a garantia absurda de manutenção daquele GP da Árabia Saudita em meio a bombas, foi assim quando a entidade soltou o calendário da Fórmula 1 à revelia da categoria e das equipes, também foi quando resolveu fazer troça de Christian Horner em plena premiação da FIA, a entidade que preside, e também foi assim quando resolveu dizer que o preço da Fórmula 1 é inflacionado, até se achar o rei demais e tentar implantar uma censura aos pilotos da F1.

Ben Sulayem é de um mundo nada afeito às bases democráticas. Seu modo de governar, pois, é ditatorial. Mas dentre a esfera de ditadores, Ben Sulayem é, por assim dizer, de uma ala bolsonarista, de inteligência mínima, bem xucra. Bem Sulayem é um xucro rico. Um xucro rico que achou legal e bacaninha, talvez para dizer aos amigos de carteado ou narguilé, o popular nargas, que seria legal brincar de guerra contra a Fórmula 1.

Pois neste 8 de fevereiro, depois de tudo isso, anunciou que não quer mais brincar na guerra que quis construir: não será mais o homem que vai lidar diretamente com a Fórmula 1, deixando no front Nikolas Tombazis.

Covardes agem dessa maneira: incitam e depois recuam. Depois vai alegar que jamais cometeu qualquer ato ilícito ou que prejudicasse a Fórmula 1, depois vai dizer que jamais quis impor uma mordaça, depois vai jogar a culpa na cúpula da Fórmula 1 – que tem, sim, suas mãos nisso tudo –, depois vai fazer de tudo para se manter no poder da FIA e ficar mais quatro anos na entidade. E o que fez Ben Sulayem como comandante da entidade máxima do automóvel e do automobilismo? Nada.

Entendem como funciona o negócio que a gente… bem entende?

Ben Sulayem é um covarde que, se não for rifado logo, vai procurar após o fim de seu mandato uma Flórida no Oriente Médio para se esconder.

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O futuro de Drugovich

Ganassi ofereceu algo a Felipe Drugovich? Seria impossível no momento

O jornalista sueco Jeroen Demmendaal soltou no Twitter uma informação de que Felipe Drugovich rejeitou uma proposta de vários anos para correr na Ganassi na Indy. Ele mesmo se pergunta no fim da mensagem: sendo verdade, por que faria isso se não for por já ter um acordo na Fórmula 1?

De fato, uma situação desta só leva a crer que Drugovich tem algo engatado para estar na F1, mesmo que seja como reserva. Não se diz não, em condições normais de sanidade, a uma proposta da Ganassi. A não ser que o rapaz não queira correr na Indy.

Mas é difícil, quase impossível, que a Ganassi tenha feito realmente uma proposta – considerando, claro, que seja para o lugar de Álex Palou no carro 10. Por contrato, a equipe não pode conversar com ninguém, do contrário o time jurídico do espanhol pode usar isso na pendenga processual que já corre nos EUA.

Considerando o desfecho favorável que teve na Fórmula 1, a McLaren deve saber o que está fazendo na Indy e reter os serviços de Palou para 2023. A Ganassi vai ter de procurar alguém. Se quer Drugovich mesmo, ou faz uma consulta informal ou torce para que o resultado da ação saia antes de o piloto fazer qualquer assinatura – diz o jornalista Joe Saward que deve ser na Aston Martin como reserva.

O que, sendo bem sincero, é meramente um papel decorativo.

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Mal Sulayen

Ben Sulayen é daquele time de que não se deve politizar o esporte, certamente repreendido por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Um completo desperdício enquanto pessoa e mostra que compete no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado

Disse o mais recém-empossado presidente da FIA, em entrevista ao GrandPrix.com:

“Niki Lauda e Alain Prost só se preocupavam em guiar. Agora, Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris, Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos e Norris fala de saúde mental. Todo mundo tem o direito de pensar. Para mim, é uma questão de se devemos impor o tempo todo nossas crenças em algo além do esporte”.

Primeiro, volto no tempo, mês atrás, para a questão da preocupação do sujeito com os adereços de Hamilton. O indivíduo aí falou do assunto em frase complementar à dita cima para falar de seus valores, por assim dizer.

“Mas eu imponho minhas crenças? Não. As regras existem e, ainda hoje, estão lá até para questão como, por exemplo, joias. Eu não escrevi nada disso.”

À época da questão, parecia a mim uma clara birra ao estilo de Hamilton; agora, tenho certeza: sim, o negócio das joias, regra estipulada há mais de 13 anos no regulamento esportivo e que nunca foi motivo de qualquer preocupação da entidade, é contra Hamilton. Porque o tal dirigente é preto no branco.

Ou só branco. Nenhuma outra cor. Se tiver sete cores, o consagrado passa longe. No arco-íris dele só importa chegar ao fim para encontrar pote com o que julga valer. É alguém com uma cabeça perturbada, nota-se, mas se alguém fala de cabeça perturbada, o espelho quebra.

O tal comandante da principal entidade do automóvel e do automobilismo é deste tipo de gente que reflete o retrato de muitos – aqui, seria eleito em outros tempos – e que, ainda bem, está do outro lado do meu muro. Vettel pedala numa bicicleta de arco-íris porque milhões de pessoas no mundo são atacadas por sua questão sexual, sobretudo na nação onde o tal lamentavelmente nasceu; Lewis é apaixonado pela questão dos direitos humanos, e novamente evoco os Emirados Árabes e seu potencial destrutivo com relação a mulheres, LGBTQIA+ e outras minorias; Norris fala de saúde mental porque é uma realidade com a qual bilhões convivem, as pressões, os medos, os anseios e as ansiedades, os distúrbios e as ameaças de acabar com tudo a qualquer momento, e os esportistas estão inseridos nisso.

Mohammed é o retrato do empreendedor obcecado e fechado em si mesmo e nos seus negócios, e quando fala em não expor suas crenças, acaba expondo… suas crenças. É daquele time de que não se deve politizar o esporte, apoiado por gentes certamente repreendidas por Ícaro Silva e Jorge Valdivia, que sempre estiveram certos. Ben Sulayen é um desperdício enquanto pessoa, e sua competição se concentra no Mundial da Cretinice, um fenômeno totalmente globalizado e conectado de várias etapas no ano.

O que Ben Sulayen não deve ter pensado é que, no momento em que ele largar o cargo da FIA, ele vai voltar a ser o que foi, um Al-Zé-Ninguém, enquanto Vettel, Hamilton, Norris e as questões apontadas por eles ali estarão presentes e cada vez mais importantes para nossa atenção e discussão.

Ben Sulayen é um completo mal.

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Pérez e Red Bull: o que significa a renovação

Pérez daria a vitória se Verstappen estivesse em segundo em Mônaco? Pérez vai se contentar em ser segundão sabendo que ninguém no grid faz o que ele faz na Red Bull? E Pierre Gasly?

Então a língua solta de Sergio Pérez depois da vitória em Mônaco realmente revelou a verdade: a renovação com a Red Bull.

São mais dois anos, pelo menos, do mexicano na equipe dos energéticos.

Provavelmente o acordo já estava assinado antes do triunfo em Monte Carlo, que trouxe o momento certo para o anúncio em si – além, claro, do que já parecia óbvio pelas palavras de Pérez.

Há alguns pontos importantes neste cenário: o teatro feito em Barcelona quando reclamou que teria de dar a primeira posição para Max Verstappen reforça seu papel na equipe, que é o de ajudar o companheiro a ser campeão. Antes do GP de Mônaco, Christian Horner já indicava que receberia algumas críticas após a corrida, provavelmente pensando que, sendo terceiro como foi no grid, Pérez abriria espaço para Verstappen chegar no pódio. Lamentavelmente não vimos esta situação com Pérez em primeiro e Verstappen logo atrás. Sergio realmente daria a vitória ao parceiro?

Porque, no fim das contas, Pérez não pode ser, neste momento, descartado da briga pelo título – ainda que seja difícil apostar que mantenha o ritmo de Verstappen e Leclerc. Mas se tivesse vencido na Espanha, por exemplo, Verstappen teria 118, Pérez iria a 117 e Leclerc manteria os 116. Sergio realmente vai aceitar o papel de segundão ou vai evocar seu espírito de anos e anos de conflitos dentro da equipe, vide McLaren e Force India/Racing Point?

Tem o seguinte: a Red Bull finalmente achou um segundo piloto que faça jus à qualidade de seus carros. Se Pérez bater o pé lá dentro, Christian Horner vai mandá-lo embora e pegar quem, considerando que só o mexicano se adaptou ao seu modus operandi? Pérez tem faca, queijo e tequila nas mãos.

Outra coisa óbvia: a não ser que queira sofrer mais na AlphaTauri, a renovação de Pérez decreta o fim da passagem de Pierre Gasly pela Red Bull. E isso abre o caminho para que negocie com a McLaren, que está sedenta para ter um segundo piloto de fato. Porque é inconcebível ver Daniel Ricciardo andando mais lento que as Williams em Mônaco…

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O que será da McLaren?

Então tem o seguinte: O’Ward como bola da vez lutando pelo título da Indy querendo a Fórmula 1. Herta como piloto afiliado para andar na Fórmula 1. Ricciardo em uma draga difícil de se recuperar na Fórmula 1. Rosenqvist sem evoluir na Indy. Rossi chegando no grupo

Maio vai chegando ao fim, e a McLaren é a bola da vez no automobilismo.

Porque há uma série de coisas que Zak Brown, CEO da equipe, já deve estar considerando ou até mesmo ter tomado uma decisão sobre o elenco que vai ter em suas várias ramificações no esporte.

O GP da Espanha provavelmente foi um alerta imenso para o dirigente. Porque Daniel Ricciardo simplesmente saiu da zona de pontos logo depois da largada, em nono, e jamais se mostrou apto a se recuperar na corrida, ao passo que o companheiro Lando Norris, com amidalite, sinusite, possivelmente frieira e afta, chegou na nona colocação. Não à toa, Brown mostrou profundo desgosto com o desempenho do australiano.

A bem da verdade, tirando a vitória naquele GP da Itália de 2021, Ricciardo mal lembra os tempos em que era bom piloto. O ponto aqui é que Daniel é caríssimo. E, suponho, no contrato que assinou, há cláusulas de desempenho que permitiriam a Brown chutar-lhe os sorridentes fundilhos sem grandes remorsos.

Lá do lado da América, Brown também sofreu para acalmar os ânimos de Pato O’Ward quando este soube que Colton Herta havia assinado para andar em alguns treinos com o carro da Fórmula 1. A reação do mexicano foi absolutamente natural para quem era a joia da equipe, havia andado no teste de Abu Dhabi no fim do ano passado e vinha demonstrando claramente que sua intenção era correr na principal categoria do mundo. Os resultados das primeiras provas na temporada da Indy refletiram o muxoxo do rapaz. Até que venceu o GP do Alabama: minutos depois, foi claro e explicitou que havia uma “guerra interna”.

O’Ward é a alma da McLaren na Indy. Herta, da Andretti, é tão bom ou até mais piloto que ele – vide o drift que fez na corrida que venceu no misto de Indianápolis. Um ou outro, Brown tem joias à disposição – em tempos em que a FIA tenta evitá-las…

O outro piloto da operação na Indy é Felix Rosenqvist. Tal qual Ricciardo, não vai. Não adianta. Se a McLaren quer ser grande no campeonato americano, sabe que precisa se reforçar tal qual a Ganassi tem Scott Dixon e Álex Palou e a Penske, Josef Newgarden, Scott McLaughlin e, tem-se de admitir, Will Power – que vem muito bem na temporada, sempre no top-5. Dias atrás, Alexander Rossi disse ter um contrato assinado para 2023, mas que não podia ainda revelar por questões contratuais. Ora, se fosse a permanência na Andretti, isso não seria um problema. Assim, é de se supor que Rossi seja o novo piloto da McLaren para o ano que vem, seja no lugar de Rosenqvist ou de um terceiro carro papaia.

Rossi é a melhor opção do mundo? Não. Sua carreira é curiosa: ele foi melhor logo de cara na Indy do que é hoje. Ganhou a Indy 500 de 2016 e, de lá pra cá, despencou. Não vence uma prova há três anos. Também não é lá o cara mais simpático do mundo, sendo, por assim dizer, o oposto de Ricciardo. Mas não é uma pleura. É melhor que Rosenqvist.

Juntando tudo isso, a McLaren há de assumir a operação da Mercedes na Fórmula E a partir da próxima temporada.

Então tem o seguinte: O’Ward como bola da vez lutando pelo título da Indy querendo a Fórmula 1. Herta como piloto afiliado para andar na Fórmula 1. Ricciardo em uma draga difícil de se recuperar na Fórmula 1. Rosenqvist sem evoluir na Indy. Rossi chegando no grupo.

Ricciardo vai ter de se coçar até um determinado momento. O número de contras é bem maior que o de prós. A insatisfação clara de Brown aponta que não fica. O’Ward tem mais algumas provas na temporada, incluindo a Indy 500 do domingo que vem, para dar o cartão de visitas: ou vence a corrida e/ou o campeonato. Hoje, Ricciardo ou O’Ward? Iria, sem dúvida, no segundo. Se der Herta na Indy 500 e/ou no campeonato? Herta, igualmente sem dúvida. Em qualquer cenário, Brown deveria considerar Ricciardo na Indy. Ou na Fórmula E. Mas duvido que Daniel tenha alguma vontade de pular para os carros elétricos, até mesmo pelas coisas que deve ter ouvido do amigo Felipe Massa sobre a categoria. Que Brown mande Rosenqvist de volta pra lá – se, claro, quiser manter o sueco sob seu guarda-chuva, o que não acho provável.

Não deve demorar muito para Brown ter isso às claras. A não ser que, olhando ali na Fórmula 1 em si, observe que há um pilotaço dando sopa, naturalmente frustrado e escanteado, consciente de que não vai subir de volta para a Red Bull e que na AlphaTauri a desgraça é forma de vida: Pierre Gasly.

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Vão-se os anéis

Enquanto a FIA de Mohammed bem Sulayem não apresentar um documento claro explicando os motivos da 'regra dos anéis', a briga parece banal e focada, como Sebastian Vettel disse, a atingir Lewis Hamilton

No Paddock GP desta semana, abri o programa com um editorial sobre a decisão da FIA em reforçar seus gloriosos padrões de segurança através de uma determinação que existe desde 2005 sobre o uso de anéis, relógios, alegorias e adereços. Não me parece que a douta entidade tenha qualquer preocupação com o assunto vide dois episódios recentes. Lembra muito um país fictício onde, sei lá, a fome volta a existir com força e o governo esteja, por exemplo, preocupação em transformar as palavras bíblicas em salmos pétreos.

Enquanto a federação agora presidida pelo tal Mohammed bem Sulayem não apresentar um documento claro explicando os motivos, a briga parece banal e focada, como Sebastian Vettel disse, a atingir Lewis Hamilton.

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O ódio a Hamilton

É curioso verificar como essa gente espera um momento em que o maior piloto da história da Fórmula 1 não vence ou não chega à frente do seu companheiro para destilar um ranço que precede um ódio travestido

O Paddock GP desta semana começou com um editorial meu a respeito das críticas que estão sendo feitas a Lewis Hamilton, seja de comentaristas-pilotos ou do público. É curioso verificar como essa gente espera um momento em que o maior piloto da história da Fórmula 1 não vence ou não chega à frente do seu companheiro para destilar um ranço que precede um ódio travestido sem uma análise sequer embasada.

Não chega a ser curioso, pois, entender os motivos das críticas.

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Pino acionado

Depois de dois abandonos em três corridas, a conclusão é óbvia: eu não queria ser pulga de Christian Horner, Adrian Newey e do próprio Marko se a diferença para Leclerc em Ímola aumentar

Os treinos do GP da Austrália evidenciaram uma situação que não havia sido vista recentemente: a dificuldade que Max Verstappen teve para encontrar uma volta ideal e o acerto do carro da Red Bull. Na penúltima curva, terceiro setor, o holandês errou várias vezes. Na corrida, embora caminhasse para um segundo lugar tranquilo, em nenhum momento esteve perto de ameaçar a liderança de Charles Leclerc e rapidamente viu-se em apuros ao destruir os pneus, andando até 1s por volta mais lento que o adversário da Ferrari.

Ao mesmo tempo, Sergio Pérez não pareceu padecer dos meus problemas.

O mexicano está andando muito mais perto de Verstappen neste ano. É um fato reconhecido por Helmut Marko – cujas palavras sempre devem ser vistas com a parcimônia devida; tem doutorado em ABHE: Abertura de Boca em Hora Errada. Mas a pole na Arábia Saudita e o desempenho de Pérez nestes mesmos treinos supracitados no Albert Park lhe conferem algum crédito.

Por isso, há de também se crer no que disse sobre o estilo de Max e este novo carro: não casam. Verstappen é muito agressivo e o RB18 é muito peculiar no acerto. Encontrar uma sintonia fina é muito mais difícil, ainda mais para uma equipe que levou até o fim a disputa do campeonato do ano passado e comprometeu, como a Mercedes, a temporada deste ano – recomendo, pois, a edição do Paddockast que se debruça sobre o assunto. Max teria de se reinventar. Alguém imagina Verstappen pegando mais leve e indo contra sua essência?

O ponto é, ainda segundo o consultor da Red Bull, a consequência: Verstappen se transformar em uma bomba-relógio se ficar sem disputar as vitórias. Porque aí junta tudo: Max não se sente confortável e tem de adaptar a um carro que não tem a melhor estabilidade do mundo. Se não se sente confortável, não há de culpar a si na condição de atual campeão, mas o time que não lhe deu o equipamento ideal. O agora mais calmo Verstappen pode, a qualquer momento, acionar o pino.

Depois de dois abandonos em três corridas na temporada 2022 da Fórmula 1, a conclusão é óbvia: eu não queria ser pulga de Christian Horner, Adrian Newey e do próprio Marko se a diferença para Leclerc em Ímola aumentar. E isso só tende a não acontecer se a chuva prevista para o fim de semana compuser o suco de maracujá que Verstappen tem de beber.

O pessoal do GRANDE PRÊMIO falou muito disso no TT GP, ó:

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Arábia Maldita, 2

Na segunda etapa do ano, F1 vê Mercedes já partindo para o tudo ou nada e uma classificação que permite pensar em luta de 4 pilotos pela vitória

A Mercedes começou os treinos livres na Arábia Saudita em um ritmo muito próximo ao que apresentara dias antes no Bahrein, com a pinta de que seria a terceira força. No sábado pela manhã, já havia alguma dúvida se passaria para o Q3, já que havia ficado atrás dos carros empurrados por Ferrari e Red Bull/Honda. Fez-se a reunião ali nos boxes. E já no segundo treino classificatório da temporada da graça de 2022, a equipe já foi para o tudo ou nada: partiu para um acerto arriscadíssimo no carro de Lewis Hamilton.

O resultado é este que vimos com assombro: a pior performance do heptacampeão da Fórmula 1 em quase 13 anos. O 16 lugar poderia ter sido ainda pior se Yuki Tsunoda tivesse participado da sessão sem a falha hidráulica em sua AlphaTauri. Mas o acerto é tão horrível que a Mercedes vai mexer nesta pemba e preferir largar dos boxes.

Hamilton não está apenas incomodado com o carro ainda mal ajustado que tem. Deu para ver nas entrevistas que o inglês não vê a hora de se pirulitar da Arábia. Lewis e outros quatro pilotos, segundo La Gazzetta dello Sport, não queriam correr neste fim de semana: Fernando Alonso, George Russell, Pierre Gasly e Lance Stroll. Estou realmente no aguardo das palavras de Hamilton fora daquele país. Entender o que ele falou e passou aos demais. Ter uma posição firme de que foi feito de refém, como os demais, para satisfazer a Fórmula 1 e o governo saudita. Não pisar mais lá.

Mas é bom não ter expectativa sobre o que ele vai dizer para não me decepcionar.

A classificação viu também dois acidentes, de Nicholas Latifi e Mick Schumacher. Pelo retrospecto de ambos, esperado. O canadense da Williams nada sofreu; o alemão da Haas assustou pela intensidade do impacto. O filho de Michael não corre neste domingo por precaução e porque a equipe não tem como arrumar aquele chassi a tempo. Mas o ponto é, novamente: quem diabos permitiu que a Fórmula 1 corresse nesta desgraçada pista de Jedá? O rapidíssimo circuito é envolto de muros. Não há um soft wall ou um safer-barrier que absorva o impacto. Schumacher não ter saído com uma lesão ou mesmo concussão é, além do atestado de segurança dos atuais carros, puramente sorte.

Eu sei o que a Fórmula 1 faz na Arábia Saudita, mas reforço a questão: pra que está lá em termos esportivos?

Sergio Pérez levou 213 provas e alguns contos de réis mexicanos para conseguir sua primeira pole na F1. Esperava? Nunca. Jamais. Quando Carlos Sainz começou a engatar uma sequência de melhores tempos em Q1 e Q2, parecia que ninguém lhe tiraria a primeira colocação. Também nos enganou: o espanhol fez como no Bahrein, em que chegou a despontar como o favorito, e no fim terminou em terceiro, novamente atrás de Charles Leclerc. O monegasco, aliás, liderou os três TLs e ficou a posição de honra.

Então, em quarto, Max Verstappen. Também reclamou que o carro não estava fácil de guiar. Mas a configuração do grid permite apontar que os quatro primeiros têm chance de vitória neste domingo, o que, ao menos, é um alento de emoção para um fim de semana que nem deveria estar em curso.

Curioso será, pois, ver Pérez largando na frente e contornando a primeira curva nesta condição. Porque nunca lhe aconteceu isso na vida, de modo que nem tendo a experiência que tem será capaz de garantir suas ações. Leclerc e Sainz têm carros bem competitivos, e desta vez o espanhol tende a acompanhar os demais. E Verstappen vai ficar ali enchouriçando. Lembre-se que o motor da Red Bull está com maior velocidade final que o da Ferrari. Com asa aberta, no retão principal, pode dar jogo.

Esteban Ocon lidera o pelotão do resto e começa a temporada 2022 mais adaptado a este carro da Alpine que Alonso, que sai em sétimo. George Russell ocupa o lugar que seria dele, de fato, o sexto, mas não seria estranho ter ficado mais atrás. Parece que Valtteri Bottas e, sobretudo, Kevin Magnussen tinham condições de fazer voltas melhores que as dele. O dinamarquês reclamou novamente de dores fortes no pescoço e já tem dúvidas de como será sua performance na corrida se voltar a incomodar como neste sábado.

O GP da Arábia se desenha com o temor das batidas. Um acidente qualquer vai provocar pelo menos a entrada do safety-car. Se houver destroços ou necessidade maior de atendimento, é bandeira vermelha. Esportivamente falando, as equipes vão ter de ficar bastante atentas a tais condições para jogar com o regulamento debaixo do braço: com paralisação, dá para mexer no carro à vontade, de modo que retardar a parada nos boxes é o melhor dos cenários.

Ainda que o top-4 tenha chances, me parece que as menores são justamente do pole, Pérez. Só de ver que Checo celebrou a volta como se nunca conseguisse outra igual, dá para ver que foi uma exceção. Sergio não costuma ter ritmo de corrida forte. Assim, os outros três, que são mais fortes e mais rápidos, reúnem condições interessantemente parecidas. Apostaria novamente em Leclerc. Mas nem de longe gastaria todo meu dinheiro nisso.

Por fim: ainda que não preste além da sua existência como evento esportivo, estou gostando da Fórmula 1 2022.


Não entendi por que Pérez não recebeu de Gordon Ramsey um kibe ou uma bomba…

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Arábia Maldita

A decisão de ter e manter um GP da Arábia Saudita com uma alegação tipo ‘la garantia soy yo’, sem se escorar em uma razão minimamente plausível ou mesmo racional, mostra a que a Fórmula 1 se presta. Mostra que não presta

Dava para ver claramente as chamas e as cinzas da refinaria acertada por um míssil a 10 km de qualquer ponto do circuito de Jedá. O ataque, assumido pela milícia Houthi, do Iêmen, é o segundo em seis dias àquele local que pertence à Aramco, a petrolífera local. Nesta sexta-feira (25), aconteceu entre o fim do treino livre 1 da Fórmula 1 e a classificação da Fórmula 2. O foco da FIA e da organização do GP da Arábia estava em fazer os carros andarem na pista.

Há mais de sete anos o Iêmen vive uma guerra civil provocada por estes rebeldes e que levou Arábia Saudita e Emirados Arábes a se unirem, com a bênção de Estados Unidos, Reino Unido e França, para atacar aquele país. O conflito se intensificou neste ano. Segundo a ONU, mais de 377 mil pessoas já morreram no Iêmen e mais de 10 mil crianças estão ou nesta conta ou feridas. Mais de 80% da população precisa de assistência humanitária e proteção. 19 milhões de iemenitas passam fome. Não há cuidados médicos e sequer água potável.

A tragédia daquele povo não põe bandeirinha ao lado da arroba no Twitter. O mundo não conta a ninguém. O Iêmen não fica na Europa.

Mas se o mundo não conhece nada de Iêmen, sabe bem quem é a Arábia Saudita, seu desrespeito a direitos humanos, às mulheres e às minorias, comandada por um ditador que impõe restrições religiosas e políticas e que, na ponta final, leva a punições cruéis, penas de morte e execuções brutais. O que faz a Arábia ser aceitável é o dinheiro e o petróleo. E se falou em dinheiro, a Fórmula 1 abraça.

A Fórmula 1 topou correr no Bahrein, ainda sob comando de Bernie Ecclestone, quando aquele país passava por uma guerra civil e por condições que não são muito diferentes das vistas na Arábia. Não se pode dizer que a categoria era incoerente: fez o mesmo na África do Sul nos tempos de apartheid. Quando assinou o contrato para correr em Jedá, pois, a F1 se aliou a tudo que havia de pior em termos humanitários para engordar seu caixa. A Aramco – a mesma companhia que tem sido atacada pelos Routhis – é a ponta de tudo isso: basta reparar em qualquer lugar em que se busque a F1, seja no mundo digital ou nas pistas, como besuntam o logo em todos os cantos.

Assim, Stefano Domenicali, Ross Brawn e quem quer que seja da cúpula da Fórmula 1 e da FIA não podiam fazer cara de espanto e surpresa com o fogaréu ali do lado deles. Foram e são eles que, direta ou indiretamente, deram respaldo a tal situação. Mas, embora esperado, espantoso mesmo é o que estas gentes falaram após as duas reuniões que fizeram às pressas para decidir se haveria GP ou não. Disse Domenicali: “Pessoalmente, eu me sinto absolutamente seguro. Se não fosse assim, eu não estaria aqui”. Realmente alentador. Daí veio Mohammed ben Sulayem, o novo presidente da FIA: “Estão atacando a infraestrutura, não os civis e, obviamente, não a pista. Checamos os fatos e temos garantias do mais alto nível de que este é um lugar seguro. Vamos correr”, minimizou o dirigente, que é emiratense e, pois, deve saber como seu país contribui para tal situação. As tais garantias vieram de uma delegação saudita que participou da segunda reunião.

Ficam, então, as seguintes perguntas: se os sauditas sabem que teoricamente os Houthis só atacam infraestrutura, como é que eles, ao menos nestes seis dias, não fizeram um esquema de segurança para um alvo tão importante para a economia saudita como a refinaria da Aramco ou não se preocuparam em evitar o ataque como forma de maquiar – sportswashing incluso – com a chegada da Fórmula 1 o conflito? Quem é que banca mesmo que os Houthis não atacam civis em um cenário que já matou quase 400 mil pessoas? Domenicali e sua trupe têm exata dimensão do conflito? Quem é Domenicali na fila do pão que falta ao Iêmen para ser a voz da garantia de uma série de vidas em meio a este conflito?

Cêis vão me desculpar, mas não me entra na cabeça que, depois de meia hora deste ataque, não tivesse ninguém pegado suas coisas e partido para o aeroporto mais próximo para vazar o quanto antes de Jedá. Ninguém, nem o mais alto representante da Defesa saudita, tem a mais puta ideia de garantia de segurança àquela gente. Os Houthis ajudaram a matar seu povo; por que se preocupariam com as vidas de meros pilotos de carros de corrida?

A decisão de ter e manter um GP da Arábia Saudita com uma alegação tipo ‘la garantia soy yo’, sem se escorar em uma razão minimamente plausível ou mesmo racional, mostra a que a Fórmula 1 se presta. Mostra que, aparte ser um evento esportivo de alta competição, não presta.

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