Otazuísmo

SÃO PAULO | Aí que o dia, frio e natimorto, segue, e pinga na caixa de e-mail que o 15 de maio entra para a história do automobilismo. Fiquei preocupado; vai que tinha esquecido uma data importante. Mas não.

“Um dos mais antigos jornalistas do ramo comemora uma marca considerável. A uma semana de alcançar os 55 anos de idade, o paulista João Alberto Otazú, o ‘vovô do automobilismo do esporte a motor brasileiro’, completa 30 anos de atividades.”   

A grande cena que eu me lembro de Otazú foi num fim de semana da F3 Sul-americana e da F-Renault, 2006, se não me engano, e o espaço usado como imprensa era parte das cozinhas das equipes de F1, as salas que ficam no paddock em Interlagos.

Aí estavam alguns lá, e Otazú sentou-se próximo à porta, numa bancada. Tirou o laptop de sua indefectível mala, colocou a fonte na tomada e começou a dedilhar no teclado tal como um pianista fracassado. E eu concentrado nas notícias ou fazendo qualquer outra coisa, mas olhando fixamente para meu notebook. Repentinamente, com o rabo do olho, percebo um movimento uniformemente variado, que iniciou lento e depois aumentou com a ação da gravidade. A perna da cadeira de Otazú havia quebrado. E ele foi caindo, caindo, caindo, até que suas pernas ficassem para o ar, pedindo socorro pelo Otazú que preferiu se calar.

Zero ou uma pessoa foi ajudá-lo, o cabelo já desmanchado permaneceu daquele jeito, o olhar para a cadeira traíra e o riso contido — de quem assistiu à cena — que rolava abertamente. E Otazú sem perder a pose.

Gente boa, o Otazú. Mas gente velha, também.

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