2010, uma F1 no espaço

SÃO PAULO | Vamos lá.

FIA e Fota estavam bem perto de chegar a um acordo, e as duas partes claramente acenaram com tal possibilidade em posições notoriamente diferentes dos ataques que se sucederam nos últimos 50 dias. As duas estavam dispostas a ceder. Naturalmente, é surpreendente saber de uma das partes que a briga continua. O motivo real ainda não se sabe. E como não se sabe, deduz-se que uma das duas, ou as duas, voltaram a bater o pé em seus princípios.

Em qualquer enrosco que se tem na vida, é muito comum que as partes espalhem a terceiros o ocorrido, cada uma a seu modo, de acordo com seu interesse e ressaltando determinado ponto que faça convencer a quem conta de que tem razão. A postura de FIA e Fota, bem como no embate em que se envolveram, também conflita.

A Fota logo se preocupou em mandar um comunicado à imprensa, abrindo-o com o breve histórico da associação que representa as equipes e logo demonstrando seus pensamentos e bases distintos dos da FIA, também envolvendo Bernie Ecclestone/FOM diretamente, sem citá-los. E que para não ficar num eterno bate-cabeça, até porque havia um prazo a ser cumprido, resolveu por bem reunir todos os seus membros na criação de um campeonato a seu bel-prazer.

É certo que a Associação das Equipes fez um encontro particular na sede da Renault, mas é difícil crer que a FIA tenha sabido pela imprensa que havia uma cisão. A FIA preferiu o silêncio e verificar as consequências do anúncio. O site oficial da F1 sequer divulgou a nota da Fota. A FIA não se importou em novamente esclarecer seu ponto de vista ou mesmo noticiar que não havia um consenso. Esperou a manhã de sexta e até os treinos livres do GP da Inglaterra para anunciar, em parcas linhas, que vai processar a Fota e em especial a Ferrari, com quem tem um laço atado e visceralmente não muito claro.

Enquanto isso, os membros da Fota tentam ser comedidos durante um fim de semana de corrida, mas acabam dando detalhes de seus pensamentos. A BMW fala em um Mosley irredutível e que não há outro caminho a não ser a dissidência. A Red Bull já não é tão radical e vê em Ecclestone a solução — o Ecclestone da qual a Fota como um todo se queixa. A McLaren dá um ar de mistério e vem com um papo de que as equipes mais fortes estarão juntas num campeonato que será reconhecido como o maior, sem dizer claramente que se trata de algo paralelo. A Fota está junta, mas se percebe que as posições não são tão unas assim.

Cada um, claro, tem sua opinião diante do caso. Tem quem ache um desastre o racha e tem quem veja que é divertido porque vai haver dois campeonatos para acompanhar. Nem oito nem 80. Até posso acreditar que as intenções e preocupações de Mosley sejam legítimas com relação ao corte de custos diante de um mundo em ressaca da crise mundial, mas o que me fica de impressão é que é problema das montadoras e das equipes o quanto querem gastar. Se no fim acabarem quebrando, azar da péssima administração e do mau gasto de seus recursos. E aí, sim, a FIA acabaria saindo muito por cima dessa história toda, como pai que avisa ao filho aventureiro dos riscos, e colocaria na F1 as equipes que realmente apostassem na competição com a consciência de que tudo deve ser calculado e não esbanjado.

Ainda haverá alguma mudança nesse cenário. A atitude da FIA em ir à Justiça e de não anunciar as equipes do ano que vem até que a pendenga seja resolvida também afeta aquelas que esperam por uma oportunidade na F1. A Corra Lola e a N.Sync cansaram de esperar. As outras vão acabar fazendo o mesmo. Vai saber até quando isso vai ser arrastado. E todas elas, eventualmente, precisam tocar seus projetos ou abandoná-los. 

A primeira temporada da série da F1 acabou. A odisseia da segunda vai começar. 2010, uma F1 no espaço.  

Comentários

  • A tal crise FOTA x FIA, tem duas causas principais:
    1- A distribuição da grana de forma a contemplar mais as equipes que são os astros do espetáculo, tirando parte da força do Tio Bernnie.
    2- Busca de um regulamento que tenha duração maior que uma temporada, pois o Mosley a cada ano cria um monte de regras novas, que obrigam as equipes refazerem praticamente o projeto do carro a cada ano. Isto gera despesas de desenvolvimento, milhares de dólares para tornar o novo carro competitivo. Aí está o “x” do problema. Paradoxalmente o “Cuecão de couro” exige aprimoramentos tecnológicos e menos gastos. Só uma mente insana pode pensar que estas duas coisas são compatíveis.
    Veja o exemplo deste ano: novidades exigidas foram o KERS, os pneus slick, e a aerodinâmica mais limpa. Quanto custa uma hora de túnel de vento? Quanto custa o desenvolvimento de um composto de borracha capaz de atender às novas necessidades?
    Quanto custa projetar e desenvolver uma traquitana como o KERS, que saindo do nada, seja capaz de cumprir a finalidade de transformar energia calórica em potência adicional para o motor?
    Se a categoria tivesse regulamentos mais estáveis, sem grandes alterações a cada ano, as pequenas equipes teriam mais tempo para desenvolver seus projetos e torná-los mais competitivos, pois é lógico que por terem orçamento menor, precisam de mais tempo para o desenvolvimento. Assim no segundo ano, elas seriam mais competitivas. Era o que acontecia nos anos 50, 60, 70 e parte de 80. Aí começaram a querer inventar a roda, fazer com que pequenos tivessem o mesmo desempenho dos grandes. Eram motores com mais de 1000 HP só para classificação (enquanto os clientes só tinham os motores normais e de, no mínimo, uma geração a menos). Motores turbo, motores aspirados novamente… tuneis de vento, muitos testes… dinheiro, dinheiro, mais dinheiro! E tome novas regras para “igualar” o inigualável, pneus raiados e por aí vai. Uma insanidade só.
    Agora tem até colunista querendo transformar a F1 em monomarca, 1 só chassis e 1 só motor! Então que revigorem a F-ford e acabem de vez com a F1. Porque a F1 nunca foi monomarca nem de motores, quando os Cosworth eram maioria, ainda assim tivemos, Ferrari, Alfa Romeo, Renault, Judd, Matra, e um tanto de outros. Chassis eram MARCH, Brabham, McLaren, Alfa Romeo, Renault, Tyrrell, Lola, Penske, Shadow… Tudo garagista!
    Agora que a Williams não tem a grana de patrocínio que já teve, neguinho fica chamando o Frankie de garagista. Vai lá visitar as instalações deles e me digam se aquilo se parece com uma garagem! Ora me poupem!
    Como dizia o Fangio, “Carreras son Carreras” e se houver um racha, que não acredito, teremos uma nova categoria para acompanhar, e só! Talvez mais importante que a F1, com certeza o desenvolvimento tecnológico será maior, o regulamento mais rígido e durável. Não entendo porque se fala tanto em crise das montadoras, nova fórmula das montadoras… Ali de montadora só tem Ferrari, BMW, Toyota e Renault contra McLaren, Brawn, Red Bull, Toro Rosso. Certo, os puristas poderão falar que a Toro Rosso e Red Bull pertencem ao mesmo dono, mas usam motores diferentes. Poderão dizer que a Mercedes é sócia na McLaren… palavras, são palavras… O problema como disse no início é a grana! Todo investimento tem que dar retorno!
    Não sou advinho, mas a crise vai acabar com a saída do Mosley e com o Tio Bernnie aumentando o percentual das equipes no faturamento.Alguém duvida? Nova categoria não interessa a nnguém, pois implica em novos gastos para desenvolver os novos carros.
    Abraços a todos.

  • Max Mosley sempre foi um vilão, um Dick Vigarista entre os colarinho branco do automobilismo. Não consigo esquecer a sacanagem que fez com o Alex Ribeiro, detonando sua carreira.
    Agora está a zonear a F1. FORA MOSLEY! Quero pedir a todos os brasileiros que enviem e-mail para a CBA exigindo que nas próximas eleições não vote em Mosley. É a vez de retribuirmos tudo que ele fez “de bom” para os pilotos brasileiros. Afinal a CBA é a representante do BRASIL na FIA, portanto DOS BRASILEIROS e se a maioria de nós for contra, a CBA TEM QUE SER CONTRA! Ou seu presidente perde a representatividade. Isto é democracia. Então vamos lá!

  • O Bernie está quietinho, porque sabe que a briga é motivada por distribuição de recursos, que no caso é problema dele, e por consequencia, a cisão vai desabar em suas costas.

  • Meus Deus!!!
    Vocês estão levando muito a sério uma discussão que vai terminar
    em… PIZZA!!!
    O legal seria saber se a RECORD já está tentando comprar os direitos dessa nova categoria natimorta … he he he.
    Vocês levam a midia a sério?
    Meu Deus !!!

  • Que acompanha a F1 ´há muito tempo sabe, os melhores momentos, as imagens marcantes foi quando a categoria era composta por “garagistas”.O lema era apostando em boas idéias.Acho que todo tipo de administração deve ser participativa o que realmente não vem acontecendo de um tempo para cá, mas esse papo que a fota está unida é conversa fiada, nunca foram unidos e a ferrari é um pilar nessa escolha. sempore foi assim só que antes os vermelhos ficavam sempre ao lado da FIA hoje está do lado.Alguem acha que se Modena estivesse do do outro lado isso ainda e assim? No ponto sobre o esporte Mosley tem razão, as montadoras ñ estão nem aí para F1 ou para o esporte, eles querem entrar e sair conforme lhes convem . Esse ano o grid quase ficou ainda mais minguado, por causa do pula fora da honda, se toyota, renault, bmw tivesse feito o mesmo….

  • Li muita coisa de ontém pra hoje sobre esta ‘separação’ da FIA e da FOTA e queria expor minha opinião e dúvidas.

    Tudo isso, na minha opinão se deve a:

    1º. Teto de $40mi – Que as equipes pediram para que fosse de $100mi, já uma grande redução se comparado ao gasto das equipes hoje.

    2º. Dois regulametos – Um para quem aceitar o teto e outro para quem ir contra, o que é totalmente ridículo em uma competição, a não ser que seja às 24horas de Le Mans ou Campeonatos de Rali, onde todos correm juntos mas cada um competindo em sua categoria.

    Como o Flávio Gomes disse aqui (http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/2009/06/19/a-f-1-acabou-3/), o campeonato de F-1 sem as montadoras parte para uma unificação de motores com o uso dos Cosworth e talvez um ou outro fabricante a mais que só não entrava para a F-1 para não fazer feio frente aos ‘Grandes’.

    Se a FIA manter as padronizações e facilidades técnicas previstas para o regulamento de 2010, ajudará muito as novas equipes (e também a Williams e Force India), que se preocuparão mais em projetar os carros e isso também valorizará mais os projetistas e acertos do carro para as corridas (lembrando a F-Indy). O único problema neste campeonato seria a ausência dos maiores nomes das montadoras e pilotos de maior prestígio, pelo menos por enquanto.

    Do outro lado, se a FOTA conseguir criar um relulamento forte e se não houver brigas pelo poder poderão criar um campeonato muito forte do ponto de vista competitivo e organizacional e será a categoria top do automobilismo, mesmo, eventualmente não sendo aprovada pela FIA. Lá estarão os maiores nomes do automibilismo mundial e é isso que interessa e dá créditos a este novo campeonato.

    Muitos se perguntarão onde eles irão correr… bom vão correr nas pistas que a F-1 não corre mais, e porque não em algumas das atuais? Pode ser a volta das pistas históricas à uma competição de grade nível.

    Acredito também que neste novo campeonato organizado pela FOTA, talves os pilotos tenham mais voz ativa, penso que se não acharem que uma corrida não está em condições de continuar, seja por mau tempo ou outro fator, serão mais ouvidos que hoje.

    Então me perguntam, mas qual você assistiria? A resposta é: ambas, por isso espero que as datas ou horários das corridas não sejam os mesmos.

    No final, tudo isso é pura especulação e um pouco de torcida de alguém que acompanha a F-1 regulamente há apenas 15 anos e nunca chegou a ver de perto um Grande Premio.

    Abraços e obrigado pela paciência.

  • Eu acho estranho o Bernie estar quieto até agora, acho que ele é o que mais vai perder nessa história não é? Achei que tinha uma pancada de contrato e isso e aquilo, mais ainda não vi nada de muito sério vindo dele ainda.

  • As ameaças da FOTA servem apenas para provocar cessão por parte da FIA. Qual seria a vantagem de se fazer um campeonato pararelo com meia dúzia de gatos pingados – porque, com gastança descontrolada e montadoras, quem vai querer se arriscar, se há um outro campeonato parecido, com limites de gastos e equipes independetes logo ao lado? -, elaborar regulamento, regras, iniciar do zero projetos novos e tudo mais?

    Não vejo nenhuma. No fundo, a FIA sabe disso. Por isso não está caindo no joguete da FOTA e abrindo as pernas para todas as suas exigências.

    Até porque, caso saiam as montadoras e as equipes ligadas à FOTA, será muito fácil, com teto orçamentário e o renome da F1, conseguir equipes novas. Só da GP2, dá para trazer muitas equipes, dando incentivos e tudo o mais, como foi feito com a Brawn.

    Além disso, o nome Fòrmula 1 com certeza é muito mais chamativo. As emissoras que têm contrato com a FOM seguirão transmitindo F1. Será uma guerra de peso, mas de uma categoria já estipulada e estruturada contra outra que vai ter de começar do zero. E isso já é uma desvantagem.

  • Acho que é até normal que realmente as equipes decidam quanto querem gastar e que, caso quebrem, Mosley sairia por cima.

    Mas creio que, nesse caso, ele está tentando salvar o esporte e sua imagem. Porque não é bom pra categoria que suas principais equipes quebrem, ou que gastem tudo o que puderem quando o mundo está em crise.

    Eu ainda não tenho uma posição totalmente definida, mas a princípio, vejo a FIA com argumentos bons para o esporte, e a FOTA com o argumento “eu quero mandar em tudo”.

    Não sei quem tem razão, se alguém tem razão, quem está certo e quem está errado.

    Só sei que com certeza esse impasse não é bom para a F1 e para o automobilismo.

  • Na minha opinião a maioria se enganou a respeito da seriedade das intenções da Fota. Para eles terem tomado a atitude do racha, provavelmente já estudaram e analisaram como irão fazer o campeonato paralelo, no que diz respeito a organização, pistas, logistica, patrocinadores, etc. Acredito ainda num acordo mas claramente a favor das equipes com o enfraquecimento por parte da Fia e da Fom.
    Abraços