Dona Micheletta

SÃO PAULO | Aí a Dona Micheletta, acho que com dois T, veio o tempo todo conversando comigo no ônibus, porque é ótimo usar transporte público em São Paulo, maravilhoso, e vinha falando sobre seus investimentos em Indaiatuba, porque a Dona Micheletta, professora e pedagoga, do coque bem feito e sua aparência de sessenta anos, era comunicativa, e ia pra casa da filha pra dar à neta um estojo de maquiagem de R$ 140, e aí a Dona Micheletta perguntou o que eu fazia, e eu disse para onde estava indo e ela perguntou sobre aquele menino que sofreu o acidente.

“Ele está bem? Porque é difícil se recuperar das sequelas, né? A cabeça é uma parte do corpo muito sensível”, e ela ia discorrendo sobre a cabeça, o cérebro e partes afetadas, e teve uma enxaqueca que a afetou depois que uma a prancha de surfe bateu em sua cabeça, e eu nem perguntei a ela como a prancha de surfe havia atingido sua cabeça, talvez pelo medo de saber que, além de tudo, Dona Micheletta era da patota de Kelly Slatter e Mineirinho, vai que eu estivesse ao lado de um mito, mas a Dona Micheletta, além de tudo, foi uma boa companhia naqueles minutos intermináveis dentro daquele ônibus em que a diversão do motorista que usava uma papete era colocar alto a “música” que emanava da Tupi FM, a voz esgarniçada de Zezé di Camargo, e a Dona Micheletta desceu porque precisava pegar outra condução até chegar na Granja Julieta e ir para o Morumbi, mas antes perguntou o meu nome e pediu para que eu mandasse um abraço e melhoras pro menino atingido.

Dona Micheletta é bem esperta.

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