A tese da simplicidade

SÃO PAULO | Faz sete anos que eu organizo um bolão de F1, o já mencionado BRV, e todos os anos eu me juntava com a cúpula diretiva desta organização quase não-governamental para definir as regras e agregar novidades para atrair uns tantos mais para a brincadeira. A maioria destas novidades não vingou. Porque eram ideias que, apesar de boas, estragavam a jogatina como um todo.

No ano passado, inventamos umas tais perguntas. Eram 10, se não me trai a memória, 12, talvez 20, divididas em dois grupos por sua dificuldade. O apostador escolhia uma pergunta de cada grupo. Então tinha lá “Quem será o primeiro piloto a ser substituído na temporada?”, e aí o bocó atribuía x pontos para seu palpite. Acertando, levava, claro; errando, aí que estava a sacada, perdia os x pontos.

Confesso que depois de umas quatro corridas já lamentava a implmentação desta cretinice. A corroboração de que não era só eu quem achava isso veio em Floripa, no Desafio das Estrelas, quando encontrei Reginaldo Leme. O Regi, que sempre foi uma negação no BRV, desta vez brigava pelo título. Na última corrida, o perdeu. A grande novidade ajudou a contribuir, e Regi, polido, falou algo como “se não fossem aquelas perguntas idiotas…”. E eu até gostei. Notei que às vezes, o mais simples pode ser a melhor solução.

A F1 tem se esforçado para aumentar o show, principalmente em torno da questão da ultrapassagem. É praticamente impossível requerer que tudo volte ao tempo de duas décadas atrás, porque as descobertas tecnológicas, o uso de computadores ultra-avançados e a evolução dos materiais trouxeram uma nova era, e cabe às mentes brilhantes que controlam o espetáculo indicarem propostas e estabelecerem regras e vetos para que as disputas voltem a fluir naturalmente, adaptadas aos tempos atuais. A limpeza dos carros em termos aerodinâmicos foi válida, mas coisas como calotas e difusores duplos atrapalham na questão da formação do vácuo para que o adversário consiga superar o oponente. Daí 2009 não ter sido tão diferenciado.

Então resolveram mexer no reabastecimento e no sistema da pontuação para chacoalhar. Em tese, válidas as duas ideias. Evitar que as estratégias promovam trocas de posições e incentivar à vitória aumentando consideravelmente a diferença do primeiro para o segundo vieram a calhar. E, em consequência da proibição da colocação de gasolina, findava a desnecessária regra de largar com o combustível que restava nos carros que passavam à batalha da superpole, deixando de lado a mera tática aplicada no Q3 para, assim, trazer de volta o caráter de premiar aquele que pura e simplesmente foi mais rápido do que os demais no treino classificatório.

Tava indo tão bem, diria aquela personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Mas aí tinha que acontecer algo para a nota 10 não sair. Hoje a revista Autosport  informou que, em nome do espetáculo, oh!, vão exigir que os 10 pilotos da superpole utilizem no começo da corrida os pneus que carregaram nesta última parte da classificação. Ou seja, é a forma encontrada para substituir a gasolina remanescente. Ou seja, o retrocesso, o baque, o término broxante da expectativa de ver a busca pelo melhor tempo para que a burocracia da prudência volte à tona. Tipo a preferência pelo empate quando é possível buscar os três pontos.

A patacoada precisa ser aprovada pela Comissão da F1, pelo Conselho Mundial, pela bisavó de Bernie Ecclestone e pelos universitários. Vai acabar passando, porque “a maioria das equipes aprovou”. Compreendo que a tentativa é válida. Só que é preciso pensar melhor antes de aplicá-la, e não sair mudando as coisas num estalar de dedos — como acabou sendo a primeira proposta de alteração na pontuação, que no fundo era a mesmíssima porcaria. A F1 não é um BRV, claro, é zilhões de vezes mais complexa e importante. Mas a F1 ainda há de entender aquela tese da simplicidade do BRV.

Comentários

  • Só discordo do texto em uma única palavra: onde está “burocracia”, deveria estar “BURROCRACIA”.
    A burrice domina os altos escalões da F1, criando obstáculos onde deveria criar atalhos.

  • Não muda nada. Acho que bom sria inverter a regra dos pneus. Quem classificou de mole faz a corrida toda de mole, qum classificou de duro, faz a corrida toda de duro. Como era nos anos 90. Aí acontecem casos como os pneus Pirelli da Benetton do Piquet não aguentarem e ele fazer duas paradas, ou aquela Monza 91 que o Mansell fez a corrida toda sem trocar de pneus e o Senna veio voando depois de fazer a troca, essas coisas…

  • A grande diferença é que o composto macio não é o ideal para andar com o tanque cheio. Sem essa regra, todo mundo ia largar com pneu duro, nenhuma variação de estratégia. Não tem nada a ver com uma ou duas voltas a mais, tem a ver com o composto. O macio não aguenta o peso todo do carro!

    • Nenhum composto (duro ou macio) aguenta o peso todo do carro em uma corrida inteira. Haverão duas ou três trocas na corrida, pois ainda vale a regra de usar dois compostos diferentes durante a prova!

    • Quem falou em corrida inteira? Falei no primeiro stint, que vai ser feito com o tanque cheio. Teoricamente, o pneu macio será melhor para quando o carro estiver vazio, mais leve, para andar mais rápido. O pneu duro seria melhor para o início, para administrar o peso.

  • eles poderiam testar essas regras ANTES em algumas categorias abaixo, se fosse bem vista, entraria na F1.
    Como eles fazem por exemplo testes, no Campeonato Paulista, para depois vingar no Brasileiro.

  • As nossas espectativas vão muito alem do que a FOCA e FIA consguem desenvolver.
    Nos ultimos 40 anos nem uma formula de acesso ao que chamam de categoria maxima o automobilismo nacional conseguiram desenvolver.
    Priorizaram circuitos burocraticos onde qualquer piloto mediucre se faz presente .
    Pilotos com bons adesivos no macacão tem a prefêrencia em qualquer equipe , o talento fica para segundo plano.
    Aí vem os tecnocratas do automobilismo e inventam formulas mirabolantes para tentar igualar as coisas na pista.
    E nós consumidores ficamos na ILUSÃO que estamos assistindo a um espetáculo esportivo

  • Caros amigos… vale ressaltar que não existem mais pneus de classificação. Mesmo aqueles que forem “macios” não vão se desgastar com umas três voltas com o carro leve no Q3, uma vez q os carros não estarão com tanque cheio e quem entende um pouco de “carro” sabe q o peso influi no desgaste, e se ocorrer por uma freada forte haverá apenas a troca do mesmo por motivo de segurança (essa regra já foi usada qdo tinha a volta lançada!). A idéia de mantar os mesmos pneus para a largada é boa, uma vez q as circustâncias do carro na pista (seca, pq se chover pode largar com pneus interm. ou de chuva) irão mudar bastante com os compostos dos pneus macios ou duros q irão largar e com o peso dos carros (tanque cheio). É uma forma de equilibrar a disputa podendo fazer com que os primeiros parem mais cedo trazendo mais emoção com as possíveis ultrapassagens. Acho q vale a pena dar um crédito às idéias, tendo em vista q foram definidas pela na reunião do Grupo Esportivo de Trabalho e aprovada pelas próprias equipes e não pela Federação. Vamos esperar para ver na prática se funciona ou não, mas pra mim vai funcionar !

  • Eu acho que essas regras de pneus sao estupidas..Se eu fosse presidente da FIA, respeitava apenas o numero de pneus e quantidade a ser usada no final de semana..Qualquer equipe deveria correr com pneu que desejar (aí a chave do sucesso, quem escolher melhor tipo de pneu) , na corrida seria obrigatorio pelo menos uma troca de pneus ou seja um jogo…seria mais emocionante do quessa que criaram…

  • Concordo totalmente com vc. Tudo caminhando para a nota 10 dai……Expectativa total de ver o carro realmente mais rápido largar na pole. Agora …….isso. um Abraço.

  • Todos os carros sairão com o tanque cheio, pesados, portanto aqueles 10 primeiros levarão grande vantagem sobre aqueles q largarão no fundo, já q as ultrapassagens são tão dificeis. Acho q só um carro+piloto com desempenho acima dos outros pode se aproveitar desta regra e largar em 11º , assumindo o risco de enroscar-se no meio do pelotão e vencer.

  • Victor, depois de ler algumas colunas acho que entendi o que eles pretendem. Primeiro ponto positivo é que as equipes aprovaram. A medida visa maior equiilíbrio entre os 10 primeiros e o “resto” .

  • O que ninguem esta dizendo é que ao contrario dos ultimos anos a vantagem sera de quem parar antes nos boxes pois voltara a pista com pneus novos enquanto os outros estarao com pneus velhos e estes só terao valtagem no fim da corrida para tentar ultrapassar o é muito dificil hoje em dia

  • Victor

    Se for ver pelo lado prático no Q3, vai acontecer o seguinte: faltando alguns segundos (geralmente menos de 30) os mais rápidos (ou melhor, todos do Q3) trocaram os pneus, por pneus novos e darão duas voltas (uma de aquecimento e uma valendo) e não vão desgastar tanto o pneu assim.
    Essa regra não vai mudar tanto como você está pensando.
    abraço.
    Mauro

    • Isso aí Mauro, matou a pau…. Um pneu de corrida, que é feito para andar 30 voltas, não vai dilacerar e virar pó de baba de véia em 1 ou 2 voltas lançadas…

  • Eu realmente não entendo, onde está a dificuldade em acertar as regras da F-1. Tenho certeza que fazer todas elas é um puta trabalho, mas será que os caras são tão ruins, que de um ano pra outro tem que mudar tanto?

    Acredito que algumas coisas só saem mesmo na base do tentativa e erro. Mas será que a F-1 vai ficar atirando pra todos os lados, até acertar uma? Que tal sentar numa mesinha pra apoiar o papel e escrever essas regrinhas direito?

  • Pois é…

    É a diferença entre o futebol (soccer) e o futebol americano… um prima pela simplicidade, outro até é legal, mas é complicado pra cacete…

    Não a toa o “soccer” é muito, muito, muito mais popular no mundo.. não precisa pensar muito pra entender o jogo (tirando a regra do impedimento, que as mulheres não conseguem entender… heheh)

  • Victal,
    Se não bastasse a alteração das regras para o próximo ano com o fim dos difusores, novos carros e mais investimentos, inventam este absurdo dos pneus terem que ser os usados no Q3 para os 10 primeiros.
    Quanto a regra dos pontos, achei interessante, mas gostaria que o pole e aquele que liderasse o maior número de voltas ganhasse um ponto por esta conquista.
    Valorizar o esforço pelo máximo desempenho dos pilotos, nunca penalizar os mais rápidos.
    Pode até ser interessante para o espetáculo, mas não acho justo como esporte!
    Mas quem sou eu para achar alguma coisa!
    Independente destas e outras cositas mais, não vejo a hora de começarem os testes, voltando a ver e ouvir os novos carros da temporada, que promete!
    Abraços

  • Victor, tudo beleza? Leio muito suas matérias mas acho que é a primeira vez que comento.
    Você falou da simplicidade e eu concordo com você em gênero, número e grau. Fórmula 1 quando eu comecei assistir era o conjunto carro+piloto, e que dava origem há quatro variáveis: carro bom+piloto bom, carro ruim+piloto ruim, carro bom+piloto ruim e carro ruim+piloto bom. Nesta ocasião, quando o carro era ruim, o piloto podia compensar.
    Aí somou-se à isso a estratégia, dando mais variáveis ainda, mas que veio como um fator definitivo de marasmo para a corrida. Tudo bem que a maioria das corridas se ganha fazendo voltas mais rápidas uma após a outra, mas o momento mágico das corridas que é a ultrapassagem, ficou relegado à terceiro plano, nem segundo.
    Tem outras coisas também como a evolução dos freios, a durabilidade dos motores e de outros componentes como o câmbio, por exemplo, que aumentam as chances de assistirmos apenas um desfile em alta velocidade.
    Fico pensando se a idéia do atalho tivesse passado. Aí o seu bolão e o meu aqui ficariam inviáveis.
    Por falar nisso, o meu vai para o quarto ano de sucesso (modéstia a parte), e basicamente se resume em apostas dos três primeiros, pole e melhor volta por corrida, além dos três primeiros colocados de pilotos e equipes no final da temporada. As apostas não precisam ter relação entre si, ou seja, pode-se apostar num campeão sem que se aposte nele vencendo a maioria das etapas, por exemplo.
    E como todas as apostas são feitas antes do início da temporada, existe o “pit-stop”, ou seja, troca de aposta com perda de pontos. Quanto mais próximo do final da temporada, mais penalidade para o pit-stop. E só é permitido após a quarta etapa e antes das três últimas.
    Já foi mais simples, mas ainda é bem divertido.
    Boa sorte no seu bolão. Um abraço.

  • Isso tudo é discutível… A regra do reabastecimento pelo menos propiciava estratégias q podiam levar um cara mais lento à pole, e até a fazer uma boa corrida. Se tirar tudo isso, o mais rápido faz a pole, ótimo. Aí ele larga, abre 30s e ganha a corrida. E a gente dorme no sofá…

  • Eu já não assisti mais da metade das corridas do ano passado por causa dessas regras estúpidas. Agora estava entusiasmado por voltar aos bons e velhos tempos de simplicidade, corridas diretas, sem rodeios, preto no branco. E inventam essa regra tosca. Era evidente que Jean Todt significaria o status quo da FIA – tivesse ganho o Ari Vatanen, poderíamos esperar por mudança de comportamento, mas com o baixinho vai continuar tudo igual. E eu vou continuar assistindo uma ou outra corrida, com desinteresse. E não vou ver os treinos de sábado porque não valem de nada mesmo.

  • Reinaldo, veja bem…
    Claro que a pole não será necessáriamente do mais rápido!

    E se o Schumi resolver nem sair dos boxes no Q3 pra poupar os pneus??? Aí na largada ele, de pneus novinhos, sai ultrapassando todos os 9 primeiros volta-a-volta, inclusive o feliz da Toro Rosso que fez a pole dilacerando os calçados???

  • Assim que li a notícia, tive a exata mesma impressão: “estava indo tão bem”!
    Eu não sei o que acontece, mas fico com a impressão de que essas decisões são tomadas pelo auxiliar de limpeza de cada equipe, um cara que não assiste corrida nenhuma.
    Qual a lógica disso?
    Primeiro, você elimina o reabastecimento e, com isso, libera todo mundo para lutar pela pole sem preocupação com estratégia para a corrida, ou seja, a classificação ficaria MUITO mais emocionante.
    Aí, antes de qualquer um sentir o “gostinho” da melhoria, vêm e melam tudo de novo. O combustível não é mais o mesmo da corrida, mas o pneu tem de ser. Afff!
    Trocaram seis por meia dúzia.
    Cada dia mais chata essa F1. Pelo menos, como a classificação vai continuar não valendo nada (haja burrice para não exergarem que dar um pontinho para o pole melhoria bastante os sábados), é um dia a menos para assistir TV. Continuarei só com as corridas – se muito.
    Fui.

  • Puuuutz, também não caiu bem pra mim…

    Victor,
    E se num sábado estiver aquele sol lindo e maravilhoso, mas na hora da largada cair aquela chuva? Como é que vai ficar? Vão ter que largar com pneu liso e aí o piloto e a equipe vão ficar f#didos, literalmente?

    Sei não, viu…