I am (in) Indy, 12

INDIANÁPOLIS _ Aquelas estatísticas que os norte-americanos seguem fielmente e usam como capítulo bíblico apontam que o grid das 500 Milhas de Indianápolis é o mais apertado da história. A diferença de Helio Castroneves para Sebastián Saavedra é de 3 segundos e pouca coisa mais. Muitos andam no mesmo ritmo, e isso um fator que Vitor Meira, 31º no grid, tem ressaltado. Não que Vitor vá lá ter chances como Helio. Mas não seria de todo estranho que o pole e o penúltimo no grid cheguem a andar juntos em algum momento da corrida, independente de estratégias nos pits ou bandeiras amarelas.

 Não só mais equilibrada, a prova deste ano também gera muito mais expectativa que a de 2009. Justamente porque, para os americanos, Helio pode fazer da estatística história. Uma quarta vitória neste solo o faria tão mito quanto Rick Mears, AJ Foyt e Al Unser. E os nativos adotaram o brasileiro como seu. Nenhum dos locais realmente aparece como candidato para vencer a corrida que tantos teimam em não apontar favoritos. É tipo clássico de futebol, Indy 500 é Indy 500, e vice-versa. Mas além de Castroneves, difícil colocar nesta lista mais do que outros seis nomes — o que já garante uma disputa apertada.

Ninguém vai aparecer com um desempenho que não apresentou até agora em todos os treinos. A única ressalva a uma surpresa só poderia ser vista em virtude do calor. Previam uma corrida na casa dos 26 ou 27ºC, mas pelo que tem feito durante a semana, 32ºC vai ser o mínimo. E tem outro fator que se junta a este ponto: a Indy 500 vai começar uma hora mais tarde, 1 PM aqui, e a temperatura só vai subir durante o desenrolar da disputa. Os pilotos pouco andaram com um piso tão quente.

Então a vitória não deve sair das mãos ou do trio da Penske, ou da dupla da Ganassi ou da dupla dessa Fazzt que se achou de forma exuberante com Alex Tagliani e, mais ainda, com Bruno Junqueira. Um triunfo de Bruno, aliás, seria uma glória que representaria o renascimento de sua carreira nos monopostos, morta depois de anos seguintes como vice da já morta Champ Car e que teve de ser guinada para os caminhões da Truck no Brasil. Junqueira tem uma história ótima: assinou contrato há algum tempo, veio para Indianápolis e quase não pôde correr porque o patrocinador correu do acordo com a Fazzt. Aí o apoiador de Alex Tagliani é que resolveu mexer nos bolsos e garantir o brasileiro. Sete voltas de treino, e Bruno conseguiu, no pior dia possível, a sétima melhor média do grid. Depois, uma hora de Carb Day, e o mineiro já foi quarto. O #33 amarelo que sai em 25º chama muita atenção.

Tagliani sai em sexto. É um que deve fazer muito bonito. É um que deve em algum momento liderar a prova. Porque liderar a prova, além da pompa que gera, traz dinheiro. Sua Fazzt é nova. O canadense corre por si e por todos. E torce para que Junqueira se livre logo dos outros para vir para as cabeças acompanhá-lo. O problema da Fazzt em relação às concorrentes é justamente seu noviciado e o que os muitos pit-stops podem jogar contra na hora da definição.

As Ganassi podem não ter, e não tem, a velocidade da Penske. Mas isso vai às favas no domingo. A Ganassi nunca anda mal aqui. Mais, a Ganassi sempre anda na frente, embora só tenha conquistado duas vitórias desde 2000, quando voltou a participar da prova. Seus dois pilotos já ganharam uma vez cada a Indy 500. Dario Franchitti, na época da Andretti Green, bebeu leite em 2007 e um ano depois foi a vez de Scott Dixon. Respectivamente, saem em terceiro e quinto no grid. E fatalmente aparecerão na liderança da corrida e em algum momento levarão todos a pensarem que ninguém vai superá-los. E Chip Ganassi quer fazer da estatística história e ser o único cara a vencer a Daytona 500 na Nascar e a Indy no mesmo ano.

A Penske compõe sua armada também com Will Power e Ryan Briscoe, dois australianos em momentos distintos. Power é o nome do campeonato. Sobrou nos mistos, só não venceu as quatro provas por força das circunstâncias. Mas não andou bem no oval do Kansas. Nada que faça pensar que seu negócio não seja curva para a esquerda. O líder da temporada andou muito bem sempre nos treinos aqui. Vem na toada de Helio, e assim deve ser na corrida, cozinhando o galo para que a refeição seja devorada no fim. De Briscoe poderia se esperar o mesmo. Mas O Briscoe 2010 não é tão forte como o de 2009. Seu ano é tão apagado que é possível até colocá-lo como azarão deste grupo de sete favoritos.

O resto entra na conta da zebra. Talvez a Panther com Dan Wheldon e Ed Carpenter possa ocupar bem este posto. Porque me passou muita confiança, Raphael Matos e sua Luczo Dragon/De Ferran não devem ser descartados. A Newman/Haas e Hideki Mutoh também estão acertadinhos, vão fazer alguma graça.  Tony Kanaan e essa sua história às avessas vão mostrar de vez se o caminho tinha de ser inverso ou se a sina é eterna.

E tem também as meninas Simona de Silvestro, Bia Figueiredo e Sarah Fisher, as três que contarão com um carinho e uma torcida especiais.

Pois que senhoras e senhores liguem logo estes motores. A única certeza que todos têm é de que vai se tratar de uma corridaça.

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