Abu seita, 6

SÃO PAULO | O sopro de esperança que Sebastian Vettel precisava para deixar de ser um simples ajudante e tentar ser campeão chegou a ventar forte no deserto de Abu Dhabi. Se os treinos classificatórios na F1 têm valido tanto quanto as corridas, o alemão da Red Bull pode dizer que esteve com uma mão na taça por conseguir o que dele se esperava, a pole-position, e ver uma inesperada ajuda da McLaren. Só que Fernando Alonso, que parecia fadado a ser quinto no grid — resultado que premiaria Vettel com a taça —, achou uma volta no fim da sessão e pulou para terceiro.

Em qualquer situação, então, a vida de Mark Webber ficou mais do que complicada. Em nenhum momento o australiano, que já sabia contar com a ajuda do companheiro, e desafeto, andou rápido o suficiente para garantir um lugar na primeira fila. Andou para ficar em quinto, mesmo, e vai precisar de uma ajuda dos deuses aborígines da Tasmânia e de todos os santos da Austrália para ser campeão da F1.

A primeira parte foi aquela coisa de sempre: definir quem é o coitado que fica no Q1 junto com Hispania, Virgin e Lotus. Como a Toro Rosso se estabeleceu ultimamente como a pior das veteranas, o negócio foi caseiro. Foi no final que Jaime Alguersuari superou Sébastien Buemi por 0s117 e deixou o companheiro suíço de cara feia — com trocadilho embutido. As três últimas filas seguem uma certa ordem. A Lotus ocupa a antepenúltima, sendo que Jarno Trulli venceu Heikki Kovalainen. Depois, Timo Glock, como de praxe, foi melhor que Lucas Di Grassi. E Bruno Senna bateu Christian Klien para não ficar em último.

Na parte válida, Alonso apareceu na frente, até surpreendentemente, com 1min40s170. Rosberg — este, sim, mais surpreendente ainda — terminou em segundo e Vettel foi só o terceiro, com Hamilton ainda à frente de Webber. O resultado foi só um engodo, por assim dizer. O Q2 já foi mais realista.

Porque Vettel já veio babando para encaixar 1min39s874 e registrar a então melhor volta da história do parco circuito de Abu Dhabi. Que os demais o buscassem. Foi o que Button tentou fazer, terminando a 0s140 do tempo do alemão taurino e provando que, enfim, a McLaren havia se reencontrado, ainda que tardiamente, na temporada. Rosberg tornou a aparecer bem e pôs-se à frente do crepuscular Webber.

Os dez minutos decisivos viram um fortalecimento tamanho da McLaren que levaram até a pensar que o bote seria dado. Hamilton baixou para a casa de 1min39s5. Webber mal conseguia se aproximar. Tomou de Button também. Aí veio Vettel e mostrou como se faz: 1min39s394. E Webber lá, em quarto, sofrendo. Alonso teve, então, sua última tentativa de sair da quinta colocação e evitar o título da véspera que estava com Vettel. O 1min39s792 o deixou em terceiro e fez que o aparecido Luca di Montezemolo vibrasse nos boxes da Ferrari.

Se o GP de Abu Dhabi deste domingo, às 11h (de Brasília), com acompanhamento ao vivo e em tempo real pelo Grande Prêmio, ficar deste jeito, Alonso é tri e pode comemorar andando na montanha-russa da Ferrari, como fez com Massa, sem se borrar de medo. E como diria o poeta, o filósofo e o vagabundo, nada como um dia após o outro: a semana inteira a discussão era se Vettel ajudaria Webber. Pois agora está mais fácil o australiano atrapalhar a vida do espanhol para ver o moleque de 23 anos chegar ao então inimaginável título de 2010.

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