Brasileirinhas do GT, 6

INTERLAGOS | A prisão de Haroldo Scipião, presidente da Federação Cearense de Automobilismo (FCA), e de Hybernon Cysne, piloto da Copa Montana, foi mais um fato que joga luz sob os problemas do esporte a motor no Brasil — e, consequentemente, sob a forma com que este é gerido. Procurei os dois mais recentes presidentes da CBA para que os dirigentes comentassem as acusações de corrupção, formação de quadrilha, crime contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro a que respondem Scipião e Cysne, presos na última última quinta.

Em entrevista em Interlagos, Paulo Scaglione, ex-presidente da entidade, defendeu Haroldo, a quem classificou como dono de “um nível de honestidade acima do normal”. “Eu já sabia que a federação vem há uns 12 meses sendo questionada junto à Receita, e pelo que eu sei, atendeu todas as solicitações. A federação tem os clubes e os clubes têm os pilotos. Então ela está para atender tanto os pedidos dos clubes quanto os dos pilotos. Não sei no que eles estão se pegando, mas a federação não tem envolvimento financeiro. Se o piloto tem um patrocínio e está correndo na Inglaterra, a federação, em função das isenções, pede uma autorização para o Banco Central e encaminha o patrocínio, e aí é feita a remessa do dinheiro. A federação é apenas um representante de um piloto”, justificou Paulo.

Scaglione fez uma comparação inusitada ao tentar explicar a ausência de responsabilidade da FCA no caso. “É a mesma coisa que um dono de banco ser preso porque um narcotraficante fez um depósito na conta dele. O dono de banco não tem nada a ver com isso. Esse é meu ponto de vista”, falou.

Para o ex-dirigente da CBA, se alguma entidade tem culpa, esta é a própria CBA — à qual faz oposição desde que saiu do poder. “Infelizmente, nós temos um presidente que — não sou só eu que digo, vocês da imprensa e todos os envolvidos com automobilismo dizem — deixa a desejar e não assume nada, e a CBA tem, sim, responsabilidade, porque é ela que credencia a federação e dá o alvará de funcionamento. Ela pode não ser responsável pelo que a federação faz, mas tem a obrigação de averiguar e dar assistência e, se for o caso, punir. Então a CBA tem tudo a ver”, falou.

Em mais uma comparação curiosa, Scaglione reiterou que a CBA não pode fugir de sua responsabilidade. “É a mesma coisa que um cego e uma pessoa sem braço terem uma carteira de motorista. A responsabilidade é do Detran. Agora, todas as federações estão sujeitas a este tipo de coisa”, disse Paulo, assumindo estar “totalmente surpreso” com a prisão de Scipião.

“Eu acompanhei isso há quase um ano porque, quando fiquei sabendo, liguei para o Haroldo e perguntei se ele precisava de alguma coisa — é uma área da minha especialização. E ele disse ‘não, Paulinho’ — ele me chama assim —, ‘não precisa se incomodar porque está tudo em ordem, nem estou mexendo com isso porque eles estão pegando a documentação lá com o contador’. Então esta busca e apreensão que foi feita é mais para justificar um trabalho da PF, que tem de ser respeitado, mas não havia a necessidade, em se tratando da federação, de se tomar essa atitude.”

Procurado, Cleyton Pinteiro, atual presidente da CBA, pediu um tempo para se inteirar sobre o assunto, mas desde já, manifestou a inocência da entidade.

Além da CBA, Scaglione responsabilizou, ainda que de maneira sutil, o próprio Hybernon Cisne. “Não justifica a federação receber uma verba para repassar para o piloto dela. Se alguém repassou para a federação, esse alguém foi o piloto. A federação não tem o relacionamento jurídico com qualquer outra empresa. Essa operação só pode ser feita com o piloto. Eu me ofereci de ir para lá para ajudá-lo, como profissional”, disse Paulo, que é advogado.

Apesar de defendê-lo e de compartilhar intimidade com Scipíão, Scaglione negou que o dirigente do Ceará fosse da sua chapa durante sua gestão. “Não. O Haroldo é uma pessoa íntegra. Na minha primeira candidatura, eu fui eleito presidente por falta de opção. Nunca pedi voto para ninguém. E o único que não manifestou intenção de voto foi o Haroldo, que me ligou e falou ‘Paulinho, eu não quero me envolver com as coisas do jeito que estão, mas você pode contar comigo’. Ele nunca fez parte da minha chapa”, falou.

“No segundo mandato, no final, eu tive de retirar o Valduga por n problemas e eu busquei nele a presidência do CTDN, e aí que eu descobri a capacidade técnica e administrativa dele que eu não conhecia. Eu fui muito falho nesses sete anos, porque ele estava do meu lado e eu não conseguia enxergar. Então no último ano eu tive uma prova do Brasileiro de Kart e vi o que ele faz pelo automobilismo do Ceará”, encerrou.

A atual gestão da CBA, via assessoria de imprensa, afirma que Scipião fazia, sim, parte da chapa de Scaglione no comando da entidade.

* Com Felipe Paranhos

Comentários

  • Puta embrolho esse!!!

    Ninguem que está falando, fala coisa com coisa..

    O cara meteu ou não meteu a mão na grana, em PF?

    Vcs que deram o fragra mas tinha din dim lá?

    Essas perguntas todas estão nas manchetes em todo lugar..
    Mas, se a PF foi lá prendeu oito, e ainda está investigando podem ter certeza que lá tem coisa feia… E isso ainda vem pra SP e RJ, e ai o caldo vai ficar grosso

    E é muito bom a PF fazer o que está fazendo, vai dando transparencia nessas federações com vidro “fume” pra esconder a bandalheira…..
    Tem mais muito mais pra aparecer, essa operação pódium é ainda um primeiro treino livre, faltam ainda os outros treinos livres depois o cronometrado. Ai sim vem a grande corrida que vai ser eletrizante. E eu como cidadão Brasileiro aposto tudo o que tenho na equipe da PF….E ela vai ganhar, e junto ganharemos nós que torcemos para o esporte a motor…
    A atitude da PF foi tão cirurgica que até o “pintor” não soube o que dizer… Aliáz, nunca soube!!!!
    PF pau neles….E parabéns….

  • Dessa vez acho que o Sr. Scaglione foi incoerente. Pois como inocentar a Federação e culpar a Conferderacao? O mesmo argumento que usa para inocentar a Federação serviria também para a Confederação. Esse e’ um caso que precisa ser investigado de baixo para cima. Eu já disse, o automobilismo oferece condições para ser uma grande lavanderia. Se e’ não sei, mas que pode ser, pode.
    Abcs

  • Caro Victor

    Na condição de assessor de imprensa da CBA na gestão anterior, presidida por Paulo Scaglione, informo que está equivocada a afirmação de que “Scipião fazia, sim, parte da chapa de Scaglione no comando da entidade”, atribuída à atual assessoria de imprensa da entidade. Scipião nunca fez parte das chapas que levaram aos dois mandatos de Scaglione.

    Sua participação, infelizmente, ocorreu apenas entre novembro de 2008 e 15 de março de 2009, período no qual ocupou a presidência do CTDN após a demissão de Nestor Valduga. Digo “infelizmente” porque o dirigente cearense, embora em curto período, demonstrou enorme competência e lamentavelmente não teve oportunidade de ocupar o posto por mais tempo.

    Abraço,