As quatro apostas

SÃO PAULO | Reproduzo na íntegra o texto que escrevi para a primeira parte do especial da F1 do Grande Prêmio, para comentários e debate dos caros leitores:

É um exercício que parte de uma linha racional, baseado num fato que até pode ser considerado um tabu recente: desde 2007, a F1 só forma campeões inéditos. Evidente que, de Jerôme D’Ambrosio ou Narain Karthikeyan — que representam o que há de pior em termos de equipes — a Vitaly Petrov — o piloto de menor habilidade dentre os que estão numa equipe quase-grande —, não vai sair um novo nome para a história. Aí se analisa que só há duas chances, ainda que verossímeis: Mark Webber e Felipe Massa. Numa forçada de barra, encaixam-se outros dois: Nico Rosberg e Nick Heidfeld.

Curiosamente, estes dois grupos de opções apresentam membros de perfis semelhantes e carreiras ligadas. O primeiro tem o australiano Webber e o brasileiro Massa, de países continentais com histórico notável na F1, Brabham e Jones para um lado, Fittipaldi, Piquet e Senna para o outro, um sem ser campeão há três décadas, outro há duas. Quando Webber estreou em 2002 pela Minardi, lá estava Massa, também em sua primeira corrida, com uma Sauber. Os dois passaram muito perto do título: Webber o perdeu no ano passado na última prova e Massa, em 2008, na última curva. Acidentes marcaram as carreiras: a clavícula quebrada de Webber depois de cair de bicicleta foi decisiva para sua derrota em 2010; a mola que atingiu a cabeça na classificação do GP da Hungria tirou Massa de combate durante o resto da temporada de 2009. Inegavelmente bons, nem Webber nem Massa têm arroubos de pilotos fora-de-série, contudo, e diante de Vettel e Alonso, respectivamente, são vistos na maioria como segundões.

Em suma, aos olhos da F1, não deve ser fácil ser Webber ou Massa.

Rosberg e Heidfeld têm quase o mesmo nome — pelo menos, a mesma raiz. Os dois são alemães, Nick é oito anos mais velho e tem seis anos a mais de experiência que Nico, 11 a 5. Rosberg entrou no lugar de Heidfeld na Williams em 2006. Os dois voltaram a se encontrar na Mercedes no ano passado: o veterano parecia fadado a ser reserva, ao passo que o mais jovem dava muito trabalho ao ressurgente Michael Schumacher em treinos e corridas. Não é o mesmo número de voltas rápidas no currículo, 2, que os aproxima. Inegavelmente bons, nem Rosberg nem Heidfeld têm vitórias. E isso pesa um bocado. Ainda mais para Heidfeld, que outra vez estava à beira da aposentadoria de piloto titular e foi resgatado pelo infortúnio de Robert Kubica naquele malfadado rali.

Aí a gente mescla tudo: Heidfeld já foi companheiro de Massa. Rosberg, de Webber.

Os quatro têm em 2011 a meta de superar tudo que já ouviram de críticas e dúvidas sobre o que são capazes. Os quatro têm de se superar. E parece, mesmo, que 2011 é decisivo para os quatro. Há quem fale fortemente que será o último ano de Webber na Red Bull — principalmente o consultor Helmut Marko, desafeto de carteirinha do australiano —, que seria decerto o último de sua carreira. Rosberg não fez da Williams grande novamente e foi parar na Mercedes pós-Brawn. Bater Schumacher é algo para estufar o peito, mas não enche barriga nem garante emprego. Heidfeld ganhou a primeira chance de voltar pelas mãos de Peter Sauber no fim de 2010 e ganhou a segunda agora pela Lotus Renault. A terceira seria demais. E Massa precisa correr por este ano principalmente para apagar o que não fez no ano passado, sem as desculpas do retorno pós-acidente ou dos pneus que aqueciam mal, sempre ouvindo os rumores de que vai dar lugar a alguém.

Os quatro têm como rivais justamente os cinco campeões em atividade — Fernando Alonso, Lewis Hamilton, Jenson Button e Sebastian Vettel e esse Schumacher que beira o maniqueísmo da glória e da incógnita. Digamos que a tarefa dos quatro seja das mais duras. Digamos que a tendência, naquela linha racional, é que não consigam manter a sina da F1 desde 2007. Digamos, então, que os quatro partem para o começo da temporada daqui alguns dias inconscientemente com certo medo de seu fim

Comentários

  • Pois acho que a sina não vai se confirmar: Acho que esse ano teremos um novo bicampeão alemão ou correndo por fora um novo tricampeão.

  • Então… Se fosse pra apostar em um dos “inéditos”, eu iria de Webber. Com Alonso como companheiro, Massa não tem a mínima chance.
    Se bem que pessoalmente, acho que o tabu será quebrado. e no pé que as coisas estão, com pneu gastando mais que mulher em shopping center, eu apostaria naquele que é mais gentil com os calçados, num gentleman. Eu iria de Button.