Fala, Bia

SÃO PAULO | Conversei há pouco com Bia Figueiredo, que oficialmente não disputa a corrida deste fim de semana da Indy em Barber, no Alabama, tocando meu bandolim.  Em seu lugar, a Dreyer & Reinbold vai colocar o francês Simon Pagenaud. Eis a entrevista na íntegra, dividida em tópicos:

O incidente em São Petersburgo
“Eu estava virando para a esquerda, e a partir do momento em que houve o toque, o volante virou sozinho. Imagina que, quando você bate o carro, o volante dá aquela sacudida para o outro lado, e na volta ele pegou minha mão e acaba quebrando direto. O volante da Indy é tipo o da Renault, meio retangular — quando era circular, isso não acontecia; é a barra que acaba pegando na nossa mão e causando fratura.”

O resto da corrida
“Doeu na hora, mas… vambora! Eu tive um toque com a Danica, fui para os boxes, a suspensão estava OK, trocaram os pneus, o volante estava torto, e aí começou a doer bastante. O pior foi quando trocaram do pneu macio (vermelho) para o duro (preto). O preto acaba dando mais aderência na frente do que na traseira, que fica mais incontrolável. E aí foi ruim de agüentar, porque para virar o volante e segurar a traseira todo o momento, doeu demais, e eu tive de diminuir muito o ritmo. Quando voltou com o vermelho, melhorou de novo.

Eu até pensei em parar, porque a cada ‘bumping’ que eu pegava, tinha vontade de chorar. No fim da prova, eu ainda estava sem água, mas eu tinha noção de muita gente estava muitas voltas atrás, quatro ou cinco, e isso me manteve lá para que eu terminasse a corrida bem, sobretudo nestas circunstâncias.”

A recuperação e o futuro
“Eu me sinto super bem, já tenho todos os movimentos da mão e estou recuperando a força na região, mas para Barber ia ficar muito em cima. Para este fim de semana era impossível. Os médicos não me liberaram porque o osso não está completamente calcificado. Eu tenho de continuar a fisioterapia brava, então faço de quatro a cinco sessões por dia para acelerar este processo.

Na semana que vem, os médicos vão fazer um novo exame. Acredito que para Long Beach já vai estar OK. (E para São Paulo) Vou, com certeza. Eu entendi muito bem os médicos. Seria a pior coisa tentar correr em Barber e machucar mais ainda, e aí perder o Brasil e Indianápolis. O mais importante é ficar bem agora para chegar bem a São Paulo.”

Presença em Barber
“Eu vou na sexta-feira para eu maximizar a fisioterapia e a preparação física, já que eu passei uma semana inteira de repouso, e aí vou para acompanhar a equipe e ter uma boa oportunidade para estar ali perto, vou aprender e ver as coisas de um outro ângulo.”

Justin Wilson
“Ele vai correr porque a fratura dele foi muito pequenininha. Ele vai correr com um suporte de carbono para apoiar a mão. (A importância) Ele tem muita experiência e confiança, principalmente na classificação. Eu olhava os dados, comparava alguns detalhes que fizeram a diferença, mas que somaram 0s7 ou 0s8, e a diferença em posição é de sexto para 20º.”

Gustavo Sondermann
“Eu fiquei extremamente triste. Estava aqui sozinha e nem vi a corrida. Só vi depois porque as pessoas começaram a me ligar, mas na hora eu fiquei tranqüila por terem dito que ele estava bem e estabilizado, e de repente veio a notícia que ele tinha tido morte cerebral. Eu fiquei arrasada. A gente correu junto no kart e eu conhecia toda a família dele. E isso faz a gente se questionar sobre tudo na vida. É uma situação muito ruim. Eu acabei me acalmando depois por causa da minha recuperação, que exigem uma determinação e uma disciplina muito grandes, e foi o que mais me conformou.”

 A segurança na Indy
“Eu me sinto segura dentro do carro de Indy. Eu vejo o quanto eles trabalham nesta parte de segurança, e neste ano lançaram um banco especial com um outro tipo de construção para melhorar o impacto nas batidas. Um ano atrás, a Dallara fortaleceu as laterais do cockpit, então você vê que eles estão constantemente pensando nisso. Se você vir o acidente do Mike Conway em Indianápolis no ano passado, foi destruidor. Ele quebrou a perna, mas se tivesse sido anos atrás, ele não teria passado dessa a limpo.”

Comentários

  • Nos Estados Unidos, estão constantemente evoluindo a segurança dos carros. No Brasil, um piloto morre em 1996 e outro em 2011 com a mesma estrutura de gaiola de um carro.
    Sobre o volante, cada equipe pode produzir seu volante sim, mas neste carro já é sabido que ainda é necessário melhorar um pouco. O problema das mãos em um circuito de rua como St.Pete é que o piloto busca corrigir e se safar de um acidente ate o ultimo instante, então é dificil desistir e soltar o volante.
    André / Piloto no http://www.f1bc.com

  • Reparei na última corrida da Indy que os volantes não são padronizados, cada equipe tem um modelo diferente, ou ao menos existem várias opções.
    Esse negócio que a Bia falou de volante circular ou retangular eu acho é coisa só da equipe dela, não da categoria como um todo.

  • Nao gosto de incluir o Dallara da Indy entre os carros mais seguros. Definitivamente, eles nao estao gabaritados para correr a 360 km/h de media, como as que se atinge em Indianapolis.

    Podem haver melhorias, mas nao passam de paliativos para um carro projetado em 2001, para velocidades menores as atingidas atualmente e que, claramente, ja esta obsoleto. Nao vamos criticar a categoria, pois passou por uma transiçao dificil, num momento dificil e passou bem nisso, alem desse mesmo corpo tecnico ter a noçao que esse chassis ja teve seu tempo e trabalhou duro em obter uma formula ideal de novo carro que fosse seguro, adaptavel e principalmente, barato.

    Abraço!