Um pouco mais de clareza

SÃO PAULO | Um dos tantos pecados da Stock Car e da CBA — lembre-se, não dá para dissociar — durante as corridas acaba sendo a falta de transparência e/ou clareza no que está sendo feito em termos de punições. Na corrida de ontem em Ribeirão Preto, nós soubemos dos drive-throughs de Luciano Burti e Rodrigo Sperafico por meio da tela de cronometragem, que apenas indica o termo em inglês e o número do carro que está sendo penalizado. Isso acaba geração uma série de ilações em vez de informações.

Se a gente ouve que a punição de Burti se deu nos boxes, logo se imagina que tenha sido uma punição por excesso de velocidade. Só depois, bem mais tarde, que se fica sabendo que o piloto acabou passando por dentro em um cone que foi posto como divisória nos boxes, e o correto seria passar por fora.

Com Sperafico, o negócio foi diferente. A equipe mal teve conhecimento do motivo que foi punido durante a prova. Jorge Freitas, o chefe, foi tirar satisfação com os comissários, que também pouco disseram. Falei com Rodrigo ainda em Ribeirão, quase antes de voltar à casa, e ele me falou que Freitas teve de pedir explicações a Nestor Valduga para entender o que aconteceu. O presidente do CTDN, levemente apressado para pegar voo, respondeu que o paranaense havia passado Giuliano Losacco em bandeira amarela na reta principal — e esta cena deu para ver pela TV. Nervoso, Freitas retrucou e falou que Sperafico estava retomando a posição porque era Losacco quem havia feito a ultrapassagem — que o corte de imagem não mostrou. E  Valduga  foi-se.

É evidente que nada vai dar de volta os pontos que Sperafico deveria marcar na corrida de ontem. Mas é mais evidente ainda que 1) os comissários e a direção de prova não dispõem de recursos 100% concretos para tomar suas decisões, afinal a  corrida que eles veem é aquela que a TV passa (e, portanto, eu também me julgo no direito de ser um comissário por dispor de visão televisiva); 2) chega a ser estranho que apenas e tão-somente Valduga tivesse a resposta para o problema — e pouca atenção para dar a quem lhe questiona; e  3) há uma certa sanha para punir Sperafico.

Notei bem que a comissão dos pilotos está bem atuante neste princípio, tanto que os três primeiros colocados da prova de ontem classificaram como “muito boa” a posição da CBA e da Vicar diante das exigências feitas na última sexta-feira. E ainda que não seja obrigação deles, como Cacá Bueno falou, que, abaixo da aba segurança, comecem a bater o pé para as questões mais do que dúbias destes regulamentos escritos pela entidade-mor, bem como para as decisões que são tomadas no calor da corrida e que causam distorções absurdas como esta — e outra: não que tivesse acontecido, mas se os comissários, a direção de prova e o CTDN erram, nem um pedido formal de desculpas há; e desculpa não enche barriga nem pontuação de ninguém. 

Que os pilotos, então, aparentemente unidos que estão, cobrem a colocação de mais câmeras nas pistas para que os comissários disponham de provas absolutamente concretas para seus sacramentos e que tenham um recurso gráfico ou auditivo para que todos tenham conhecimento do que está sendo feito pela direção de prova — pode ser em português, mesmo, se resolverem importar um sistema como o da F1. Aí a gente poderia ver um “drive-through penalty for 19 car for overtaking on yellow flag”, ou coisa parecida. E algo que não precise de grana ou tecnologia: um pouco mais de respeito aos profissionais que gastam tubos para montar uma equipe, de viagens a peças, e se veem na situação de repensar se todo esforço vale a pena diante de fatos como este.

Ontem Max Wilson falou em uma nova fase do automobilismo. Pois que seja, também, neste sentido. Se não resolvem do lado de lá, que os pilotos toquem o puteiro e não esperem cronograma de ninguém para, se preciso forem, tirarem outras pessoas, como acabou acontecendo com Sérgio Berti. Senão as polêmicas de sempre — como a perda de 30 pontos de Maluhy em Interlagos e a regra que trata com exclusão um recurso que a equipe ou o piloto aplicarem e perderem — vão continuar saltando aos olhos, como sempre foi. E só foram três etapas disputadas.

Comentários

  • Oa pilotos só abrem o bico quando acham que foram prejudicados, como posso dizer, individualmente. Aí aparece um amiguinho e ajuda o cara a chorar, como a dupla Camilo-Cacá. Não falta vergonha na cara só dos dirigentes, mas também nos pilotos.

  • Por utilizarem a TV para decidir por uma punição, fiquei sabendo que um dos comissários se distraiu porque o filho do amigo dele era um dos entrevistados da Glenda no EE. E numa das 830 bandeiras amarelas, ele viu o menino e ficou emocionado.
    Nas corridas que só passam o VT, a punição é dada 1h depois da corrida.
    Na boa, a Estoque esta muito várzea…me recuso a assistir enquanto estiver assim.

  • Tirando o lado Pilotos X CBA e Vicar, interessante notar como os carros ainda são ruins.
    Quantos carros tiveram problemas de caixa de direção ontém?
    E o assoalho que se soltou no meio da corrida?

    Pelo jeito estão conseguindo ter uma certa força quanto a regulamentação, talvez agora a coisa fique minimamente decente, mas e quanto a QUALIDADE dos carros????

  • O aventado risco de punições serem aplicadas com injustiça (sem entrar, aqui, nesse mérito; punições injustas acontecem em todas as modalidades do esporte mundial) faz-me lembrar de uma conversa que tive com Cleyton Pinteiro, presidente da CBA, em abril de 2010, durante a etapa carioca do Porsche GT3 Cup Brasil.

    Depois de participar do briefing com os pilotos da categoria, tive com Pinteiro por 10 ou 15 minutos. Conforme relatei à época no meu blog (licença para o link: http://bit.ly/bJDyDp), Pinteiro expôs aos pilotos que acabaria a aplicação de punições por impulso. “Quem tem de apitar na hora é juiz de futebol”, foi a frase de efeito que aplicou, na ocasião. Disse, como pode-se ver no post indicado, que infrações e irregularidades seriam avaliadas sem atropelos para que caísse a zero, ou a quase isso, o risco de injustiças.

    Quanto ao acompanhamento das provas que os comissários brasileiros têm pelos monitores da TV, caro Victor, recomendo a você e aos seus leitores uma rápida passada de olhos no que postei no blog em março (licença para o link de novo: http://bit.ly/fhfoOd). Nunca é demais sabermos como isso funciona noutros rincões do mundo.

  • Bom, a punição do Burti foi cantada na hora que aconteceu pelo narrador televisivo. Como os tais cones deveriam estar lá desde o primeiro treino, foi mancado do Burti, que fazia boa corrida. Aliás, deviam então fazer uma fila de cones, não colocar só dois no meio da pista (ou rua, no caso) em plena curva.
    Não assisti a corrida toda, nem vi o que aconteceu com o Sperafico.

    • No caso do Burti, Cristiano, ele admitiu a responsabilidade pelo erro. Alegou que estava suando e, no momento em que foi contornar o “cotovelo” na área de boxes, estava enxugando o suor que lhe escorria sobre os olhos, o que provocava ardência. Salvo engano, deu essa explicação durante a corrida, em entrevista à Globo.

  • Se os pilotos estão todos unidos para melhorar a segurança e cobrar decisões coerentes da Direção de Prova em relação aos acontecimentos da corrida, porque na hora um representante da equipe do Losaco não foi até a direção de prova e explicou o ocorrido? Pode ser que como não havia informações sobre a punição ninguém tenha percebido que foi esse o motivo, mas agora poderiam esclarecer a situação com a CBA para que em outras situações dessas perguntassem a equipe do piloto ultrapassado o que tinha ocorrido (já que a punição foi um drive-through que não tem como voltar atrás agora).

    Outro dia no programa do Reginaldo Leme vi o Thiago Camilo concordando com outro piloto que teve 20s acrescentados ao seu tempo que a punição foi injusta. Se todos os pilotos pensavam assim (ou todos os chefes de equipe), eles deveriam passar essa posição para a CBA voltar atrás da punição.

    Agora se cada um for ficar reclamando somente os seus problemas e aproveitar os problemas das outras equipes vai ficar sempre essa bagunça!!

  • Assisti a prova, porque dessa vez passou na íntegra, sem aquela sacanagem de melhores momentos. Também não entendi a punição ao Sperafico, essas punições fogem do bom senso e com uma só, acaba o ano da equipe e do piloto.

    Gostei de ver o Losacco tendo destaque na prova. Torci muito pra ele na época do bi e lembro da estréia espetacular dele na stock em Curitiba, 2003. Só não entendo porque de 2007 pra cá, nunca mais ele andou na frente. O que você sabe sobre isso Victor?

    abraço!

  • Essa é boa!!! Quer dizer que os comissários Gordons da Estoque tem a mesma transmissão da Globo?!?!?! Ou seja, no meio da corrida, eles assistem ao Esporte Espetacular…é isso?

    • Putz grilo, é mesmo…no meio da corrida, então, eles correm o risco de assistirem ao Cleyton Conservani escalando a “Pedra do Diabo” com aquela típica cara de cagaço…kkk…