Os Bin Ladens do automobilismo

SÃO PAULO | Pois vejam esta matéria que o UOL fez hoje sobre o Rio, a Olimpíada e os autódromos — colocando num plural que todos sabem não existir — e o impasse que está sendo criado. Dizem que não se constroi nada visando 2016 se não houver cronograma e ação para erguer a nova pista de Deodoro. Sei…

Bom, aí foram entrevistar o secretário do Ministério dos Esportes — setor que espera que o projeto para dar início às obras do novo autódromo seja aprovado na semana que vem. Não falou. Procuraram o COB. Nada. A prefeitura do Rio também calou-se.

Entrevistaram, então, o presidente da Faerj, Djalma Neves. Confessou que “foi um erro cometido lá atrás” terem deixado construir algo dentro de Jacarepaguá. Revelou que está rendido no caso e que não tem plano B. E que um novo autódromo não sai do papel em menos de um ano — vão atrasar a obra dos Jogos em um ano também?

Puxa vida, um erro foi cometido, padre, eu pequei. Mas não estava óbvio que não havia nenhum sentido de construir um complexo esportivo que mal é utilizado para competições e está sucateado? Que era puramente birra de um prefeito que passou a odiar automobilismo porque pessoas do meio eram aliadas a seu opositor nas urnas, Luiz Paulo Conde, no começo da década passada? Que as obras dos Jogos vão começar, independente de autódromo? Que esse autódromo não vai sair?

Aí acabo de ler no Twitter de Téo José que o governo de Goiânia decidiu pelo fim do autódromo local para fazer condomínios e vão fazer um novo — isso será aprovado pela Câmara ainda, mas o governo tem maioria de representantes na casa. Perguntei a ele se a Truck tinha alguma proposta e Téo, que estava lá na capital goiana, me respondeu: “Não, apenas está fazendo obras pequenas para realização da prova, já que está um lixo. Mas não uma grande reforma. Como faz sempre. A Truck acertou algumas obras, nada grande, como fez há três anos, e aí os caras daqui não fazem mais nada, e para ter condições de correr, a Truck faz tudo de novo, os caras daqui vão apenas fazer coisas para se ter luz, água, que não tem. Coisinhas básicas”, falou o narrador.

Téo também falou que “vão mostrar um projeto do tal (Hermann) Tilke na quarta, mas precisa ser aprovado, o terreno atual tem destinação especifica. Não é tão simples, mas devem conseguir, mas temos de ver o que vão falar. Disseram que só fecham este com o outro pronto.”

Ou seja, um discurso que já ouvimos.

Giuseppe Vecci, antenado na conversa, respondeu que o novo autódromo será construído em uma fazenda da Emgopa (Empresa Goiana  de Pecuária e Agricultura) a 8 km da pista atual e confirmou que o governador Marconi Perillo prometeu em audiência que só deixaria o atual autódromo quando o novo estiver pronto.

Ô, minha gente, vamo falá a verdade, de novo, só pra lembrar: o automobilismo está acabando aqui. É sério. Tá tudo entregue, como esse presidente da Faerj está entregue e refém da Justiça, como ele mesmo disse na reportagem. Canelinhas, lembram, aquele autódromo de Santa Catarina? Já era. O kartismo brasileiro, se não for nos moldes do que vem sendo feito no Super Kart Brasil, já era, e não adianta criar uma comissão em cima de outra. O esporte não vive de comissão, embora comissão deixe muita gente do esporte bem vivo. Num outro lado, precisaram os pilotos fazerem algo depois da morte de um colega para que a CBA desse uma baixada de topete, e nem todas as atitudes que foram tomadas resultaram em boa coisa — uma cabeça foi tirada, como bode expiatório, e uma outra comissão — dissidente é uma palavra forte, mas cabe —, a da Copa Montana, foi criada. Só admitiram publicamente um caso de doping porque revelamos em nossa gloriosa Revista Warm Up. E são muitas outras coisas que se ouve aqui e ali, que ainda estão para estourar e pegar muita gente de jeito, que, me desculpem o pessimismo, talvez sejam os últimos momentos antes da vida pré-balzaquiana, me fazem concluir que não tem mais jeito.

A gente vê a História acontecer hoje a nossos olhos, e muitas vezes não dá conta de sua grandeza porque estar acostumado a olhar nos livros o que houve de importante no mundo, como se fôssemos meros observadores de uma realidade paralela.  E sem um estudo prévio ou uma percepção mais holística, acabamos dimensionando pouco as consequências de todos os episódios. O automobilismo brasileiro é dinheiro de pinga perto do que o século de Bin Laden vem passando, mas é pertinente analisar como alguns dirigentes e políticos daqui agem como terroristas e tenham uma teimosa tara por destruição.

Nossos olhos estão vendo o esporte a motor nacional entrar para a História na condição de passado, talvez meio acostumados, pouco marejantes ou até míopes. Culpa dessa gente que os mantém fechados há um bom tempo e só os arregala quando ouve o ronco dos interesses.

Comentários

  • Cambada de filasdaputa! Acabaram com as minhas melhores recordações do esporte a motor. Acabaram com grandes páginas da história do automobilismo pra contruir uma piscina para os mosquitos da dengue. Mercenários, venais, hipócritas e oportunistas.

  • “O Fora da Lei”

    “O automobilismo brasileiro sofre de velho mal: a falta de organização. As leis, que deviam organizar tudo tudo e ser respeitadas, no caso só servem para aumentar a confusão. Começou com o Sr. João Goulart, em 63, criando a Confederação Brasileira de Automobilismo, a que dava toda responsabilidade pela direção do esporte sobre rodas. Depois veio o Sr. Ranieri Mazzili: em meia dúzia de dias no poder descobriu que a CBA devia desaparecer. E devolveu o mando das competições ao Automóvel Clube do Brasil. Por que? Ninguém descobriu. Agora, em meia-volta-volver. o Sr. Castelo Branco repete o ato de Goulart e reafirma a responsabilidade da CBA. Tudo como dantes,no quartel de abrantes. Só que com isso não concorda o Automóvel Clube. Já impetrou mandado de segurança e garante – nos meios esportivos – que não acatará a decisão presidencial. O mandado ainda não foi decidido; nesse meio tempo, a Federação Paulista de Automobilismo, ligada à Confederação, elaborou o calendário deste ano. Se o tal calendário vai funcionar, ou ser obedecido, ninguém sabe. Enquanto isso, público, corredores e escuderias que se danem.”

    (Editorial da Revista Quatro Rodas, Ano V, Nº 54, Janeiro de 1965, fls. 7)

    A história é cíclica, mas no caso do automobilismo brasileiro, parece que o mesmo ciclo permanece há décadas. Ciclo de bagunça, descaso e jogo de interesses dos “bacanas”. Enquanto isso, “público, corredores e escuderias” que continuem se danando!

  • Victor, nosso campeonato ainda não começou por conta de uma pequena reforma que iria ser feita no autodromo do Eusebio (região metropolitana de Fortaleza), ai nos chegou a informação,(não oficial da FCA,só fofoca) que o atraso é porque vão fazer uma reforma maior para que a stock-car e F-3 venham correr aqui e tem que ter licitação (licitação: ver em quantas caixinhas e para quem vai ser preciso dividir a verba) e só está previsto para Agosto ou seja a gente que se lasque com patrocinio,equipe,preparadores e publico amantes do automobilismo….. fomos convidados (Marcas e Pilotos ) para fazermos a preliminar da truck neste fim de semana em Caruaru-Pe ,só que a federação de Pernambuco queria que a gente pagasse inscriçaõ para a 1ª e 2º etapas, forçando ou colocando guela a baixo a obrigação de fazermos mais uma etapa do campeonato Pernambucano,com isso recebi um e-mail ontem informando de que não vai mais ter preliminar, pq só apareceu um carro inscrito…esse é o automobilismo aqui por cima no Nordeste, igual sem tirar nem por o do Sul e Sudeste. abs

  • Infelizmente tenho que dar ouvidos a o que meu disse meses atraz: “Sua geração é de um bando de frouxos. Na minha época iamos às ruas para levar tiro de fuzio. Sem saber se voltariamos à nossas casas.”

    Meu pai está correto. Vemos a tudo acontecer diante de nossos olhos e só observamos como se tivessemos poder de lutar contra o que está errado. E não me venham dizer que somos a geração dos caras pintadas e que até presidente da república a gente colocou pra fora que não foi.
    Não precisa ser muito inteligente para saber quem manda no Brasil e faz de nós meros expectadores.

  • Cade os senhores ilustrissimos Nelson Piquet e Emerson Fitipaldi???
    que não se manifestam nessa suruba toda??? afinal os circuitos no rio levam o nome deles…

    outra coisa so pra lembrar que eles administraram o autodromo do rio alguns anos e tb nao deu certo….

    perdição totalll

  • Quá-quá-quá… Téo José acredita no Marconi? Quá-quá-quá!!! Papai Noel, Coelho da Páscoa, novo Parque Mutirama, novo parque agropecuário… tudo no mesmo saco! Marconi prometeu? Igual prometeu o passe-livre estudantil no transporte coletivo. A palavra do governador de Goiás não vale ABSOLUTAMENTE NADA!!!!
    Adeus, autódromo de Goiânia, fará companhia ao autódromo do Rio que também não será construído, as promessas dessa gente são vazias… fico surpreso quando jornalistas acreditam. Um dia eu acreditei: meses atrás perguntei para o Téo José se ele sabia do projeto do Tilke para Goiânia… ele me respondeu: “e vc acreditou nesta estória?”
    Agora ele acredita?

  • 1.° Será que o Massa que tem um bom contato com o Jean Todt não conseguiria pedir pra ele investigar bem as últimas administrações da CBA e punir os que merecem?
    .
    2.° Será que interessa ao Massa pedir isso pro Jean Todt?

  • Ae galera!!!!! O próximo é interlagos…… Vai virar condomínioshoping. coisas do kassab??????
    Se alguém precisar de uma corda pra pendurar o cesar maia vulgo louro josé no mastro da bandeira é só pedir. Esses pilantras deveriam ser enforcados por roubar a Pátria.

  • O Autódromo Internacional de Brasília foi repassado junto do Estádio Mané Garrincha e do Ginásio Nilson Nelson para a Terracap (Imobiliaria Pública de Brasília) para que sejam feitas as Obras da Copa do Mundo 2014, o problema é que se a Terracap inventar de formar um novo bairro no Centro de Brasília (localização do Autódromo de Brasília) vai levantar fácil mais de 500 milhões de reais somente com venda de projeções, porém não seria revertido ao Automobilismo Brasiliense.

    O de Goiânia eu já soube mesmo que foi vendido, inclusive o Governador Marconi Perillo mora no bairro Alphaville ao lado do Autódromo e o pessoal lá detesta os barulhos provindos dos motores.

  • Não foi só por birra que o prefeito esquartejou Jacarepaguá. É que estão milhares dos metros quadrados mais caros do Brasil. Só agora que esse seo Djalma Neves descobriu que foi um erro lá tras??? Ele é um dos quadrilheiros do seo Pinteiro. É um dos vice da CBA.
    Então uma tartaruga fugiu e a outra engravidou!!!
    300 milhões de dinheiro para construir um novo autodromo em Deodoro!!!
    Esquece!!!

  • É meu amigo, são cinco anos repetindo o mantra “se destruirem esse acabou”, taí, agora quero ver quem vai assinar o atestado de óbito do automobilismo carcioca e por tabela, brasileiro

  • Puta merda. Até o de Brasília quase entrou na onda, meses atrás. A postura conformista de quem faz o espetáculo tem grande parcela de culpa, sem campinho não tem pelada.

  • Penso da mesma forma e de acordo com o atual panorama, essa era do automobilismo brasileiro vai ser a era do regresso. O problema é que não é fácil reverter esse processo. O automobilismo francês é mais uma vez exemplo de que não é fácil resolver tudo isso, hj eles sofrem pra ter algum representante nas categorias top. E olhe que lá a estrutura é bem melhor que a nossa. Aqui, além de termos nenhuma categoria de formula decente, a maioria esmagadora dos autódromos e kartódromos está sucateada. Os pilotos apenas veem as coisas acontecerem e não há ação nenhuma pra mudar. O jeito é acelerar no iRacing e esquecer essas questões políticas.

  • Belíssimo texto!

    É um absurdo um país de tradição mundial no automobilismo ter, atualmente, apenas dois autódromos públicos com condições dignas de receber uma corrida internacional (e olha que a estrutura daqui de Curitiba não é essas mil-maravilhas).

    Tá tudo muito errado.