Hoosiers

INDIANÁPOLIS | A terceira vez, a gente não esquece.

O negócio funciona dessa maneira: você vai para Indianápolis. No primeiro ano, você não sabe como funciona a coisa, voa, ouve, não entende, aprende, conhece, se impressiona, vê o tijolo, beija o tijolo e nota o que tem em volta do tijolo e como tratam a casa do tijolo, ri, ri de bobo, ri de felicidade, ri porque quer rir. E você quer ir no segundo e em todos os outros porque sabe como funciona a coisa. A cidade com suas mil obras de mil espaços, as rodovias longas, a 16th e a Keystone, o PF Chang e o Benihana, o Memorial Day que a gente não esquece para que serve, e a tiazinha que parece a Cleyde Yáconis de cabelos ruivos empostando a voz para desejar seu “welcome to Indianapolis”, os tiozinhos de amarelo sinalizando onde estacionar e os dribles que damos, a lojinha da Ganassi, a senhora, o senhor, a filha e o filho tomando cerveja e sorvete, necessariamente nesta ordem, e eles veem um carro, dois carros, tantos carros e tantos pilotos que passam, e passam por eles e por mais gente que respeita, chama, quer autógrafo, quer foto, quer que dê tudo certo, e dá tudo certo, de um jeito ou de outro, e aí tem o Tim e a Amy saudando com o ‘morning’ no quarto andar, o nome do Grande Prêmio que eles nunca conseguem acertar, o sol que se põe tarde a leste.

Alguém que minimamente goste de automobilismo não pode ousar passar sua vida sem pisar aqui. A economia está boa, viajar está mais fácil, embora viajar me remeta a aeroporto e eu seja obrigado a falar sobre aeroporto. Sou gauche na vida, mas não aceito que o governo se gabe por proporcionar ao seu povo melhores condições de viagem e entretenimento. Chega a ser ridículo comparar Cumbica com as praças aéreas de Atlanta ou Indianápolis. Para quem mora em São Paulo, como eu, é como dizer que o Campo de Marte vai receber pousos e fazer decolagens internacionais. Não vou me estender muito porque falarei disso em uma matéria especial logo mais e pelo pouco que vi e me informei da cidade que um dia recebeu a Olimpíada. Nós somos o Haiti dos aeroportos. Como somos o Haiti do automobilismo pobre e derrotado que temos aí, que renega seu passado e trata o presente como um terremoto, esperando que seja sacudido para tomar um rumo.

Mas dizia eu que programar-se é preciso, reservar lá na agenda, maio, 15 dias, 7 dias, quantos dias forem, sentar a bunda na arquibancada ou passar pelos boxes, visitar o museu ou só comprar um cartão-postal, acompanhar a história e fazer parte dela, cem anos, Foyt, Unser, Andretti e Fittipaldi, Castroneves e De Ferran, e Penske e Ganassi, e Buick e Lola, o ‘start your engines’ e o ‘green, green, green’, o Hino e os jatos, só o café que não, café aqui tem mais água que a Minalba, mas todo mundo precisa ver isso algum dia na vida e sorrir de bobo, sorrir de felicidade, sorrir porque quer sorrir. Quem vem nunca vai esquecer a primeira, segunda ou centésima vez.

Quem vem na terra dos hoosiers não esquece e sorri para ver esse sol se pôr a leste.

Comentários

  • Fui no ano passado, esse ano nao vai dar (moro em Chicago e os Bulls estao no playoff).
    Eh de fato totalmente diferente de tudo. Clima sensacional, respeito ao torcedor, facil acesso. Ano que vem estou lah de novo!

  • É mágico e assustador! Um panelão gigante, limpo, bem arrumado, uma inclinação pra skatista nenhum botar defeito….um museu que se não é nossa praia…tem muita história!
    Estive em 1984 uma ou duas semanas depois da prova e foi um prazer ter visto o nome do Emerson pintado na mureta que foi seu PITPLACE….
    Vale MUITO apena ir neste autódromo…

  • Victor,
    Demais seu Post, saiba que estarei chegando a Indianápolis na sexta-feira dia 27 para assistir essa que sempre foi meu sonho de consumo: As 500 milhas de Indianápolis. Não vejo a hora! Um frio na barriga de ansiedade, empolgação e emoção.
    Até lá!
    Abraços

  • Pô Victor, o dia que você se cansar do automobilismo pode virar agente de turismo! Já estou contagiado e vou me programar para ir num dos próximos anos. Abraço.

  • Camarada, “enjoy it” por mim! Estive nesse templo duas vezes e senti exatamente o que você sente agora. O lugar é mágico, festivo, reverencial, histórico, tudo isso junto e muito mais. Uma pena que nenhuma corrida no Brasil tenha o clima que existe aí. Abraços. (LAP)

  • É Victor, esse ano não vou poder estar aí, mas você falou tudo.
    Simplesmente indescritível. Quem gosta de automobilismo, show, e competência, tem que estar em Indianapolis algum dia de sua vida.
    De um beijo nos tijolinhos por mim, e na senhora de cabelos vermelhos também.
    PS: Estou me roendo de inveja !!

  • Victor, esse post bateu forte aqui. Indy e Mônaco são dois dos lugares onde eu tenho que pisar – e ver corridas – antes de morrer. Parabéns e bom trabalho aí!

  • Esterei por aí na próxima semana, contando os dias!

    E me ajuda aí com informação, estou meio vendido em algumas pequenas coisas…

  • Victor, primeiramente QUE INVEJA, em segundo lugar PARABÉNS, meu sonho é acompanhar o mês de maio aí onde você está. Realmente as coisas mais legais são as mais simples, quatro retas, quatro curvas e pé na tábua, não precisa mais nada. Bom trabalho.