Hoosiers, 6

INDIANÁPOLIS | Mais do que Alex Tagliani, chegou o grande dia de Sam Schmidt. Ex-piloto que está entrevado há mais de uma década numa cadeira de rodas por conta de um acidente na IRL, que não se entregou à tetraplegia e resolveu seguir um exemplo que o mundo do automobilismo conhece bem na F1 e montou sua equipe. E fez dela uma força na Indy Lights aos poucos para chegar à categoria principal.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

Schmidt chegou com tudo neste ano comprando a operação que havia sido montada por Tagliani, a Fazzt. Além da sua equipe, coopera em Indy com outras duas. Formou um esquadrão para competir com Penske e Ganassi. E hoje venceu.

A chuva representou uma agonia de algumas horas, mas Tagliani era claramente o piloto mais rápido da centenária Indianápolis. Nada mais justo que a pole para a edição histórica.

A classificação é melhor dividida em antes e após a chuva do que propriamente um Q1 e Q2 ou primeira fase e superpole. Tirando Scott Speed, todos os pilotos conseguiram registrar pelo menos uma série de quatro voltas rápidas. Tagliani foi o quarto a ir para a pista, e no primeiro lugar ficou com o tempo de 2:38.622, com média de 226,9 mph. O canadense ficou relativamente feliz. Mas viu que as condições estavam difíceis. E que havia perdido um jantar, porque havia apostado com seu engenheiro de que alcançaria as 227 mph.

Os US$ 300 mil que recebeu pela pole hão de promover um banquete opíparo.

Voltando: Tagliani tinha em Scott Dixon o adversário mais próximo na primeira parte. A diferença entre ambos era de apenas 0,2 mph. O retrospecto era todo favorável a Alex nos treinos livres, mas a Ganassi é sempre uma macaca velha. A chuva apareceu, umedeceu a pista inteira, mas a organização já notava que daria para realizar o ‘Fast 9’, que tinha a presença de apenas uma Penske, nenhuma Andretti ou KV.

Tempos mudados, estes da Indy.

Por volta de 17h25 locais — 35 minutos antes do fim das atividades —, a pista foi reaberta para que os nove melhores partissem para a disputa final. O primeiro a entrar na pista foi Buddy Rice, da Panther. O vencedor da Indy 500 de 2004 foi pouca coisa melhor do que havia feito no Q1. Quando veio na sequência Oriol Servià, da Newman/Haas, ali se viu que um adversário com um ás escondido havia aparecido.

Servià marcou 2min38s4 e foi quase um segundo melhor que seu rival anterior. O público, a imprensa, Carl Haas e o próprio espanhol ficaram espantados. Will Power era o próximo, e mal se aproximou de seu tempo. Ed Carpenter passou longe. Dan Wheldon nem fez cócegas. Townsend Bell chegou perto, mas nem tanto. Servià já tinha ali garantido um quarto lugar. Faltavam as Ganassi e Tagliani.

Dario Franchitti, então, surgiu imponente, virando três voltas muito próximas aos tempos feitos por Servià. Quando se encaminhava para a última, repentinamente o carro ficou lento. A mensagem no rádio foi clara: “out of fuel”. A indignação de Chip Ganassi se somou à perplexidade dos demais membros da equipe. Um time como a Ganassi havia dado uma de Dale Coyne. Ou Hispania, para ficar mais claro. Franchitti, sempre cavalheiresco, desceu do carro tão contrariado que foi para a garagem sem falar com ninguém. Nem quis ver — e não tinha o porquê — a tentativa do companheiro Dixon.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

O neozelandês foi 0s120 mais rápido que Serviá e encaixou voltas tão consistentes que indubitavelmente impuseram respeito e pressão em Tagliani. Nos pits, Schmidt, nervoso e trêmulo, acompanhava a saída do carro de seu pupilo. Vieram as primeiras voltas, ligeirissimamente mais rápidas que Dixon. Foi só no fim, olhando para a tela de tempos, que a confirmação da glória surgiu: 2min38s261, que levaram Schmidt às lágrimas.

Neste domingo, choro e drama estarão duplicados. É o Bump Day. 16 pilotos vão buscar nove vagas. Podem ser 15, se Ho Pin-Tung não for liberado para correr depois do acidente que teve na classificação — o chinês sofreu uma pequena concussão. Até podem ser 14, caso Scott Speed, companheiro de Tung, fique de mimimi e resolva não participar da segunda parte da definição do grid. Resumidamente, assim que nove pilotos completarem tempos, formarão os 33 que largam na prova. Quem vier depois vai tentar tirar o piloto que estiver na ‘bolha’, ou seja, o mais lento dos classificados — e isso pode significar que os últimos colocados de hoje também estão em risco. Nomes fortes ficarão de fora, decerto.

Uma primeira fila com Tagliani, Dixon e Servià é algo que nenhuma casa de apostas deve ter registrado. Um Helio Castroneves apenas em 16º, ainda fora da condição de melhor brasileiro do grid, realmente é inesperado. Vitor Meira num 11º lugar com a Foyt é de erguer sobrancelhas, e ver o companheiro Bruno Junqueira, pessimista ao extremo ontem, em 19º, quase salvo, também é algo que estranha. E Tony Kanaan em 23º, depois de dizer que não tinha chance de se classificar hoje, é igualmente assombroso. O que dizer, então, de Ryan Briscoe tendo de disputar o Bump Day e Simona de Silvestro, com um carro desatualizado e ruim, entrando por enquanto?

O Indianapolis Motor Speedway faz 100 anos e ele mesmo é quem traz as surpresas.

Comentários

  • CARO VITOR ! GOSTARIA SE POSIVEL TER MAIS DETALHES SOBRE COMO E FEITA A CLASSIFICAÇAO. POR QUE O TEMPO DE 2.38.622 QDO REALMENTE O CARROS LEVAM EM MEDIA 45 SEGUNDOS EM. MUITO OBRIGADO E PARABENS PELO BLOG.

  • No meu comentário acima esqueci do Briscoe. Então sobra uma vaga pra todos esses pilotos lutarem, com certa vantagem pro Conway pela equipe que ele está.

  • O Pole Day foi muito melhor que muita corrida por aí! E olha que tive que acompanhar apenas pelo twitter numa conexão discada. A banda larga da senhora Telemar Norte Leste (vulgo OI) resolver entrar em “manutenção” hoje.

    Amanhã tem muito mais, promete ser muito bom também. Muita gente teoricamente boa de equipe teoricamente boas de fora.

    Eu acredito que Sott Speed, James Jakes e Sebastian Saavedra já estão fora. Também acho que Danica Patrick, Marco Andretti, Ryan Hunter-Reay, Graham Rahal, Charlie Kimball, Pippa Mann e Bia Figueiredo se classificam. As 2 vagas restantes serão disputadas por Paul Tracy, Mike Conway, Alex Lloyd e Raphael Matos. Matos e Lloyd são os que tem menos chances.

    Veremos se minha bola de cristal é boa!

  • Ei, Victor, não entendi porque a Simona está “entrando por enquanto”. Até onde eu sei (pode não ser longe o suficiente), por ter ficado com o 24° e último lugar no Pole Day ela está garantida na prova. Parabéns à nossa “mito” (tal e qual o Koba) por ter classificado um chassi 2004 na corrida com as mãos todas queimadas, tadinha.

    No mais, parabéns pela cobertura e atenção que você dá à Indy, categoria que em seu low-profile tem muito a ensinar à F1 e seu “espetáculo” artificial.