Hoosiers, 11

INDIANÁPOLIS  | De novo, o Bump Day acabou reservando para si toda a tensão que envolve a formação do grid de largada para as 500 Milhas de Indianápolis, a mais tradicional prova do calendário da Indy. A chuva foi a grande protagonista do dia. Por conta da pista molhada, o treino foi interrompido duas vezes e gerou enorme expectativa entre aqueles que ainda precisavam de tempo para registrar voltas rápidas.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

Mas nem todos sofreram. Paul Tracy, por exemplo, não enfrentou qualquer drama para se posicionar em 25°, o melhor do dia. Já Danica Patrick chegou a ficar ameaçada, sim, mas depois da segunda paralisação, foi à pista e colocou o carro 7 da Andretti no grid, em 26°. Ryan Briscoe, com um Penske melhor acertado neste domingo, também assegurou o 27° posto. Marco Andretti, Charlie Kimball e Graham Rahal garantiram na sequência o 28°, 29° e 30° lugares. O grid, então, foi completado por Alex Lloyd, Pippa Mann e Bia Figueiredo — que larga em último, o que não quer dizer que tenha sido ameaçada.

Raphael Matos, embora tenha tentando até o fim, não conseguiu encontrar o desempenho suficiente e está fora das 500 Milhas, prova que acontece no próximo dia 29, com pole do canadense Alex Tagliani, da Sam Schmidt.

A chuva era fava contada a partir das 12h. Chegou, com exatidão, às 12h07, pegando um pedaço da volta final de classificação de Graham Rahal, mas não atrapalhando o piloto, que completou os quatro giros obrigatórios em 2min40s442, e às 12h10 com intensidade que fez até pensar que o fim do mundo apregoado pelo tal pastor havia chegado um dia mais tarde. Antes dele — de Rahal, não do pastor —, apenas Bia Figueiredo havia ido à pista. Sem apresentar a velocidade vista em seu carro pela manhã, a pilota da Dreyer & Reinbold marcou 2min40s801.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

Foram necessárias 2h15min para que a pista fosse reaberta, ainda sob ameaça de chuva. Matos, então, reabriu os trabalhos e fez voltas consistentes. Porém lentas. 2min41s238 o levaram para o último lugar. No outro extremo, Briscoe fez o que dele se esperava e pôs o carro da Penske na ponta, que neste caso significa o 25º posto. Alex Lloyd veio depois e só conseguiu algo melhor que Raphael.

Pippa Mann e Charlie Kimball seguiram o bonde e entraram no grid, sem muitos sustos — muito embora os dois ainda se mostravam apreensivos depois, torcendo por chuva. Ryan Hunter-Reay, com o carro capenga da Andretti, sofreu. Mike Conway, mais ainda. Conway era o 31º naquele instante, jogando Matos para a bolha. Estava completo, momentaneamente, o grid com 33 carros.

O primeiro a ter a tarefa de fazer Raphael ser ‘bumped’ foi James Jakes, da Dale Coyne. Passou longe disso. Depois apareceu Sebastián Saavedra, colombiano da Conquest. Idem. A torcida de Matos não seria suficiente contra Marco Andretti. O norte-americano não foi lá tão bem assim, mas acabou sendo 0s3 melhor que o brasileiro. Que, desolado, sentiu o golpe assistindo a tudo na garagem de seu time, a AFS.

Raphael ainda veria seu nome cair para 35º com a sequência voadora de Paul Tracy, companheiro de Bia na Dreyer & Reinbold: 2min40s043, melhor tempo do Bump Day. E olha que quase o negócio virou água. “Eu comecei a terceira volta e comecei a ver água na minha viseira e pensei: ‘Ah, não, tá brincando comigo, o que falta mais acontecer comigo?'”, e o glorioso canadense de 43 anos entrou fácil depois de se ver fora da corrida no ano passado.

E a chuva ressurgia no cenário, para desespero de Danica Patrick, a última na fila para se classificar.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

Mais uma hora e pouco de tensão e secagem, lá ia Danica, às 16h45, para sua chance. E fez com tranqüilidade e velocidade: 2min40s098, posição à frente da Penske de Briscoe e alívio garantido. Não para o companheiro Marco, que passou a ficar na ‘bolha’.

A segunda rodada de tentativas foi aberta com Matos. Seu carro, segundo o piloto, não havia tido mudanças radicais em relação à primeira oportunidade. Mas o tempo mudou, sim. Para pior: foi meio segundo para cima, e Raphael seguia sem entrar na prova. Mesma situação vivenciaram Conway, Saavedra e Lloyd, que abortaram suas participações ao repararem que não haviam conseguido média para tirar Andretti.

O jogo foi sendo jogado, e o próprio Marco mais Hunter-Reay e Bia retiraram seus carros da fila para não correrem o risco visto por Tracy e Jay Howard no ano passado — os dois foram à pista no fim, fizeram tempos piores daqueles que já tinham e promoveram a entrada de Saavedra na corrida. O jogo continuou quando Lloyd foi lá alinhar e o chefe Dale Coyne deu uma de ‘johnny-armless’, achando que a tentativa anterior que não havia sido completada não valia para o total de três a que cada um tem direito. Saíram da linha rapidinho.

O primeiro a esgotar sua participação foi Conway. Tentou lá, mas quando na primeira volta surgiu uma média de velocidade na casa de 221,2 mph, trouxe o carro de volta para os boxes e ficou sentado perto do carro, atônito, olhando para o nada. O vencedor da etapa de Long Beach não vai correr em Indianápolis. Tal como Saavedra. Tal como Matos.

O brasileiro já notara que na primeira volta não alcançaria o tempo de Andretti. Deu mais duas para confirmar. E se foi para os pits.

O único que poderia, então, desbancar Marco era Lloyd. E a cada volta sua, urros e aplausos da torcida: o inglês obteve média de 223,9 mph e foi parar em 30º, jogando Hunter-Reay para a bolha e Marco para fora.

Carsten Horst/Grande Prêmio
 

Jakes, então, voltou para não fazer nada de revelante. Faltando menos de 2 minutos para fim, eis que Andretti vinha para a desforra. A questão é que era uma briga caseira: se vencesse, mandava seu companheiro para o limbo. De qualquer forma, ali se via que a equipe Andretti não teria dois carros na prova. E quem fez companhia para Conway foi Hunter-Reay, mesmo. Marco pôs seu carro 26 na 28ª posição.

Matos tornou-se hoje o primeiro brasileiro a não se classificar para a prova em 16 anos, repetindo Emerson Fittipaldi e Marco Greco na última 500 Milhas antes da cisão da Indy.

A Indy 500 acontece na semana que vem. Não para cinco pilotos e a dupla/o trio da Dragon, Ho-Pin Tung, Scott Speed e Patrick Carpentier. É a vida, e o show tem de continuar. Show por muitas vezes ingrato, esse, o da Indy.

Comentários

  • O engraçado é que o único piloto da Andretti a se classificar sem susto foi exatamente o John Andretti, que não disputa uma temporada completa de nada há anos, e os dois melhores pilotos da equipe estão fora, será que o Michael Andretti conseguiu dormir esta noite, ou teve pesadelos com Tony Kanaan? Uma coisa que me chamou a atenção, quando li no site da Indy que Dan Wheldon seria o piloto da equipe de Brian Herta, e ele falava em brigar pela vitória, achei que ele estava sonhando alto demais, me enganei, ao que parece vai ser um grande espetaculo.

  • Excelente cobertura! Bump Day é algo que deveria ser transmitido ao vivo. Ok, não teria audiencia, no Brasil menos ainda, mas eu ficaria aqui com a TV o tempo todo ligada. Alguns canais de tv a cabo esportivos que só passam programas gravados e inuteis, quem sabe.
    André / Piloto no http://www.f1bc.com

  • Bem, antes de tudo tenho que dar parabéns pela grande cobertura, é muito bom saber que existe jornalismo de verdade no automobilismo brasileiro. Parabéns também ao Carsten, que faz um ótimo trabalho.
    Neste final de semana eu tinha um monte de compromissos, mas simplesmente não consegui sair da frente do meu computador acompanhando toda a cobertura desde as 11:00 da manhã até as 8:00 da noite.
    A cada ano que assisto a Indy 500 fico mais impressionado, eles parecem não ter limites para a perfeição, tudo é feito de modo organizado, funcional, profissional, coerente, respeitoso, educado, enfim… um evento que faz a F1 parecer coisa de principiantes.
    Até mesmo a chuva, parece combinar com os organizadores para fazer o show ser ainda mais emocionante.
    A fórmula Indy é isso, não vamos comparar a tecnologia dos carros com a fórmula 1, mas para se fazer uma grande corrida antes de tudo tem que se fazer um grande evento, essa é a chave do sucesso da fórmula Indy, e mais ainda quando falamos em Indy 500.
    Grande evento não significa ter Hospitality centers cheios de baba-ovos comendo canapés, como se faz no Brasil. Grande evento significa saber entreter o público, oferecer um espetáculo condizente com o valor pago pelo ingresso, respeitar o público, e respeitar os atores do show.
    Por isso fico assustado quando vejo a fórmula Indy desembarcar no Brasil para fazer um evento mambembe no sambódromo…. A indy não precisa se queimar neste evento ridículo patrocinado por uma rede de TV, onde seu narrador mal sabe o nome dos pilotos e suas respectivas equipes. Isso é falta de respeito.
    Por isso que muita gente diz que não gosta da fórmula Indy. Mas, como gostar do que eles estão vendo no Brasil? Como gostar de ir para um autódromo onde não existe lugar para estacionar seu carro com segurança, onde se cobra caro por um ingresso que não lhe dá o direito nem de usar um banheiro decente, onde você não tem um local para comer, onde seus filhos correm risco de vida, onde sua mulher é desrespeitada, onde se coloca o Luan Santana para cantar o hino nacional ?
    Bem, acho que seria muito pedir que fizessem igual se faz em Indy, mas será que não poderiam tentar aprender?
    Para encerrar , sugiro para aqueles que puderem, um dia ir assistir as 500 milhas de Indianapolis.
    Não é apenas uma corrida, é uma lição de como é simples fazer as coisas bem feitas.

    • É isso mesmo Alberto, Indy 500 é show e nem o GP de Mônaco um dia conseguirá representar o que ela representa. Este ano pricipalmente, onde os acontecimentos lembraram um pouco o que ocorreu com a Penske em 1996 (ou 1995). Os fãs fanáticos de F1 (os que só gostam de F1) jamais entenderão o que a Indy 500 representa.