Hoosiers, 14

INDIANÁPOLIS | O discurso purista de AJ Foyt, 78, de não dar as costas para Michael Andretti, 48, e relembrar o automobilismo das antigas neste momento tão difícil para o amigo e rival que foi incapaz de classificar dois de seus carros para a Indy 500 realmente não colou em tempos que jamais serão como o automobilismo das antigas. Apesar dos 30 anos de diferença que os separam, Foyt e Andretti são raposas igualmente velhas neste negócio. E negócio foi feito entre os dois para que o carro 41 trocasse de mãos para a corrida do próximo domingo.

Tirar Bruno Junqueira não foi tão doloroso para Foyt. Talvez tenha sido para o bolso de Andretti. Mas é literalmente o preço que se paga por não ter dado a Ryan Hunter-Reay um carro minimamente rápido que lhe garantisse na corrida no Pole Day ou mesmo no Bump Day.

Andretti acertou a vaga nas 500 Milhas de Indianápolis com Foyt por US$ 500 mil, soube aqui em Indianápolis.

Corrida é política, disse Raphael Matos, eliminado da prova, não tem muito tempo. Enquanto a chuva atrapalhava a vida dos desesperados no domingo do Bump Day, Andretti olhava para sua situação e observava que apenas o primo John Andretti estava garantido na prova — porque já havia a merecido no sábado. Hunter-Reay e Marco Andretti haviam marcado tempos que facilmente poderiam ser batidos, Mike Conway não andava de maneira alguma e Danica Patrick ficou de mãos atadas sem poder classificar com o piso molhado.

Ali já começava uma ação nos bastidores para que um dos maiores sobrenomes da história de Indianápolis não passasse um vexame histórico justamente no aniversário centenário daquele superoval. E logo as informações das conversas para procura e compra de vagas no grid vazaram. O alvo apontava direto para a cabeça de Junqueira, ao passo que a pista secava e voltava a receber o drama da definição do grid.

Danica entrou fácil — o que foi um tanto quanto estranho. Uma série de pilotos veio na sequência e deixou a situação intacta, o que era bom para Hunter-Reay e Andretti, ainda que ambos estivessem na bica para ficar fora. Foi uma aparição de última hora de Alex Lloyd, da Dale Coyne, que mexeu com as coisas. Lloyd andou tão bem que foi melhor que os dois carros da Andretti, empurrando Marco para o calabouço e Ryan, para a tal bolha. O neto de Mario ainda teve tempo de buscar seu tempo e jogar o companheiro para fora, sem lhe dar chance de recuperação porque o tempo já havia se esgotado.

Hunter-Reay e Conway pareciam dar as mãos no limbo. Mas aí a segunda-feira se tornou um Bump Day extra.

Junqueira partiu para Milwaukee para fazer a promoção da corrida, tal qual seus outros 32 colegas, na condição de classificado. Saiu de lá provavelmente sem a vaga. Foyt havia consentido em dar o lugar do brasileiro para Hunter-Reay por meio milhão de dólares. O próprio Bruno confirmou pelo Twitter que havia sido ‘bumped’ pela segunda vez na carreira. Os demais saíram em sua defesa, Dario Franchitti, o próprio Lloyd, os quatro compatriotas — Helio Castroneves, Tony Kanaan, Bia Figueiredo e o então ex-companheiro Vitor Meira — e muitos outros. Crítico, Paul Tracy falou que “é errado em todos os sentidos o que aconteceu a Bruno”, que “algumas pessoas não têm vergonha” e que não compreendia como o brasileiro poderia “ser tão calmo” porque não aguentaria tal situação. Scott Dixon resumiu: “É uma situação de merda”.

Da mesma forma, protegeram Hunter-Reay, que virou vilão da história sem o ser. Ryan declarou que “sentia terrivelmente por Junqueira” porque “ele fez um grande trabalho na classificação e merecia”, mas que “aquela havia sido uma decisão 110% negócio/comercial de time(s)”. E o piloto que originalmente assinou para correr a temporada com o carro 28 vai ter seu primeiro contato em pista com a ‘nova equipe’ no Carb Day, o último treino para acertar os carros, na sexta-feira. Aí vai alinhar em 33º.

Ou 32º. Vai depender se Andretti não arranja por aí mais uma vaguinha que ponha Conway no show. Show que precisa mudar, segundo Jimmy Vasser, chefe da KV. “O mundo está acabando logo. Esta regra precisa mudar”, atacou o colega de Foyt e Andretti. “O Bump Day é oficialmente uma piada e mente para os fãs de novo. Eles não vão entender quando se ligarem na corrida.

Muita gente não vai entender, mesmo, mas é parte da regra. Aconteceu o mesmo com Junqueira em 2009, quando teve de dar a vaga para seu companheiro de Conquest, Alex Tagliani. Só que o caso é ligeiramente diferente. O próprio presidente de operações da Indy, Brian Barnhardt, estranhou. “Eu não me lembro disso acontecendo com equipes diferentes…”

Comentários

  • É por isto que o cretino do Michael Andretti nunca venceu uma edição sequer da Indy 500 como piloto! Sinceramente,eu não creio que o Mario(o pai dele) faria uma canalhice dessas…

    Aliás,diga-se de passagem,o Michael foi um piloto muito agressivo,arrojado,mas também MUITO Trapaceiro(isto mesmo,com letra maiúscula).Houve até uma temporada da extinta CART(esta para mim,sempre foi e sempre será a verdadeira Indy) na qual ele jogou tão sujo no início do ano que quase acabou sendo suspenso das corridas restantes(o Paul Tracy e o Maurício Gugelmin que o digam).

    Ele era uma ameaça para ele mesmo e pros demais pilotos tanto na F-Indy como na F-1!

  • Dois do grandes nomes do automobilismo americano, hoje conseguiram entrar mais uma vez para a historia da Indy 500.
    Aos que falam do Junqueira, ele consegui a classificação por seu mérito e da equipe. Quanto ao Andretti comprar a classificação para o seu piloto por questões econômicas, esta dentro das regras.
    O publico sera o que julgara o ocorrido. Acredito que os patrocinadores da Andretti e o Hunter-Reay, não estariam melhor fora da prova. Creio que o tiro sai pela culatra…Veremos!

  • Sempre achei essa regra idiota de classificar o carro e não o piloto, mas a Andretti comprar a vaga no grid de outra equipe já é palhaçada demais. Vou torcer para que todos os carros da Andretti parem com pane seca no meio da corrida…hehehe. Para o Bruno Junqueira resta ir juntando dinheiro até a proxima Indy500 e ele mesmo comprar uma vaga…porque sem dinheiro vai continuar classificando o carro para os outros correrem.

  • Victor, o Bruno é um piloto profissional, mas anda sem ter muito o que fazer ultimamente, pelo menos não tenho visto ele em outra categoria senão a Indy e apenas nas 500 milhas. Não sou vidente, mas quando vi o nome dele na relação dos inscritos e depois na de classificados, já estperava esse desfecho. Ora, se a regra existe é para ser usada e duvido que Bruno não tenha embolsado uma boa grana, pois com certeza já sabia da possibilidade de ser “bumped” dai a estranha calma do piloto mineiro.
    Corridas de automóveis deixaram a muito tempo de ser esporte, principalmente nas grandes categorias, para se tornar apenas negócios.
    E foi desta maneira que foi tratado por dois empresários de grande porte no meio (Foyt e Andretti). Apenas negócios. Eu tenho o produto, você tem o dinheiro e o interesse em adquiri-lo. Simples assim. Bruno está bem conciente disso, pode crer.

  • Os casos são BEM diferentes. Ocorreu dentro da mesma equipe, Bruno não tinha patrocínio, só Tagliani tinha patrocínio e era o piloto da equipe, tinha vaga pra temporada toda. Eu até entendi, nada mais natural dentro de uma equipe. Mas em equipes diferentes? Vamos ver a reação da arquibancada, que costuma reagir a esse tipo de coisa, como ano passado com a Danica.

    Eu entendo a regra, mas que é anti-ético e tem rejeição muito grande dos fãs, tem.

    Em tempo: Roger Penske em 1995 não conseguiu classificar Unser Jr e Fittipaldi (2 vitorias cada) e ficou quieto, não apelou! Fez tudo o que podia ser feito no Bump Day, alugou carros, tentou 300 carros e nao conseguiu. No final aceitou a derrota.

  • A equipe Foyt é pequena. Realmente 500 mil doletas mexem com qualquer um e serão SEMPRE muito bem vindas. O velhinho foi generoso, MA NON TROPPO.
    Sobre os verdadeiros sentimentos: Jimmy Vasser critica porque TODOS os seus carros estão classificados; os brasileiros o fazem por serem brasileiros; os outros pilotos por que têm carros competitivos.
    E Bruno Junqueira, por que está tão calmo? Será que ele ganhou uns 10% nisso aí…? Minha boca é um TÚMBALO… ; )

  • COMO JA FOI DITO, O QUE OCORREU NÃO E ILEGAL, NA VERDADE É IMORAL, CABE OS LEGISLADORES DA CORRIDA ADAPTAREM AS REGRAS AO CONTEXTO ATUAL, CASO CONTRARIO SERIA MAS PRATICO UM MESMO PILOTO CLASSIFICAR VARIOS CARROS E DEPOIS ESCOLHER QUEM PILOTA ESSE OU AQUELE. CONTUDO, CREIO QUE NADA MUDARÁ, E ISSO OCORRERA NOS PROXIMOS ANOS, E NÃO DUVIDO QUE BRUNO, ENQUANTO NÃO SE ESTABILIZAR NA CATEGORIA OU EM ALGUM TIME, SERÁ CONTRATADO APENAS E TAO SOMENTE PARA CLASSIFICAR.