Visão de(s)gracia

SÃO PAULO | À la Wikileaks, vazou o relatório feito pelo emissário da FIA ao Bahrein, que fez a entidade encaixar o GP ainda nesta temporada, daqui pouco menos de cinco meses. Se a CBA ler, vai pendurar na parede na sede lá no Rio. O negócio beira o absurdo.

O escolhido pela entidade foi o presidente da Federação Espanhola, Carlos Gracia. Seu relato de sete páginas detalha seus passos por Manama e região. Além de parecer um diário adolescente, fica evidente que a avaliação do dirigente tomou principalmente como base as garantias dadas justamente por governantes, e suas opiniões acabam não refletindo o que o mundo tem acompanhado da situação quase beligerante do país.

Gracia foi recepcionado no Bahrein por Abdulla bin Isa Al-Khalifa, presidente da Federação de Automobilismo local, curiosamente pertencente à família monárquica. Junto ao Ministro da Cultura, que também é um Al-Khalifa, chegou-se à conclusão que, culturamente, “nada mudou”, tanto que seguem os preparativos para um festival de verão no mês que vem, além de o turismo ter aumentado. Na reunião, um representante da Unesco disse que as reportagens feitas pela mídia são “inapropriadas” e que o Bahrein não pode ser comparado a Egito, Líbia e Síria.

Aí Gracia falou com outro ministro, do Interior, outro Al-Khalifa. Que admitiu que houve protestos violentos, mas que depois de cinco dias a paz foi retomada. Depois, negaram ao emissário que 25% dos funcionários do circuito do Bahrein estavam presos por conta de tais protestos. Danadinho, Gracia quis conversar com alguns dos empregados — lembrando: do circuito que pertence ao governo. Todos foram só flores.

Para encerrar, Gracia foi ao shopping. Lá encontrou um grupo que organizava uma petição para que a corrida fosse realizada. Mais: “Muitas pessoas faziam suas compras sem sinais de estarem preocupadas com os acontecimentos recentes. A vida seguia normalmente”. A conclusão foi de que “não houve indicação de qualquer problema ou razão para que o GP do Bahrein não retornasse ao calendário de 2011” porque, dentre outras, “a atmosfera é de total calma e estabilidade”.

Vai falar isso para dois jogadores de futebol da seleção barenita, que estão presos. Juntos com atletas de handebol e basquete. Um dos futebolistas, o atacante Alaa Hubail, pediu encarecidamente, em entrevista à CNN, que “todos os pilotos, jornalistas e demais profissionais sejam solidários e não compareçam à etapa” porque “este será considerado o esporte do regime opressor”. Mas a FIA preferiu se basear no relato sem “gracia” de seu representante.

Sim, a sarna já foi arrumada. Logo há de coçar. E não vai sair de “gracia”, não.

Comentários

  • Não me surpreende, afinal, ainda me lembro que a F1 correu na Africa do Sul durante o Apartheid, e que depois do fim desse regime, nunca mais pisou lá.

  • Victor, que desgraça é essa de um bando de banner na frente das notícias do Grande Prêmio? Pelo menos aqui no meu Firefox 4.0 os banners estão todos atrapalhando a leitura das notícias…

  • O que o Alonso tem com isso? Sera o fato de que ele esta dando um pau no Massa? Ora gente vamos aprender perder pois o Massa ja aprendeu e ate ja se conformou. Aliaz nao foi o Massa que disse que se tomase meio segundo de um companheiro pararia de correr? Entao ja ta na hora de parar. A culpa do Alonso no caso do relatorio e essa, dar uma surra em um brasileiro que ja nao tem mais desculpas.

  • Esse gracia estava mais preocupado com a muamba que ia trazer do shopping barenita do que com o regime. Não foi atrás de ninguém com uma opinião contrária. Não viu o parecer dos protestanes, nem foi atrás de um preso.
    Gostaria de ter um trabalho desses. Voce viaja, conversa, vai ao shopping, conhece gente do governo e é pago para isso…

  • Vale lembrar que quando a F1 correu na Africa do Sul foi um escandalo, mas o mundo era outro.
    Hj tudo é mais imediato e globalizado.
    A categoria tem muito mais a perder em termos de imagem.
    A questão dos DH evidentemente nunca entra em pauta.

  • Ja que um gp serve de ferramenta politica para os direitos humanos seria conviniente os brasileiros que escrevem sobre o assunto pedissem o cancelamento do gp Brasil pois direitos humanos sao frequentemente violados aqui tambem por exemplo falta de hospitais, saneamento basico, escolas e seguranca, e isso tudo apesar dos inumeros ipostos que temos que pagar. Entao pergunto, nao seria bom nos comesarmos a olhar para os nossos prodlemas dizer que isso tambem e um absurdo. Esses poucos itens de desredpeito aos direitos humanos dos brasileiros que relatei ja tornam o gp Brasil passivel de boicote tambem.

  • O Cara é espanhol o Alonso é espanhol, o santader é espanhol, patrocina Ferrari e uma etapa amais para quem está no limpo pode fazer diferença no final. Simples assim