Bordos

SÃO PAULO | Por muito tempo olhou-se para Mônaco como a exceção do campeonato. Entenda-se por exceção a corrida em que os resultados mais absurdos tinham maior probabilidade de acontecer, vide as vitórias de Panis em 1996 e Trulli em 2004, motivadas pelas exigências provocadas pelas características daquele circuito urbano. Mas os tempos são outros. E como os carros são praticamente impossíveis de apresentar quebras mecânicas e com mais recursos à disposição dos pilotos que tornaram a pilotagem mais fácil, as provas de Monte Carlo já não têm trazido tais aberrações. Se alguém procura uma situação atípica na F1 hoje, é bem mais possível de encontrá-la no Canadá.

Fosse construída nos tempos modernos, o circuito de Montreal seria visto como mais uma obra de Tilke, com uma reta longa e curvas predominantemente de baixa velocidade. Os pontos que as diferenciam dos tilkódromos seriam os muros e as árvores em volta, distintos das infindáveis áreas de escape ou das britas, e o fato de a pista ser usada duas ou três vezes por ano por ser urbana. Ou seja: os pilotos têm de andar no limite numa pista que começa extremamente suja, provoca desgastes e se desgasta, com limites definidos por paredes. Um erro se torna fácil, e a chance de encontrar o fim das atividades é grande. 

Soma-se a este o cenário a ausência de vantagem que o carro da Red Bull leva sobre os demais. Um dos segredos da equipe está nas curvas de alta, com suas asa dianteira e sua tendência a vergar — em mais uma ideia mirabolante de Adrian Newey, agindo em conformidade com o regulamento —, melhorando o fluxo de ar e gerando maior velocidade. Assim, as outras grandes enchem o peito: Ferrari promete fazer desta prova o ponto de virada no campeonato, McLaren se apoia no retrospecto e na evolução para garantir que vai muito bem, Mercedes vê que as características do carro se adequam totalmente à pista e Renault aposta na força do motor para brigar pelos primeiros lugares.  

Isto posto, pega-se os resultados do primeiro treino: Mercedes e Ferrari, que vinham como terceira e quarta forças em ritmo de classificação, aparecem na frente de Red Bull e McLaren. Não há surpresa interna: Rosberg vem à frente de Schumacher e Alonso, de Massa. Os prateados tomaram 1s de Nico, terminando em quinto e sexto. Os rubrotaurinos nem entre os dez primeiros ficaram — também porque Vettel bateu, como fizera na sexta-feira da Turquia. Bateu, pelo menos, num lugar que lhe é afeito, o Muro dos Campeões. Webber terminou em 12º e tomou tempo das duas Force India (Di Resta e Hülkenberg), de apenas uma Renault (a de Heidfeld), de uma Sauber (de Pérez) e até da Williams (a de Barrichello), que traz novidades para a etapa — e não podiam trazer resultado pior do que a equipe vinha mostrando. 

Evidente que se tratava apenas de um treino inicial e que Vettel, pelo menos, havia de vir pras cabeças no apronto seguinte. E com o alemão na pista, ainda que o treino tivesse sido atrapalhado pelas barbeiragens de Sutil e D’Ambrosio e pelo movimento das placas tectônicas de Quebec que jogaram Kobayashi no muro, o primeiro lugar de Alonso e o terceiro de Massa no TL2 são alentos para a Ferrari, principalmente, pensar que pode tirar a zica do pântano.

Por melhor que a Mercedes esteja, os pneus que desgastam como a sola dos tênis de Felipe Giacomelli lhe são o calcanhar de Aquiles. E com estes compostos macios à beça numa pista que consome demais, a tendência é que Rosberg e Schumacher tenham poucas voltas úteis durante as 70 voltas da corrida e necessitem de uma estratégia diferenciada dos demais, aproveitando que os boxes são curtos em Montreal, para tentar brigar por algo interessante — não estranharia uma tática de quatro ou cinco paradas. No segundo treino, visivelmente a equipe se preocupou com o acerto para domingo. E Rosberg já admitiu que não tem carro (pneu) para vencer.

Sem a Mercedes, pois, e andando da forma que indicou nesta sessão de abertura, Alonso pode sonhar alto. Da mesma forma que Massa, que só tiraria a má impressão que voltou a lhe pousar sobre o ombro com um pódio e uma performance mais do que convincente.

E ainda há, segundo a previsão atualizada, possibilidade até de tempestades durante o fim de semana. Numa fase em que a F1 tem apresentado provas bastante atrativas, o Canadá deve se tornar o crème-de-la-crème.

Comentários

  • Estou convencido e certo de que os relatos anteriores é de uma moçada q só viu o Gp do Canada de 2006 p cá … pois os anteriores cm chuva ou sem chuva salvo a era Shumacher foram Gps p q tem nervos de aço a não ser q tenha requisitado corridas p assistir no chá das 5:00 digo das 17:OO HS !! rss

  • Vitor, ótimo texto como o normal, porém, devo alertá-lo que não é o Platano a árvore cuja folha é utilizada na bandeira do Canadá, e sim o Bordo, que também serve de trocadilho para nomear as postagens desta corrida. Esta confusão é muito comum pois as folhas das duas árvores são muito parecidas, mas elas são de espécies diferentes.

  • Canada e Italia sao pistas em que a chuva estraga o espetaculo. Pistas de grandes retas e baixas cargas aerodinamicas sao os “pontos fora da curva” na temporada. E justamente nelas a velocidade e a probabilidade grande de erros se tornam atraentes na pista seca mesmo. A chuva em pistas assim tira o atrativo da velocidade e acaba se tornando ruim por “nivelar por baixo” a competitividade.

    Deixa a chuva pras outras pistas. Nelas é que o legal aparece!