Copinha América

SÃO PAULO | Não é o torneio mais chato do mundo. Acompanhar lacrosse ou tênis de mesa pela TV é maçante, faz a insônia dormir, e a gente se sente meio perdido e inútil. Que seja. O campeonato tem lá sua validade, e até seu brilho, a partir das semifinais. É quando um dos quatro grandes mais o quinto da vez cai. O resto da competição é mera perfumaria. Assim é a Copa América, e as emissoras, principalmente a principal, tentam fazer dela um evento de grande porte — nesta edição, especificamente, por ter  ficado sem o Pan-Americano — porque virou um dogma traçar um plano de enfrentar a Argentina na final e vociferar que as duas seleções, junto com a turma da Europa, formariam a Copa do Mundo dos sonhos, amigo.

A geografia da fifa — em minúsculo, mesmo; cabe ao seu valor — diz que a América do Sul só tem dez seleções. As Guianas e o Suriname não brincam. Tudo bem, até melhor. Só que para emparelhamento das chaves, 12 times é o menos ruim. E a América é dividida, e cada uma forma sua patota. Do lado de lá, sobram sempre Estados Unidos e México a cada dois anos. O resto da competição é mera perfumaria. Assim é a Copa Ouro, e nem as emissoras esportivas a cabo deste lado se preocuparam em passá-la por estas bandas, tamanho é seu valor.

Agora a Copa América acontece a cada quatro anos, mesmo tempo da Eurocopa. Dadas as situações acima, com um pouco de estudo analítico, seria mais sensato e coerente que fosse usado um sistema semelhante, então. Mas sensatez e coerência e dirigentes do futebol são como água e óleo. Pena. Como forma de valorizar o próprio torneio, uma proposta bolivariana de uma América unida caberia muito bem. São 40 seleções lá, 50 no total com as que se tem aqui. Tira a sede, compõem-se eliminatórias em grupos, formam-se 7 grupos de 7 equipes, passam as duas primeiras de cada grupo e o melhor terceiro colocado. E aí se tem a fase final com 16 seleções.

Porque se a Copa América é um campeonato meia boca, essa Copa Ouro que se disputa lá na parte do norte é varzeana. Com todo respeito, um torneio que tem Guadalupe e Granada não merece muito crédito. Guadalupe, diria um amigo meu, é nome de tia velha de novela mexicana. E Granada, ele completaria, é aquilo que sempre explode sobre Willie, o coiote, do Papa-Léguas.

Alguém há de dizer que na Europa é a mesma coisa e que as virtuais eliminatórias de grupos na América teriam equipes muito fracas. Alguns pontos: lá, são pelo menos seis seleções de grande porte — tiro a Dinamarca por modéstia: Espanha, Holanda, Alemanha, Inglaterra, Itália e França. Coloca aí Portugal e Rússia que dá um bom caldo. E num escalão abaixo, ainda há Suécia e Suíça e alguns times da ex-Iugoslávia — a Sérvia é boa de fase de classificação, a Croácia tem lá sua técnica e agora surge Montenegro no cenário. Só nessa, já são 13. Sai algo interessante. Ponho a Dinamarca? 14. Jogo ali a Eslováquia? 15. República Tcheca arrumadinha e decente? 16. Fecha. Sobre os times de beira de estrada, lá tem San Marino, Andorra e Luxemburgo, por exemplo. Seria simpático ver Montserrat, Martinica e Curaçao disputando a brincadeira.

Da forma atual, por aqui, é obrigatório lidar com Peru, Bolívia e Venezuela — ainda que esta última tenha tido uma evolução de se aplaudir nos últimos tempos. Mas o escalão delas é muito abaixo do segundão da Europa. Aí convites a equipes de outro continente são feitos. México. Beleza, o México é bom. Mas aí o México não pode vir com o time titular, que ganhou a tal Copa Ouro. Manda os moleques. Aí fazem putaria, e oito são dispensados. Esquece. Pensam no Japão. Coitados dos portugueses com as nossas piadas. O Japão não vem, terremoto e tsunami e vida para tocar. Corre para arrumar outra seleção. Escolhem a Costa Rica. Sub-22. A isso chamo catadão.

Então a gente põe no papel que dos 12 participantes, são sempre aqueles cinco: Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai e o quinto que se reveza com constância. Nos anos 90 eram a Colômbia, depois apareceu o Equador, e de um tempo para cá, o Chile. E é isso. Os únicos atrativos que a Copa América deste ano têm são o possível e propalado confronto entre Messi e Neymar possivelmente no último jogo e a volta do Uruguai como força — primeiro por seu quarto lugar na Copa do Mundo e segundo porque nem Brasil nem Argentina tem tido equipes fortes nos últimos tempos. Um jogador só não faz mais verão nem título.

Mas o Brasil está preocupado, e Mano Menezes e seus comandados já têm falado em respeito e que o jogo pode ser feio contra a Venezuela. Pelamor, vai.  Se Batista, técnico da Argentina, disser o mesmo contra a Bolívia, interna junto. Brasil e Argentina tem duas tetas-de-nêga no início desta jornada. Os confrontos preliminares são díspares e previsíveis e servem apenas para compor bolão.

E para jogar conversa fora no bar, no vaivém da cerveja e do queijo com azeitona, e discutir coisas como essa e usar como pano de fundo. É assim que farei logo mais à noite, com Argentina e Bolívia, um dos tantos jogos sem importância desta copinha.

Comentários

  • A AFA e a CBF teriam que tomar frente realmente organizar uma verdadeira COPA AMÉRICA. O problemática é que os peixes grades do sul e do note n querem correr o risco de perder suas vagasquase certas em copas do mundo. Pois se fizerem uma copa única na américa com as eliminatorias vai ser a mesma coisa. E eles preferem disputar vaga c peixe morto. Gostaria de ver uma copa com BRASIL, ARGENTINA, CHILE, URUGUAI,PARAGUAI, MEXICO, EUA,CANADA,EQUADOR,COLOMBIA,e tantas outra ss que n tem um nível mais alto porem seria justo. Como o nevel vai subir se n jogarem com a força daqui do sul?

  • Argentina e Brasil empataram… bela merda… alguém aí pra defender essa competição?

    Só para lembrar… já são 2 finais de Copa do Mundo sem os Sulamericanos… abram os olhos!

  • Que merda hein Victor!? Melhor continuar no automobilismo…se acha sem importância não veja.
    Falar que o segundo escalão da Europa é bem melhor que os times da América do Sul é ser muito paga-pau. Voçê é um paga-pau. O nível é muito parecido, o resultado dos jogos da Argentina e Brasil mostram isso. O que Dinamarca, Rep. Theca, Suécia, Suiça (fala sério….) já fizeram na vida para merecer tal comentário?
    Que os dirigentes do futebol não tem bom senso, voçê acertou em cheio, mas cuidado para não seguir o mesmo caminho…

    • VM responde: Dinamarca: campeã da Euro-92. Rep. Tcheca: vice-campeã da Copa do Mundo em 1934 e 1962, campeã da Euro em 1976 e vice em 1996. Suécia: vice-campeã da Copa em 1958. Tá bom ou precisa mais? Como já disse em outro comentário, veja que ótimos jogos tivemos na Copinha América 2011, não é mesmo? Mas mais importante: você é sem cedilha. Grato.

    • Um ponto que eu acho crucial: Dinamarca campeã continental, NA MINHA OPINIÃO, acho que vale a mesma coisa do que quando Colômbia e Paraguai foram campeões da Copa América, por exemplo.
      Também não acho a Eurocopa o supra-sumo das competições, apenas a coisa é feita mais organizadamente, ela produz o mesmo de jogos ruins e bons que se produzem na Copa América.
      E os campeonatos nacionais só são mais interessantes porque eles tem dinheiro pra recrutar qualidade NO MUNDO INTEIRO !!!

      Enfim, certas coisas ocorrem lá por pura organização, e não por ser predestinada ou por ser o supra-sumo disso, não, bem longe disso… por isso nunca acho legal ficar retrucando ou comparando com coisas do tipo: “lá na Europa é diferente…”

      Bom, só uma opinião minha…

  • Com todo o respeito Victor. Todo respeito mesmo…

    mas existem outros esportes “não automotivos” muito mais legais ou tão legais quanto o futebol…

    Lacrosse ou Golf podem não ter tão populares quanto o futebol, mas tem sim sua magia…

    assim como o futebol americano, hoquei no gelo, rugby, beiseball, volley, basquete, handebol entre outros…

    o Lacrosse por exemplo é um exporte muito popular na costa leste do Canadá, podem não ser tão popular quanto a NHL mas tem um bom público. entretanto na costa oeste do Canadá quase niguém curte lacrosse…

    a Seleção Brasileira se ferra porque ela e 99% do Brasil acreditam que somente 1 ou 2 jogadores vão levar o time inteiro quando existem outros 9 sujeitos em campo para ajudar….

    Falta aos jogadores da Seleção Brasileira agirem como tal, uma “seleção”, fazerem jus ao título que receberam de “selecionados”.

    Eles represetam o melhor do futebol que o Brasil oferece, e olha que futebol no Brasil é levado a sério, o país tem uma reputação a zelar, 5 títulos a honrar.

    eu não entendo como o Brasil com um campeonato interno tão competitivo “recruta” mais da metade dos jogadores que jogam na europa. porque não chamar aqueles que jogam no nosso país? que vemos em nossos gramados? quantos deles não querem e merecem uma chance de mostrar o que sabem?

    porque dizemos que a Venezuela tem um time ruim se fazem 3 jogos que não ganhamos de um país onde o Baseball é muito mais popular que o futebol? não era pra ser fácil ganhar dos Venezuelanos?

    porque colocamos jogadores como Neymar ou Pato como seres indestrutíveis mas nos esquecemos dos outros 9 jogadores? Não adianta nada se Neymar e Pato trabalharem se o time não! assim como não adianta 9 jogadores trabalharem bem se Neymar e Pato não fazem o trabalho deles! futebol se ganha fazendo pelo menos 1 gol!

    é um “cai-cai” do caramba. jogador de futebol agora aprende a fingir que se machuca! as vezes eu gostaria muito que esse pessoal desse uma espiada nas partidas da NHL pra ver o que é porrada, os caras se matam atras de um disco de borracha dentro de um ringue de gelo! dão socos, chutes, disco na cara do goleiro, os caras saem sangrando mas nem por isso alguém fica nesse negócio de “cai-cai”!

    tá certo que são esportes diferentes. mas um pouco menos de fingimento e mais jogo também ajudariam muito né?

    existe sim esportes legais além do futebol.

    eu já estive em uma partida da NHL e vi a adrenalina daquilo, é um negócio surreal! eu já acompanhei a final da NFL de 2011 no Canadá (vendo pela TV é claro). não entendia nada mas o pessoal foi me ensinando as regras.

    o Brasil precisa investir em outros esportes, dê oportunidades para que os fãs escolham seus esportes sem serem ridicularizados por não gostarem de futebol e não torcerem pra Seleção Brasileirade Futebol…

    que as pessoas tenham liberdade e dignidade de andarem na rua com suas camisas de beiseball sem serem vistas como “estranhos”.

    existe vida além da bola…

    Que a CBF arrume a casa e defina o que “seleção” significa. porque tirar sarro de times como a Venezuela, cantar vitória antes da hora e depois ficar com aquela sensação de “sexo interrompido” é muito chato!

    antes que me perguntem.

    Odeio futebol/soccer. é um saco por causa de besteiras como a da Seleção Brasileira. sou NHL pra sempre! Vancouver Canucks na veia!

  • Existe futebol profissional em Suriname e na Guiana? Pq a Guiana Francesa, salvo algum engano, nem país independente é.

  • Estou com raiva de mim mesmo por ter lido todo o texto! As seleçoes Europeias que você citou nao sao lá essa coisa toda nao , meu caro. Eu tentei assistir aos jogos da última Eurocopa e que pocaría. Parece que você entende tanto de futbol como eu de fazer pamonha.

    • concordo rogério…
      a Euro tambem é um pé no saco até chegar na faze decisiva…
      alem do mais… se alguem falar que as duas ultimas finais da copa america (principalmente 2004) foram joguinhos, o melhor a fazer é sugerir que siga o caminho do duente ali de cima…

  • A Grécia fez campanhas horrorosas nas 2 copas que disputou. Ano passado venceu apenas um jogo e em 94 foi a lanterna geral !!!

    Acho que o segundo escalão europeu nivela com o segundo escalão aqui da américa do Sul, com exceção de Venezuela (já quase subindo um degrau), Peru (que desde a aposentadoria de Teófilo Cubillas virou um ninguém em futebol) e Bolívia (disparado o pior futebol desses lados meridionais, atualmente) que fazem parte de um TERCEIRO ESCALÃO que eu criaria. Chile, Colômbia e Equador (que em grande parte de sua história foi do terceiro) são segundo escalão. Paraguai e Uruguai ameaçaram oscilar para o primeiro, segundo que os celestes já foram muito tempo do primeiro, em seus tempos áureos. Para o primeiro, sobram Brasil e Argentina.

    Na Europa, o que ajuda é o número de seleções, sancionada pela entidade de maior poderio financeiro e de influência no mundo que é a UEFA, mas resumo a qualidade dos escalões como sendo a mesma do continente sul-americano, diferenciada apenas pelo número maior de componentes, que obviamente será maior na Europa. Lá, eu criaria o quarto escalão, para as seleções ridículas que lá existem.

    Atualmente:
    1º ESCALÃO: Espanha, Itália, Alemanha, Holanda, França e Inglaterra
    2º ESCALÃO: Portugal, Suiça, Sérvia, Eslovênia, Croácia, Bósnia (que até pouco tempo era terceiro), Grécia (graças aos últimos resultados), Rússia, Turquia, Ucrânia, Suécia (vem em fase ruim), Polônia, Irlanda, República Tcheca, Eslováquia, Dinamarca e Romênia (prestes a sair).
    3º ESCALÃO: Montenegro (praticamente com um pé e meio no segundo), Bulgária (já foi segundo com louvor em tempos de Stoichkov), Escócia, Bélgica (outra decadente), Irlanda do Norte, Israel, Noruega, País de Gales, Letônia, Lituânia, Belarus, Islândia, Israel, Áustria (muito tempo do segundo), Hungria (chegou, na época de Puskas, a ser do primeiro escalão), Finlândia, e Macedônia (com um pé e meio no quarto) e Estônia (idem à Macedônia).
    4º ESCALÃO: Albânia, Malta, Luxemburgo, Chipre, Geórgia, Azerbaijão, Cazaquistão, Moldávia, Armênia, Ilhas Faroe, Andorra, Liechtenstein e San Marino.

    Lembrando que, em minha opinião, o quarto escalão não existe na América do Sul, pois as seleções europeias que se enquadram nesse quesito são excepcionalmente inferiores ao nível aceitável de futebol.

    Lembrando que isso é opinião minha !!!

    Aaaahhh, e gostei da proposta “bolivariana” de Copa América, achei uma ideia fantástica !!!

  • A Grécia é mediana tb, vira e mexe eles não pegam nem terceiro lugar em grupo de eliminatória.

    A Copa América deveria classificar os 10 da América do Sul, + México, EUA e mais 4 times da CONCACAF.

    E faz q nem panamericano, a cada 4 anos, uma sede em cada continente.

  • Prezado Victor, ao falar das seleções européias você se esqueceu de citar a Grécia, campeã da Euro 2004 (em cima de Portugal de Felipão). De vez em quando (ou seria de vez em nunca ?) fazem estrago…