Rei Ricardus

SÃO PAULO | Um dos meus exercícios preferidos é contrariar minha mãe. É divertido vê-la subindo nas tamancas, como minha avó diria, viva estivesse. A reação dela ao ouvir uma nota 6 para um almoço que ela julga ser 10 é digna de um Oscar por melhor drama. O negócio também vai para discussões mais fervorosas, para assuntos como família ou mesmo postura de vida. Ou mais ou menos relevantes, como futebol.

Eu ainda tinha menos de 10 quando, no fim daquele jogo da Copa do Mundo, minha mãe correu para se sentar no banco redondo e dedilhar no piano a música de tango à qual a maioria está acostumada. No apito final, ela fez sua melodia e esfalfou-se com a desclassificação do Brasil em 1990. Não eram bem essas as palavras, mas como conheço a figura, certamente era algo como “mas não são os bons, os melhores?”, e caía na risada, congraçada e realizada pela eliminação do time do qual não suportava a soberba e a falta de humildade.

Até hoje é assim. E se aparece a tal figura em alguma reportagem, digamos que desgraçado seja o predicado mais leve. Jeitão dela.

De certa forma fui influenciado por aquilo, mas no confronto dos meus ideais de provocá-la, minha aversão pela Seleção acabou em um meio termo. Preferi torcer pela Dinamarca. É bem mais legal. Na Copa de 1998, aos 2 minutos de jogo, minha mãe e eu fizemos eco na sacada de casa com o gol de Jorgensen. No fim do jogo, lembro da lágrima furtiva pelo 3 a 2 contra e ela lá, malditos, filhos da puta, não vão ganhar essa merda. Em 99,9% das vezes, numa estatística com certa margem de erro, sou aloprado pelos insucessos, mas vida que segue. Eu escolhi para quem torcer. Não fui tomado por um patriotismo ou nacionalismo falso que só existe em períodos de quatro anos. No intervalo, há uma catarse e uma letargia coletivas.

A pátria em chuteiras. Nelson Rodrigues reavaliaria isso. O homem que comanda a pátria em chuteiras é o mesmo da época daquele tango. Fisicamente não mudou muito. Juridicamente, um tanto quanto. Em negócios faraônicos, inverteu dunaS para formar uma empresa, da qual formou sítios e mansões. Lavou as mãos e molhou. Saiu impune. Na nossa republiqueta, fez-se rei e como escudo pôs a principal emissora do país. Ali ganhou mais do que o quarto poder nas mãos, e qualquer sujeira vem sido varrida para debaixo do gramado, mesmo se o estádio em volta esteja longe de ser erguido.

O Brasil ganhou a Copa. Ganhou? Quedê? O que o Brasil ganhou com a Copa, se a Copa indica um estado de exceção em prol de uma entidade esportiva? A tal figura ganhou com a Copa, e com ela no bolso, seu reinado virou absolutista. Luis XIV tem inveja no mundo paralelo da tal figura que cooptou gente ministerial e de outras casas oficiais da republiqueta e encheu de brindes e mimos seu fiel escudo de microfone. O futebol virou um ciclo de cifrões oriundos da imoralidade.

Eu me sinto bem à vontade para falar do pouco poder desta quarta via por pertencer a ela. Sinto certo asco. Da fraqueza e do pouco empenho que se faz para levantar fatos e investigar, da subserviência e da comodidade que se inclinam diante da presença do ‘doutor’ — aliás, é fácil ser doutor sem ter o título. Não é só no futebol, não, doping e Tarso Marques não me deixam mentir. As tantas que tentam agir só o fazem por chantagem ou vingança. É o jornalismo conveniente típico das bases dos amigos de balada que não conseguem ficar com uma garota. Se eu não pego, ninguém pega. As exceções acabam sendo tão poucas que o barulho pouco incomoda e é abafado porque aquela que deveria ajudar e zelar vê o Brasil como Springfield. E a gente acaba admirando e se perguntando como não temos profissionais como Andrew Jennings, o jornalista da BBC que mexe com a vida desta quadrilha que, como fim, acaba mexendo com a minha conta, que não tem isenção fiscal nem mesmo se faltarem alguns centavos.

Não que tivesse alguma dúvida de que tipo de caráter se trata, mas li com atenção hoje à reportagem da ótima Piauí hoje. Não tenho língua papal nem muitas papas, mas a vulgaridade do ‘doutor’ é espantosa. Não a vulgaridade, sei lá. É a empáfia, a arrogância e a prepotência, o escárnio e o deboche. A tal figura só temeria e baixaria seu topete gris se fosse mal falada no ‘JN’. Mas o tio que lá edita escolhe as principais notícias tal como seus seguidores fazem com suas gravatas, já que sabe bem que as portas daquela casa estão sempre abertas e convidativas. A tal figura aí é a expressão máxima da banana que a personagem de Reginaldo Faria dá ao Brasil no fim de ‘Vale Tudo’, novela da época do tango que repassa nos dias atuais. A banana vai ser dada daqui quatro anos, num teórico pós-Copa em que provavelmente a parte de exceção da imprensa vai estar debatendo o rombo, os elefantes brancos e a ausência dos legados da competição. A banana é, por que não, posta virtualmente em nossos rabos. Há quem goste e que ajude a descascar. Tem gosto pra tudo. Nos pés devidos, as chuteiras da pátria ajudam a enfiar.

Qualquer cidadão que se preze e que se julgue brasileiro — não o brasileiro que só lembra do país para torcer por 11 barbados —, deveria ser completamente contra a realização desta Copa, que é apenas um subterfúgio para movimentação de bilhões sem o mínimo de retorno para nosso futuro cotidiano. Quem se une em marchas para maconha, liberdade, homossexualidade ou religião ou faz qualquer flash mob para imitar a cena das cataratas do Niagara do Pica-Pau no vão do Masp deveria ter motes mais civis para exigir transparência de toda essa gente que ronda a tal figura, principalmente ela. Ou ainda, quem espera acontecer — ou, numa linguagem adaptada, quem caga montão — pelo menos deveria parar de torcer para este Brasil. Quem apoia fervorosamente compactua com a figura nefasta que é dona imperial deste suposto time e deste suposto país. Pena que não vai rolar. Porque o Brasil não deu certo. Nunca deu certo. Não há de dar em três ou quatro anos.

Do lado de cá, sigo sendo Dinamarca e me vejo na difícil situação da admissão de que minha mãe esteve sempre certa. Vou dizer a ela o 10 que, enfim, merece no almoço que faço questão de preparar no fim de semana, ao som de Gardel.

Comentários

  • Como começar…
    Existe um grande hiato na atitude do Brasileiro. Sabemos ver onde está o problema, mas não temos atitude para correr atras e tentar resolver. O falar é fácil, o agir é o problema. Temos medo.
    Parecemos aquela figura patética do rato que sempre ruge, porém quando o gato aperta fugimos e nos escondemos.
    Se nos propusemos a sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, temos de fazer acontecer!
    Quanto ao dinheiro que gastaremos, no momento certo ganharemos mais que o dobro durante os eventos, não podemos ficar com essa disucção tacanha por muito mais tempo. Temos de fazer acontecer! Caso contrario passaremos o maior carão.
    Já o O Sr. Ricardo, bem, está lá por conta de alguma coisa. Alguém deixou ele assumir, mesmo sabendo da sua absurda falta de carater evidente. É como os politicos que agora nos governam, estão lá por que “alguém” se omitiu. Esse “alguem” deixou.
    Somos muitos “alguém”.
    Culpa nossa, pena nossa.
    Quanto ao Brasil, já deu certo e pode continuar a dar certo. Temos muitos meritos. Somos perseverantes, temos apenas de parar de rugir e fazer acontecer.

    • No momento apenas reitero algo interessante.
      Nos orgulhamos de fazer paradas gay mosntruosas, as maiores do mundo…
      Realisamos passatas da maconha…

      Disso eu não tenho orgulho nenhum.

      Liberdade não é libertinagem

      Democracia não é anarquia

  • Saramago, se vivo, não hesitaria em ceder-lhe o título “ensaio sobre a cegueira” para a análise que acabo de ler. Estranhamente irretocável.

  • Parabéns, Victor. Excelente texto. Eu torço pela Alemanha desde 1995. Vibrei com todas as seleções que eliminaram o Brasil-sil-sil desde então. Aliás, se o Brasil não é um país, e sim uma piada, é uma piada de muito mal gosto, porque é um país que existe apenas como Estado e jamais existiu como nação.

    Veja a prova disso no meu blog:

    http://blig.ig.com.br/valdemation_society/2009/12/18/vale-a-pena-torcer-pelo-brasil-parte-iii-o-pais-que-nao-existe/

    • Se o Brasil não existe, é por conta de nós mesmos que não conseguimos ter atitude para faze-lo existir.
      Temos o dinheiro
      Temos a competência
      Temos inteligencia
      Só não temos a atitude

      Paremos de nos lamentar e façamos acontecer.

  • Texto muito bom.

    Só discordo quanto a não realização da Copa. Devemos, sim, cobrar por uma Copa justa, com valores divulgados, contas fiscalizadas, investimentos comprovados. Caso contrário, em função da corruppção que está enraizada na nossa sociedade, nem levantaríamos de manhã para ir trabalhar, estudar ou realizar qualquer outra atividade. Ficaríamos apenas lutando contra a realização dos eventos. Temos que nos rebelar contra a forma que as coisas estão acontecendo, mas não querer que os eventos não ocorram.
    Teixeira é um asno. A Globo é quem manda nesse país há muitos anos e ele só sai pra entrar outro que a Globo concorde.

  • a CBF precisaria perder a copa de 2014 de preferência antes da final para quem sabe o povo ficasse “p” da vida e quem sabe uma mudança viria. jogadores com mais humildade e mais profissionalismo…

    • Profissionalismo nós teemos, o que não temos é atitude.
      Choramos demais
      Nos ajoelhamos demais
      Somos preguiçosos
      E muito covardes
      A culpa é sempre dos outros
      E a nossa parte?
      Quando vem?

  • Sensacional, caro Victor!

    E as pessoas dizem que sou chato quando digo que essa seleção deve perder todas as competições que disputa.

    Sobre o tal “doutor” é melhor não dizer nada. Já fizeram isso e muito melhor do que eu poderia fazer.

    Abraço!

  • Existem outros esportes além do futebol/soccer

    existem outros esportes “não automotivos” muito mais legais ou tão legais quanto o futebol…

    Lacrosse ou Golf podem não ter tão populares quanto o futebol, mas tem sim sua magia…
    assim como o futebol americano, hoquei no gelo, rugby, beiseball, volley, basquete, handebol entre outros…

    o Lacrosse por exemplo é um exporte muito popular na costa leste do Canadá, podem não ser tão popular quanto a NHL mas tem um bom público. entretanto na costa oeste do Canadá quase niguém curte lacrosse…

    a Seleção Brasileira se ferra porque ela e 99% do Brasil acreditam que somente 1 ou 2 jogadores vão levar o time inteiro quando existem outros 9 sujeitos em campo para ajudar….
    Falta aos jogadores da Seleção Brasileira agirem como tal, uma “seleção”, fazerem jus ao título que receberam de “selecionados”.

    Eles represetam o melhor do futebol que o Brasil oferece, e olha que futebol no Brasil é levado a sério, o país tem uma reputação a zelar, 5 títulos a honrar.

    eu não entendo como o Brasil com um campeonato interno tão competitivo “recruta” mais da metade dos jogadores que jogam na europa. porque não chamar aqueles que jogam no nosso país? que vemos em nossos gramados? quantos deles não querem e merecem uma chance de mostrar o que sabem?

    porque dizemos que a Venezuela tem um time ruim se fazem 3 jogos que não ganhamos de um país onde o Baseball é muito mais popular que o futebol? não era pra ser fácil ganhar dos Venezuelanos?

    porque colocamos jogadores como Neymar ou Pato como seres indestrutíveis mas nos esquecemos dos outros 9 jogadores? Não adianta nada se Neymar e Pato trabalharem se o time não! assim como não adianta 9 jogadores trabalharem bem se Neymar e Pato não fazem o trabalho deles! futebol se ganha fazendo pelo menos 1 gol!

    é um “cai-cai” do caramba. jogador de futebol agora aprende a fingir que se machuca! as vezes eu gostaria muito que esse pessoal desse uma espiada nas partidas da NHL pra ver o que é porrada, os caras se matam atras de um disco de borracha dentro de um ringue de gelo! dão socos, chutes, disco na cara do goleiro, os caras saem sangrando mas nem por isso alguém fica nesse negócio de “cai-cai”!

    tá certo que são esportes diferentes. mas um pouco menos de fingimento e mais jogo também ajudariam muito né?

    existe sim esportes legais além do futebol.

    eu já estive em uma partida da NHL e vi a adrenalina daquilo, é um negócio surreal! eu já acompanhei a final da NFL de 2011 no Canadá (vendo pela TV é claro). não entendia nada mas o pessoal foi me ensinando as regras.

    o Brasil precisa investir em outros esportes, dê oportunidades para que os fãs escolham seus esportes sem serem ridicularizados por não gostarem de futebol e não torcerem pra Seleção Brasileirade Futebol…

    que as pessoas tenham liberdade e dignidade de andarem na rua com suas camisas de beiseball sem serem vistas como “estranhos”.

    no Brasil tanto a CBF como a mídia ridicularizam outros esportes que não sejam futebol/volley/basquete. se você curte a NFL ou NHL você é ridicularizado na rua por andar ou manifestar apoio a qualquer time destas ligas. você não pode dizer “não gosto de futebol” senão todo mundo te olha estranho. é um saco!

    existem sim outros esportes legais, o futebol em si é legal mas a industrialização anda tornando o futebol/soccer muito pesado, um bando de mauricinhos qu fingem que jogam bola nas referidas seleções mas na verdade só pensam no dinheiro indo para as suas contas bancárias…

    existe vida além da bola…

    Que a CBF arrume a casa e defina o que “seleção” significa. porque tirar sarro de times como a Venezuela, cantar vitória antes da hora e depois ficar com aquela sensação de “sexo interrompido” é muito chato!

    antes que me perguntem.

    Odeio futebol/soccer. é um saco por causa de besteiras como a da Seleção Brasileira. sou NHL pra sempre! Vancouver Canucks na veia!

    Go Canucks go!

  • Victor, concordo com seu comentário. Não torço para Seleção (prefiro clubes) e sou contra a realização tanto da Copa quanto da Olimpíada. O que mais me impressiona é que depois de tantas denúncias, de uma entrevista arrogante e nojenta como esta, os nossos 3 poderes não farão nada? São 3 poderes com força inferior ao poder deste indivíduo? o Brasil me deprime.

  • A entrevista na Piauí envergonha o Brasil como nação, democracia, polític, tudo…
    Felizmente vc, o Flávio e tantos outros na patota citada por Ricardus na´Piauí… fazer parte desta patota é uma honra e motivo de orgulho, certamente.
    Quanto ao seu texto, impecável, perfeito do começo ao fim.

  • O Imperador (o de verdade). na boa e velha política do toma-lá-dá-cá, já aliciou as torcidas do corinthians e do flamengo. Já tem nas mãos a globo e a maioria dos políticos de Brasília, com as doze sedes distribuídas por critérios mais amplos possíveis que não o futebol.

    Ou seja, o resto, como ele mesmo disse, ele caga e anda. E continuará assim até 2015? Não, em 2015 entra o seu Fiel cachorrinho sarnento, andres sanches, que garantirá mais décadas de safadezas ao futebol brasileiro.

    Dá-lhe Brasil!!!

  • Concordo plenamente contigo no que tange à realização da Copa. E, infelizmente, no final de tudo os únicos beneficiados serão um punhado de clubes e um monte de empreiteiros espertos.

    O que teria de bom para a população, que seria a melhoria da infra-estrutura, até agora não saiu do papel. E muita coisa não vai sair mesmo, pode contar com isso.

    E também estou contigo no assunto de não torcer pelo Brasil. Eu não torço desde 1994, quando se deu aquele rolo do voo da muamba e o único que levou ferro foi o secretário da Receita Federal, dispensado por cumprir o dever dele. E enquanto Ricardus I for o rei dessa bagaça aí, continuarei não torcendo.

    Quando o Brasil quase não se classificou pra Copa de 2002, ele quase caiu. Infelizmente, o Brasil só volta a disputar eliminatórias para a Copa de 2018, então ele tá garantido pelo menos até essa época aí.

    E se a seleção de futebol ganha, perdemos nós. Infelizmente.

  • Excelente texto Victor, porem nosso povo é omisso só reclamam e vão as ruas quando apertam o “calo deles”, tínhamos poder para mudar o país, mas nossa cultura não permite onde ser malandro e tirar vantagem dos outros é coisa legal e inteligente!

  • Complicado pensar assim Victor. Lembre-se que a Olimpiada ainda gera problemas de dividas na Grecia, que estao sendo colocadas a publico nos ultimos tempos.

    Nao acho que o problema seja cobrar transparencia, ate pq essa transparencia pode ser muito bem (e facilmente) acobertada. O que deveria acontecer é dona FIFA e COI cobrarem menos pelos seus eventos. É facil ter lugares de luxo para tais eventos, mas a que custo? O que o país vai ganhar com isso?

    No caso do futebol, tudo vai ser aproveitado, pq aqui so se fala de futebol em se tratando de esporte. Meu medo mesmo é a Olimpiada. Vc viu o velodromo do Rio, aquele que dilacerou o autodromo? Entao, ele deve ser demolido no final do ano! E vc acha que o autodromo vai ser recuperado e voltar a forma antiga?

    Bom, deveria né…

  • Quem acha errado torcer contra não entende que isso significa torcer a favor. A favor do país, que importa muito mais que uma seleção. É desesperador imaginar o Brasil campeão do mundo em 2014, vai ser uma lavagem cerebral tão absurda que qualquer meio comunicativo que falar de superfaturamento, corrupção, vai ser execrado pela maioria, afinal, “agente samo hexa”.

    A situação em que chegou agora, com essa entrevista, é daquelas coisas que nada feito pelo meio pacífico vai mudar algo, ficou evidente que não. Sobra o outro caminho. Infelizmente vivemos no “vou xingar muito no Twitter”. Antes a arma era outra, uma bem mais eficiente. Não é possível que não tenha um.

  • Nossa vendetta pode vir da forma menos aguardada: pelo próprio baixo nível de profissionalismo e planejamento dos asseclas de Rei Ricardus, essa Copa corre o risco de não sair do papel, e se sair, sairá de forma tão tosca, que constrangerá aqueles que visavam engrandecer-se com o evento.

  • Texto bem escrito, mas não sei é bem por aí. Sujeira na cartolagem não é exclusividade brasileira…. qual o sentido em apoiar a Argentina, cujo futebol é comandado pela mesma controversa figura há mais de 30 anos? E se prepotência causa repúdio, como admirar o deboche com que os dinamarqueses comemoraram seus gols contra o time de Zagallo em 98?

    Temos que cuidar melhor do Brasil, não sei como encontrar mais esperanças em meio ao noticiário, mas torcer contra a Seleção eu vejo como uma atitude tacanha, com todo o respeito a quem faz isso.

    É claro que nossas vitórias em campo ajudam a encobrir esse tipo de palhaçada que acontece, mas cabe a nós separar as coisas e sermos menos coniventes… menos iludidos, porém sem negar as nossas origens. A não ser que você tenha alguma ligação direta com a Dinamarca, qual o sentido? É um país bacana, gostaria de conhecer, mas há coisas podres no reino deles (he he he) também.

    Não torço contra a Seleção, para mim ela ainda é motivo de orgulho, uma demonstração da força e do potencial do nosso povo.

    Torço contra Ricardo Teixeira (não acho que ele e a Seleção sejam a mesma coisa, por mais interligados que estejam) e sinto ao ver a nossa Copa do Mundo tomando rumos tão previsíveis. Ainda assim, não sou contra também. O evento será proveitoso de alguma forma e é merecido pelo grande desenvolvimento que tivemos nos últimos anos, apesar de tudo que ainda se vê e da minha convicção de que muita gente de bem ainda terá desgosto com esse Mundial.

    Eu também sou jornalista e, desde pequeno, a seu exemplo, gostava de contrariar a minha mãe e a todos. Sou crítico com a nossa política, a nossa passividade, a nossa inocência, o nosso oba-oba. Mas amo esse país e não é por causa dos seus problemas que eu mudarei de lado, ainda que seja só futebol.

    • Diogo, se informe um pouquinho… A comemoração em 98 não foi escárnio, a pose feita é referência a uma fonte na praça do Kastellet em Copenhague.
      E achar que um grupo de jogadores, sejam portadores de qualquer valor cívico ou moral…
      Ah, vá!

    • Diego, você antagônico! Se assume que as vitórias do Brasil escondem a corrupção, e afirma amar o Brasil, atitude tacanha é torcer a favor, pois se é a favor da seleção de RT e contra o Brasil. Então sua afirmação que ama o Brasil é so no futebol, inválida paar outras questões?
      Torcer contra a seleção não é a mesma coisa que torcer contra o Brasil, você está misturando as coisas.

  • Ótimo texto Victor, sem firulas. Desde 2006 eu sigo mais ou menos a sua filosofia, e nos raríssimos momentos em que o futebol me desperta algum interesse é o futebol italiano, pelo qual nutro uma relativa simpatia. Além disso também gosto de jogar meus games no computador apenas com a seleção italiana e a Juventus :p A única vez na vida em que torci de fato pela seleção foi a seleção feminina nas olimpíadas. Na maioria do tempo faço por onde ignorar o esporte. Tenho tendência a negar tudo que tentam empurrar pela minha goela cultural, por melhor que possa ser, pois eu gosto de ter meus motivos pra gostar de algo, e no caso do futebol não tenho nenhum.

    • Bruna,

      só chamo a atenção de que o futebol italiano é tão podre quanto o nosso. Berlusconi é o “Teixeira” deles. A Juventus é um time obscuro, com patrocínio da FIAT e controle de resultados, como foi comprovado recentemente. Desconfiam inclusive de lavagem de dinheiro por parte da montadora nas transações de jogadores da Juve. Enfim, o futebol, no mundo todo, é corrupto. Precisamos mudar, pois, para muito (e eu me incluo), esse esporte transcende esse mundo com as emoções que proporciona.

      Saudações,

      Arthur

  • Victor,

    Você é contra a realização da F1 ou da Indy no Brasil?
    Não torce pelos brasileiros nessas categorias?
    Realmente acha que não existe nenhum tipo de politicagem e pessoas levando vantagens extras nas mesmas?

    Brasileiro precisa perder a mania de pensar que corrupção é exclusividade nacional. Na China por exemplo, existe pena de morte para políticos corruptos. Vários já cometeram crimes e foram executados.

    Voltando foco para a copa do mundo: O evento é sim uma grande conquista para o Brasil. Junto com as Olimpíadas, são os dois maiores eventos esportivos mundiais e são lucrativos. Sim isso mesmo…são lucrativos para os países-sede.
    É por isso que é tão concorrido e difícil de ganhar o direito de sediar ambos.

    Imagine a quantidade de pessoas envolvidas na construção de estádios, ampliações de aeroportos, rodovias, avenidas, entre outros. Os turistas que nós receberemos movimentam a rede hoteleira das cidades, além de é claro, movimentar bares, restaurantes, pontos turísticos, shoppings, entre outros.

    Também é uma ótima oportunidade para mostrar outra imagem do país lá fora e incentivas pessoas que não vieram à um dia conhecer o Brasil.

    Se você já foi num show do U2 por exemplo, deve ter reparado quantas pessoas trabalham direta e indiretamente (e recebem é claro) para realizar um grande evento.

    Não confunda também patriotismo com torcida. Todos torcem por brasileiros em outros esportes e categorias, a ênfase só é maior no futebol porque o mesmo é o esporte mais praticado no país.

    • VM responde: Não, não torço. Não escolho nacionalidade pra torcer. E não é porque há corrupção em qualquer lugar do mundo que tenho de achar que no meu quintal floresce a mesma erva-daninha. Sobre a imagem do Brasil lá fora, imagino que esteja bem feia diante das pessoas que estão no comando desta Copa.

    • Paulo…

      A Copa do Mundo é um evento pertencente a uma entidade privada, como a F1 pertence ao Ecclestone…. Vc realmente acredita que os aeroportos serão ampliados??? acredita que estradas serão construidas??? realmente acredita??? Eu não…

      A Copa só vai ser lucrativa para os empreiteiros… senadores… etc…

  • Quero que este país cresça, e isso não vai acontecer sediando um lixo de torneio de futebol que vai sugar todo o nosso dinheiro de impostos sem um bom motivo!! Na Copa, eu abraço o time dos meus avós, do meu pai, e minha também (apesar de ser apenas no sangue e não ter nascido em suas terras), contra essa corja de pseudo-nacionalistas brasileiros. Viva Portugal!!! E viva o sucesso do Brasil, e que este sucesso aconteça de outra forma que não seja num torneio de futebol, e sim no sucesso de seu povo e de sua justiça! Parabéns pela coluna!

  • Meu antigo professor de História, Clóvis, sempre disse: O Brasil, se não fosse um país, seria uma grande piada. – e praticamente dá pra complementar com o que disse… Já nasceu assim, será sempre assim.

  • Perfeito de ponta a ponta. Hoje mesmo, ao ler sobre o VLT de Cuiabá, cheguei a conclusão que apenas uma boicote mostraria que este país tem jeito. Mas duvido. Todo mundo achará lindo e maravilhoso, como sempre

  • texto sensacional Victor! Eu também me encaixo na sua situação, mas vou um pouco além já que além da Dinamarca torço pra outras seleções também, além de ser eternamente grato a França e Holanda que eliminaram nas ultimas copas a seleção da CBF e acabaram assim com a historinha da “Pátria de chuteiras”. Isso vale também pra outros esportes como o voley, onde a estrutura pode ser de 1º mundo aqui, mas é ligado ao COB que é presidido por um cara que é uma versão light do “Rei Ricardus”, por isso no voley sou EUA! isso sem falar na F1, onde a mídia tentou me fazer engolir o Felipe Massa e acabei sofrendo muito por ser um fãnzaço do Raikkonen…

    • Fomos dois fãs sofredores então, ótimos tempos :p Graças a ele comecei a gostar de automobilismo, fiz amizades com as quais mantenho contato até hoje e não tem pseudo patriotismo que supere isso.

  • Perfeito. Sou brasileira, faço o que posso para dar ao país o que recebi dele, e não foi pouco. Meus pais sempre nos deram valores morais, e liberdade de escolha. Meu pai, mais adepto aos esportes, tanto na prática como na audiência, sempre fez questão de dizer: vocês não ganham nada com o mérito dos outros. Ou seja, quando a seleção ganha a Copa, eles são os vencedores. E foi assim… a cada Copa do Mundo, a gente escolhia uma seleção pra torcer, se ganhasse ok, se perdesse, ninguém perdia o sono, ou emburrava. Por influência de meu avô paterno, eu torço pra Itália, fui feliz, pois a primeira Copa que eu assisti foi a de 1982, e teve gente que brigou comigo porque eu comemorei os gols do Paolo Rossi. E honestamente, não me empolgo mais para torcer nem pro meu time no Campeonato Brasileiro. A CBF me enoja, e tudo que seja feito por ela, não merece meu precioso tempo.
    Todo mundo sempre soube que a Copa/2014 ia ser uma roubalheira sem tamanho, e mesmo assim, grande parte da imprensa comemorou quando o Brasil ganhou o direito de ser sede. E não vamos esquecer que Rio/2016 vai pro mesmo caminho.
    Depois de tanto esforço pra começar a ver nosso país nos trilhos, vamos ver tudo ser jogado fora.

  • Num espírito similar ao seu da Dinamarca (mas menos intenso), tenho simpatia pelos primos pobres da Inglaterra: Escócia, País de Gales e as Irlandas. E gritei “Madri!” durante a escolha da sede dos jogos de 2016. Uma pena que sejamos a exceção.

  • Seu texto é um grande resumo do meu sentimento que já dura pelo menos 10 anos, desde 2001, quando a mesma emissora fez por onde fazer o certo, e depois desfez, e$queceu.