Terra dos Khalifa, 2

Kimi Räikkönen fez o possível para tentar ficar com a vitória no Bahrein (Foto: Red Bull/Getty Images)SÃO PAULO | Mas vai entender a lógica deste campeonato. O cara me larga em 11º, tem três corridas no currículo depois de estar dois anos afastado, a equipe muda de nome e representa uma grande marca que não ganha tem lá umas duas décadas e vai atazanar a vida do bicampeão que estava zerado no ano e parecia não ter chance de ganhar até chegar a temporada europeia. Era Vettel ou Raikkonen — e se os dois se achassem, cairia no colo de Grosjean, o que garantiria, de qualquer forma, um novo vencedor em 2012. É uma temporada tão sortida quanto um saco de balas Kids, me afiançou uma jornalista aí, logo demitida por seu gracejo inoportuno.

Vettel e a Red Bull se acharam no ano. Se alguém for colocar um teste de verdadeiro ou falso num vestibular sobre F1, a história de que encontraram o problema do RB8 na sexta é um V garantido. Não tivessem as Lotus largado para brilharem, o alemão teria tido uma vitória típica daquelas do ano passado. Até a primeira parada, havia livrado confortáveis 7 ou 8 segundos para a rapa, já liderada por Kimi. Mas como a Lotus estava espertinha e serelepe, chamou o Tio da Vodka para parar antes. Com os pneus novos, tratou de encostar, encostar e encostar, e com a beleza de um eterno aprendiz, parou mais uma vez e chegou para tentar ultrapassar. Foi, então, a vez da Red Bull se precaver, antecipando a última vez de Vettel e evitar um novo bote. “Eu só tive uma chance”, lamentou Raikkonen via rádio depois da bandeirada. No pódio, Kimi olhou para aquela garrafa de Waard, lembrou que não tinha álcool e desencanou. Eu faria o mesmo.

Para Grosjean, um pódio alentador, que lhe tira a pecha de piloto rápido porém afeito a batidas e confusões, adquirida nas duas primeiras provas no ano. Um resultado que sossega o pito de Eric Boullier e sua turma, tão empolgada no início da temporada para ver do que este carro era capaz, mas meio desanimada depois de três provas sem muito sucesso.

Webber, quarto pela quarta vez. Se não terminar em quarto este campeonato, tem algo estranho. Por enquanto, é terceiro. Rosberg não foi nem sombra do que havia feito na China, o que coloca, por enquanto, aquela prova vencedora como exceção na vida da Mercedes. Di Resta fez corridaça, e ninguém me tira da cabeça que, apesar de as equipes pequenas sempre optarem por estratégias distintas para suas duplas, a meta era chegar ao primeiro lugar para ver se a FOM exibiria suas imagens. Pois foi o que aconteceu, mas justamente neste momento, o escocês não foi mostrado ou creditado como líder da prova. No entanto, a equipe dálit apareceu durante a transmissão.

Aí vieram Ferrari e McLaren. Que coisa. Alonso, sétimo, com aqueles movimentos de quase-entrada nos pits para pegar o vácuo de quem vinha a frente e novamente tirando de si a Chiliquenta escondida. Reclamou de Rosberg, que o arremessou para a areia, tal como fez com Hamilton no mesmo ponto da pista. Se só é permitido um único movimento, não vejo erro nas manobras de Nico, ainda que tenham parecido rígidas. Vão chorar na cama de Sakhir que é lugar quente. Hamilton tem é de reclamar desta McLaren em fase descendente e que lhe prejudica nos pits. Mas ele é só um inglesinho neste mundinho. Um inglesinho que perdeu a liderança do campeonato para Vettel. Button, coitado, se ferrou no fim com um pneu furado e resolveu trazer a criança para casa, já que não ia pontuar. Trouxe, claro, como um lorde. Schumacher, 22º no grid, completou a zona de pontos reclamando dos Pirelli que desgastam demais. Má vá…

E Massa, cáspita, ae, uhu!, enfim pontuou. Diante do que vinha apresentando, grande prova do brasileiro. Andou colado na Birrenta de Oviedo, deu lá uma ameaçadinha para ultrapassar, aí chegaram até a falar “Fernando, Felipe is faster than you”, mas só ouvi isso na transmissão da TV brasileira. Fato é que Massa já estava contando com uma prova na defensiva, e não deveria se esperar dele um confronto direto com o companheiro. Por um lado psicológico, passá-lo seria a glória, mas garantir os primeiros pontos ficou de bom tamanho. Sobre Senna, nesta montanha-russa da F1 2012, um fim de semana para se esquecer. A Williams não foi a mesma das últimas corridas, simples assim.

A corrida do Bahrein foi até interessante, sim, teve boas disputas e uma esperança de ver Kimimporta o Resto do Mundo ganhando. O gostoso do campeonato é que ele tem derrubado todas as previsões e expectativas. Vettel só foi ganhar agora, e justo quando não se esperava. A McLaren não tem a vantagem que dela se via depois da primeira prova. A Mercedes não engatou e a Ferrari, que era uma draga, já tem uma vitória. São quatro equipes que chegaram às vitórias, sendo que outras duas tiveram chances — Sauber na Malásia e a Lotus agora. Um repeteco do que aconteceu em 1983 não está descartado, portanto, na Espanha. Uma pena que Williams, Toro Rosso e Force India ainda não tenham condições de brigar por algo mais à frente.

Ou será que esse campeonato é tão maluco e elas têm?

Comentários

  • A RB vem trabalhando para fazer seu carro mais confortavel para seu melhor piloto e o resuntado vem aparecendo, vendo as imagem onbord do Raikkonen lembra seus tempos de Mclarem, a Mercedes deve ganhar em Monza e talvez outra prova de retas longa mas na verdade a Mclarem só tem que resolver pequenos problemas para recuperar a liderança

  • Estranho Victor, muito estranho, você tecendo elogios ao Raikkonen. Desde que foi anunciado o retorno do Ice Man que você se referia a ele sempre com ironias e desdém, duvidando da capácidade do finlandes, aliás você e muitos outros jornalistas brasileiros.
    Nesta prova o Kimi não fez nada demais dado tamanho do seu talento.

    Abraços

    • Mas quando ele saiu da F1 dois anos atrás ele estava que era de dar dó.
      Parecia paralisado, por isso as ironias iniciais.
      Agora ele mostra o que realmente sempre foi. Um bom piloto.

  • Já disse no blog do gomes e vou repetir aqui: Tô adorando esse campeonato. Diversão certa pra os meus domingos ensolarados. Que venha a temporada europeia, que venha barcelona. Vai ser bão-demais-da-conta de assistir!

    O mais legal é que, a exceção da vitória de Alonso, todas as outras foram vitórias que chamaria de incontestes. Toda essa turminha que ganhou e mais umas duas tem chance de ganhar durante o ano.

    Agora, algo precisa ser dito: essa combinação pneu-de-maisena/KERS/asa-que-abre-serelepe conseguiu transformar corridas historicamente intragáveis em corridas legitimamente interessantes.

  • Toro Rosso, Force India e Williams até podem conseguir uma vitória em 2012, mas apenas em pistas que permitam condições absolutamente adversas, como Mônaco e Montreal. Também em Interlagos, talvez, caso repita-se a maluquice de 2003. E a Lotus, teoricamente (num campeonato um pouco avesso à teorias e lógicas), pode vencer sim em Barcelona, circuito prá lá de exigente, principalmente em termos de equilíbrio. E isso os carros pretos parecem ter de sobra. Pelo menos parecem. Sabe-se lá Deus também como estarão Red Bull, Mclaren e Mercedes. E vai que o Alonso tenha outro dia de gênio e ganhe a prova espanhola…

  • Nunca se sabe, não? Vai que despenca um dilúvio e interrompem a prova bem na hora que Koba-mito estava em primeiro, por ter permanecido na pista com pneus intermediários enquanto todos os outros entraram pra substituir por extremos com boias nos bracinhos?
    5 vencedores, de 5 equipes diferentes, pois!

  • Essa manobra do Rosberg sobre Hamilton e Alonso foi a mesma coisa que a manobra do Schumacher contra o Barrichelo, a diferença é que tinha um muro e não areia. Se naquela vez pôde, agora pode também.