Terra de ninguém, 9

SÃO PAULO | A sorte acompanha quem tem competência, bem dizem os mongóis, os nascidos na Mongólia, não os que parecem ser, quando estão lá a meditar por seis horas em seus retiros. Durante boa parte do ano, a gente passou dizendo que Alonso era detentor da maior cauda dos mamíferos nascidos na região ibérica diante do infortúnio dos demais. Mas não se pode dizer algo tão diferente de Vettel. E há sempre uma explicação.

Alonso só queria um pequeno caos, uma anarquia generalizada numa corrida de 71 voltas que pudesse colocá-lo em pé de igualdade com seu rival de título. O caos veio numa série de atos que muito lembrou o campeonato de 2008: a chuvinha que chacoalhou o começo da prova e, sobretudo, Senna. Deveras esperto, Fernando teve ter assinado um pacto com Dilma Rousseff, o Bolsa-Piloto Canarinho, vide o que Senna fez ali no Lago e o que Massa lhe fez nestas últimas corridas. O campeonato de Vettel acabaria ali nas primeiras curvas com tamanha pancada e a estrela de Alonso, como mostra a foto a seguir, do inabalável Carsten Horst.

Mas a figa tedesca tem escudo em fibra de carbono. Nada destrói.

Enquanto Alonso tentava abrir caminho, às vezes escapando S do Senna adentro, Vettel ainda tinha contra si um Webber um tanto quanto surtado, que o atrapalhou em largada e relargada. Como em Abu Dhabi, o alemão se viu em último tendo simplesmente de passar o mundo todo, com uma avaria na parte traseira esquerda anterior à roda, mas num circuito de verdade e sobre uma pista traiçoeira por conta dos pingos constantes que a France Météo, coitada, não viu.

Vettel fez as tais 71 voltas sem ultrapassar os limites da pista e tendo de superar um erro meio tosco da Red Bull de chamá-lo para os pits justamente quando a chuva era a mais forte da tarde de ontem. Nas idas e vindas das posições, o sétimo lugar bastou-lhe para ser campeão. Por mais que Alonso seja este espetáculo de piloto, também um dos maiores de todos os tempos, nada aconteceria com o vencedor Button ali na frente para ajudar Alonso a ganhar a posição de que necessitava. Sorte não derruba outra sorte.

E essa aliança da sorte com a competência, que vale tanto para Alonso quanto para a Vettel, é apenas uma máscara que teima esconder dos olhos menos atentos a história acontecendo, já vestida por outros gigantes deste esporte. Estes dois são a representação atual da qualidade extrema dos pilotos que admiramos ou aprendemos admirar dos anos 50 para cá. E que certamente só vamos dar o devido valor, bestas que somos, quando fizermos o comum exercício de olhar para trás.

Comentários

  • impressionante como o carro de vettel nao quebrou.ele levou um toque de senna na traseira esquerda e depois de rodar um toque na roda traseira direita

  • VM,
    se sou o manda chuva da Red Bull, mandaria o Marsupial tristonho para o mais profundo e distante deserto australiano de onde nunca mais pudesse sair. O bicho mala!!!!! E o Senna é outro que vive pedindo pra ser chamado de anta. Oh Anta este sobrinho!!!!!!!!

    Abraço

  • Apenas querendo ser justo, no meio do bolo, não da para saber quem vai entrar ou aparecer do nosso lado. Ninguém pilota procurando onde Vetel está, sejamos francos. Além disso, embora essa imagem seja impressionante, examinando todo movimento da curva no youtube:

    http://www.youtube.com/watch?v=mHWo4OVdHes

    verá que Vetel escapou, um pouco antes de Senna bater nele, de dois outros acidentes anteriores. Na mesma curva, um pouco antes, Vetel freou forte e o carro da frente teve de sair da pista para não bater em sua traseira, e depois ele entrou de vez na curva e quase bateu no carro que estava ao lado de Bruno… só que acabou pegando Bruno. Como Vetel entrou de vez, fazendo a tangência como se a pista estivesse limpa, se deu mal. Normalmente, nesta situação o piloto faria mais aberta. Acho que não queria perder mais posições. Também, Bruno já tinha feito a curva quando pegou Vetel, pois foi Vetel que apareceu na sua frente, mais rápido, porque tinha feito a curva fechado. Isso tudo, acontecendo muito rapido, não daria nem para Senna ver que era Vetel, nem para ver que um carro apareceria ali porque ele vinha acompanhando o movimento do carro que estava exatamente ao seu lado, que fechava sua visão, e cujo Vetel quase pegou. Enfim, acidente de largada… isento o rapaz de culpa.

  • A impressão que tenho é que temos um novo cenário de Senna x Prost. Assim como no passado, o que tem menos títulos entre ambos é considerado melhor que o rival em diversas listas de melhores pilotos pelo mundo.
    Sem querer entrar no mérito de quem é melhor, estava torcendo para o Vettel, mas não ficaria triste em ver Alonso campeão, ambos mereciam o caneco pelo ano fantástico. Só lamentei por Hamilton não estar nessa briga também por conta dos diversos abandonos ao longo do ano.
    Espero que ano que vem tenhamos um campeonato tão eletrizante quanto esse.

  • Muinto se falou que a chuva favorecia o Alonso a verdade é que no molhado o Vettel foi um dos mais rapidos e um dos poucos que não escapou da pista, no seco ficou para traz em relação as Ferraris mostrando que seu carro ficou danificado

  • Você teve a mesma visão que eu, cara. Foi quase unânime a opinião de que Vettel lutou contra o azar etc, mas do meu ponto de vista, penso que ele teve muita sorte, mais do que Alonso, como você disse no texto. Sorte e MUITA competência pra, como você também disse, não sair da pista nenhuma vez sequer, algo que Alonso fez duas ou três vezes.

    E essa foto do Carsten Horst ilustra ainda mais essa sorte. O pneu traseiro direito da Red Bull #1 está DEFORMADO. O cara ficou de frente pra um bando de cabaços e NINGUÉM bateu nele – talvez também porque ele tenha tido a malícia de não frear e deixar o carro descer de ré na “banguela”.

    Foi na largada que Vettel cometeu o único erro dele no campeonato. Mas teve sorte, malícia e competência pra assumir a bronca e se recuperar não só uma mas DUAS vezes na mesma corrida.

  • O Bruno parecia estar jogando videogame na freada do lago, querendo passar trocentos carros de uma só vez. Erro grotesco. Tem mais sorte que juízo, pois poderia ter decidido o campeonato ali mesmo. Ao longo do ano, deixou muito a desejar.
    E o Alonso gastou toda a cota de sorte dele no início do campeonato, ficou sem no final. Baita piloto, mas o Vettel também é, espero que Alonso e Alonsetes parem de desmerecer o talento do Vettel dizendo que ele só vence porque tem carro. São dois gênios.

    Perguntinha pra 2013: qual será o Massa que vai pilotar pela Ferrari ano que vem, o da primeira parte ou o da segunda parte da temporada? São dois pilotos completamente diferentes.

  • “Mas a figa tedesca tem escudo em fibra de carbono. Nada destrói.” Não entendi, Tedesco é como os alemães chamam os italianos. Então a figa dos italianos tinha um escudo em carbono. Eita alguém me explica ae.

  • eu acho que Senna não imaginava que era o Vettel ali. ambos estavam distantes no grid (7 carros entre eles na largada)e o Senna me lembrou quando eu jogava gp4, foi quase pelo meio do Vettel.

    Curioso é que Senna, Grosjean, Perez e Maldonado ficaram logo nas 3 primeiras voltas. Esses pilotos inexperientes se ferraram.

  • Durante essa temporada me dei conta de que estamos presenciando a história acontecer. Sem dúvida alguma, 2012 foi a mais equilibrada e emocionante da história. Acredito que a F1 jamais teve um nível de pilotos tão alto em seus 62 anos. Por mim, essa temporada teria mais 50 corridas, no mínimo.

  • Sensacional a prova e o campeonato. Porém gostaria de ouvir sua opinião sobre o acidente no início da prova entre o Vettel e Bruno Senna. Ao meu ver, e pelo que pude notar nas imagens Bruno estava em seu traçado e foi atingido por Vettel, para mim aquilo em qualquer outro momento seria passível de punição. Ou estou imaginando coisas?