Chinese Democracy


SÃO PAULO
| A Mercedes já se autointitulava segunda força da F1 depois de duas corridas – por meio de Hamilton, é bem verdade –, e ao desembarcar numa China de calor excessivo para os padrões com um retrospecto de domínio na bagagem, encontrou o território perfeito para que alçasse o posto momentâneo de melhor do grid. Porque a Red Bull, a primeirona, nem aparece no top-3 neste fim de semana.

Curiosa, essa Red Bull. Foi mal na corrida da Austrália, alegando que a temperatura estava baixa demais, na casa dos 16 ou 17ºC, como gostam de dizer os meteorologistas. Aí chegaram à Malásia com um discurso de que a corrida anterior era uma exceção, e, de fato, com os termômetros acima dos 30ºC, como gostam de dizer os meteorologistas, reinaram. Agora que os números beiram entre 27 e 28º, os caras foram para o limbo. Em nenhum momento os guerrilheiros Vettel e Webber apareceram em condições de brigar por algo decente. A eles, volto mais tarde.

Mas a Mercedes, essa equipe que parece ter nascido para brilhar em Xangai, tem em Hamilton seu grande trunfo para a corrida de amanhã. Rosberg também, vai, e não seria nada estranho vê-los formando uma dobradinha até que tranquila. Nico larga em quarto, e sua tarefa vai ser dificultada por estas Ferrari que serão as grandes adversárias dos carros prateados. Se o alemão quiser brigar com Hamilton, que pule para segundo logo na largada e vá para as cabeças, diminuindo ao máximo o som da rádio que toca em seu carro.

Pelos lados de Maranello, Alonso e Massa têm ritmos bem semelhantes nos treinos, mas costumeiramente o espanhol se dá melhor nas corridas. Assim, é bem provável que ocupe um lugar no pódio. A Felipe deve restar um quarto ou quinto lugar, como diriam os meteorologistas, se perguntados. Tem Räikkönen nesta história toda, segundo ali no grid. Mas assumidamente não tem carro para andar com as rivais. Achou uma linda volta na classificação, voltou a se colocar em uma primeira fila do grid depois de quatro anos, e só.

Assim, se a coisa tá mal para Kimi, o dobro se aplica a Grosjean, fictício sexto. “Ricardo, wow”, larga num lindíssimo sétimo lugar. Ricciardo é Ricardo aliás, na pronúncia inglesa, na pronúncia australiana, na pronúncia aborígine e, principalmente, na pronúncia do piloto. Dêiniel Ricardo, que deve ter acordado ao ver Félix da Costa, o excelente portuga, na condição de terceiro piloto neste fim de semana, surpreendendo e entubando Vergne, que larga em péssimo-quinto.

Aí vem Button, autor da aspa acima, que aparece com um lindo tempo de volta no Q3 porque a completou lentamente nos boxes, e de pneus alvi-médios. Porque já tá pensando na corrida. É uma estratégia deveras interessante, a mesma adotada por Vettel, que já sabia que não tinha como manter sua invencibilidade de poles no ano e pensou no amanhã. Considerando que Grosjean e Ricardo-wow são enfeites, os dois é que podem surgir como zebras da corrida para atrapalhar os planos de Massa ou Räikkönen, por exemplo. Pensar em vitória, sobretudo no caso da McLaren, é cheirar a poluição de Xangai demais.

E Vettel nem estabeleceu tempo, aliás, porque cometeu um erro no grampo depois da retona. Certamente uma macumba feroz de Webber, que foi atingido por um problema de combustível – parece que esqueceram de botar gasosa no carro do australiano, numa evidente manobra de Vettel, que furou a mangueira de reabastecimento. A guerra entre os dois está linda. A Ferrari e a Mercedes riem loucamente.

De resto, a Sauber mostrou que voltou a ser mediana e corre com um piloto só, o grande Hülk, a Force India estranhamente não foi ao Q3 depois de treinos muito eficientes – seria estratégia para a corrida? 1mmmm –; Bottas e Gutiérrez, meupaidocéu, que que fazem ali?, e Bianchi reina dentre os putrefatos.

Dá Hamilton amanhã com Alonso e Rosberg no pódio, em uma aposta precisa e inteligente. Mas a China costuma trazer surpresas e boas coisas – tirando o comercial do China in Box. Que nesta corrida levam o nome de Sebastian ou Vettel, como diriam os meteorologistas.

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