Caminhos opostos

SÃO PAULO | Ferrari e Sauber sempre tiveram uma relação umbilical que levantou por muito suspeitas – 1997, por exemplo, decisão histórica Schumacher-Villeneuve, e Fontana resolve atrapalhar o canadense enquanto retardatário –, depois confirmadas pelas trocas de pilotos, academias e tudo mais. Ao não aproveitar Pérez depois de sua boa temporada em 2012, as coisas rumaram para outro caminho, e a Sauber só passou a usar a Ferrari como sua fornecedora e parceria. A certeza de que as duas tocam projetos distintos veio hoje, quando a Sauber lançou um C33 bem distinto do F14T apresentado ontem.

A solução aerodinâmica encontrada pelo time suíço foi descrita pelo próprio como uma tromba que vai na linha do que McLaren e Williams trouxeram – ambas empurradas pelo Mercedes. Das poucas fotos laterais divulgadas, é possível ver uma saliência não muito grande na saída do cockpit, culminando naquele apêndice que não é nenhuma aberração. Diante do que se viu até agora, é até um carro conservador. Tem lá suas partes interessantes: uma asinha externa nessa asa dianteira, quase imperceptível; buracos laterais na entrada de ar acima da cabeça do piloto para ajudarem no fluxo em direção à asa traseira – esta, sim, parecida com a da Ferrari, que provém as peças, o motor e o câmbio à Sauber. O cinza escuro permanece; no fim, é um carro legal de se ver.

Já a Ferrari veio com aquela bocarra de bagre que sei lá, viu, não me inspira muita confiança por ser absolutamente diferente do resto. Aliás, assemelha-se muito ao desenho feito por um artista da McLaren laranja, postado dias atrás. E junta-se ao modelo esquisito a adoção do preto no fundo do carro, cobrindo parte do vermelho tradicional. Não sei se é porque eu estava azedo e cansado ontem, mas o F14T não tem cara, de novo, de vencedor.

A Sauber já avisou duas coisas importantes: que fez um carro adaptado às várias soluções aerodinâmicas possíveis – isto é, “se a primeira der merda, podemos consertar a cagada” – e que vai levar à pista em Jerez um carro básico, sem as partes mais evoluídas – ou seja, vai à festa usando Hering. Problema da Sauber esse ano é ter o inconstante Sutil e o fraquinho Gutiérrez. É o oposto do que tem a Ferrari em termos humanos. Mas que, dependendo da toada do nado do bagre, pode eclodir numa linda guerra à bolonhesa.

De todas que lançaram, por enquanto, o da Sauber me agradou mais.

Comentários

  • Não sei quanto a Ferrari, alem de não ter cara de vencedor esse preto na parte de trás fez o carro parecer mais com uma Marussia do que com uma Ferrari.

  • O bico pouco influencia na refrigeração do motor. Se você olhar a entrada e saída de ar dos sidepods é muitíssimo parecido ao F14-T. Parece que a Ferrari não adotou o bico dedo porque causaria turbulência nas mudanças de direção (yaw), vamos ver como vem a RBR e se existe alguma semelhança entre ela e a Toro.

  • “…fez um carro adaptado às várias soluções aerodinâmicas possíveis – isto é, “se a primeira der merda, podemos consertar a cagada” –”. Ri alto nessa parte. hehe

  • Victor,

    Que os carros apresentados até o momento da temporada F1 2014 são horrorosos, acredito que todos concordamos. Mas, uma coisa não se pode negar, este ano ao que parece as equipes conseguiram dar uma identidade a seus bólidos.
    Se em 2013 pintassem um carro da Ferrari com as cores da McLaren ou da Sauber nas cores Mercedes, para citar um exemplo, passaria facilmente despercebido aos olhos de um leigo.

    • Concordo. As equipes desde 2012 já pensavam na temporada 2014 por isso fizeram os carros de 2013 o mais básico possível, não à toa a RBR ganhou com um pé nas costas, as outras não se empenharam em muito em reagir. Agora 2014, assim como costuma acontecer em anos de mudanças drásticas, deverá ser bem equilibrado, pois ninguém tem ainda uma referência real, além do que todas as equipes vem dizendo até agora: um dos pontos-chave desse campeonato vai ser a confiabilidade, os carros terão num primeiro momento problemas de confiabilidade que podem embolar os resultados, com possibilidade de até Marussia e Caterham pontuarem herdando posições de carros quebrados (isso se elas não conseguirem a façanha de andar no mesmo ritmo que as outras, visto que uma tem investido em sua estrutura e a outra vai adotar motores Ferrari, e esse ano não vai estar fácil pra ninguém).