Vento e calmaria

Punta del Este

PUNTA DEL ESTE | Rodrigo Bazzi, recepcionista de um dos hotéis da rua que leva à pista montada na Praia Brava, até se empolga com a corrida deste fim de semana, mas acha caro os 30 obamas — quase 720 mujicas — que vão cobrar para o público assistir. “Eles tinham de pensar que não estamos acostumados”, alega. A solução que encontrou para que veja a prova acaba passando por sua função. É que o dono do local onde trabalha também é proprietário de um edifício de alto padrão, daqueles de elevador panorâmico que permite a vista para o lado do Rio da Prata e espaço para festas na cobertura com direito a jacuzzi. “Vou tentar ver de lá de cima.”

A distância do prédio ao traçado é considerável, cerca de meio quilômetro. “A cidade pelo menos vai estar cheia, então depois dá para emendar com alguma festa que vai ter lá”, explica Rodrigo.

A preparação está sendo finalizada, mas tudo na calmaria e já no vento não tão forte que baixou consideravelmente as temperaturas no lado mais ao leste do Uruguai. Para divulgar a prova, um carro da F-E foi posto no Hotel Conrad, o mais visitado por conta do atraente cassino que vara a noite e movimenta a economia e o turismo locais. Os hotéis já têm em sua maioria todas as reservas ocupadas. Espera-se, então, um público maior daquele visto nas etapas iniciais de Pequim e Putrajaya, em ambos mediano.

A imprensa escrita adota um tom ainda professoral e didático. A maioria dos artigos e reportagens é dedicada a explicar em que consiste a categoria de carros elétricos, quem são os participantes e as regras básicas — com destaque para a troca de carros e não de pilotos no meio da corrida. Num lugar de veraneio e limpo, a propaganda se encontra no caráter não poluente da competição. Os organizadores vendem o peixe — e como se vende nos restaurantes à beira-mar — dizendo se tratar do próximo passo do automobilismo em um lugar de parco histórico e desenvolvimento.

“Este evento representa uma visão para o futuro da indústria do motor nas próximas décadas, que serve como marco para a I + D (Investigação e Desenvolvimento, na tradução ao português) em torno do veículo elétrico, a aceleração do interesse geral nestes carros e na promoção da sustentabilidade”, dizem os promotores.

A F-E ainda engatinha e tenta ir conquistando o povo nas arestas deixadas pelas demais categorias. Normal, então, que uma quinta-feira ainda a dois dias de todas as atividades em Punta del Este veja as gentes mais preocupadas em passear, comprar e comer. Mas talvez nem assim faça o dono do hotel e do prédio luxuoso, um cubano radicado no México, aparecer. “Talvez se daqui pra frente essa corrida pegar”, indicou o funcionário.

Comentários