Tapa (tava) na cara

SÃO PAULO | A gente sempre viu com desconfiança a realização da corrida da Indy em Brasília. Tudo foi feito às pressas para que a Bandeirantes se livrasse de um processo retumbante na Corte de Indiana por não ter realizado a prova no Anhembi em 2014. O negócio foi costurado com um governador que estava no último ano de seu mandato e não administrava lá muito bem os cofres de seu distrito federal. Vi lá em Indianápolis o sujeito com uma comitiva de aspones: foram para assinar o contrato. Não teve contrato assinado. Demorou um bocado até que a assinatura no papel fosse posta. Bem como levou um tempão para que as obras começassem no autódromo de Brasília. Até então, a licitação havia sido cancelada porque averiguaram superfaturamento no processo. É uma coisa comum neste Brasil que teima em ser assim.

E porque teima em ser assim a desconfiança sempre existiu. Causo interno aqui: desde novembro que estávamos planejando a cobertura na capital. Tudo começa, claro, com hotel e passagens. Estava responsável por isso, mas sempre fui postergando, até porque os voos não alteraram seus preços, até que baixos, desde então. Na última terça-feira é que acabei reservando um lugar para três repórteres, pagando uma entrada. As passagens seriam compradas hoje, no fim do dia, depois da cobertura dos lançamentos e da preparação para que Renan do Couto e Xavi Bonilla iniciassem os trabalhos da F1 lá em Jerez de la Frontera.

O cancelamento vai dar um trabalho imenso a todos, da Bandeirantes ao cara que já tinha gastado algumas dilmas para comprar ingresso e até mesmo viajar a Brasília. Vai dar pano para muita manga: o novo governo do DF achou uma brecha no contrato para não ter que pagar um centavo pelo rompimento do mesmo, além de ter envolvimento do Ministério Público na história. Quem vai arcar com o negócio é a TV, e isso arranha de vez todas as imagens possíveis da capacidade que as pessoas daqui têm de organizar uma corrida de carros, no mínimo.

Outra: como é que fica o autódromo agora? Hoje, está inútil para a prática do esporte ou de qualquer outra coisa similar. Se Stock Car ou F-Truck quiserem correr lá, pelo jeito vão ter de botar a mão na massa.

É uma pena que a corrida não aconteça. A Indy é legal pra caramba, o clima é tranquilo e agradável, a prova em si é bacana, é sempre uma oportunidade para ver os amigo e companhêro, mas é um retrato claro de como as coisas se desenrolam por aqui: vira tudo uma merda federal.

Comentários

  • Victor, sabe quanto vale o metro quadrado do terreno ali onde é o autódromo de Brasília? No centro da Capital Federal?… Vários e vários mil reais…

    Acho que rolou um “destrói tudo e deixa a obra parada, depois a gente muda as leis orgânicas e usa aquele terrenão para outra coisa… Ninguém quase usa aquilo lá mesmo…”

    Autódromo ao lado do Estádio Mané Garrincha. Aí vem notícia de que Xeques Árabes querem comprar o time do Brasilia…

    Da pra usar muito a imaginação…

  • Lendo a sua reportagem no GP, eu torço pra que esta coisa toda se desenrole de forma a corrida continuar aqui em BSB. Nem que a tv tenha que desembolsar pra fazer o resto da reforma na pista. Eu estava animado em assistir minha primeira corrida internacional in loco.

  • O mínimo que esperamos é o repugnante Agnelo Queiroz na cadeia (é pouco…) e as corridas da Indy, que realmente são muito legais, em um canal que a trate com seriedade. Eu iria comprar ingressos e estava disposto a viajar…ainda bem que não o fiz, pois “algo” me disse para esperar um pouco mais…
    Sobre a tv bandeirantes, que vão todos se f**** e que paguem em dobro as multas e as devoluções a quem já comprou…mostraram que não são dignos nem mesmo da migalha de audiência do futebol deixada pelo “plim-plim”.

  • Perfeito artigo, estimado Victor. Então, após ler, constato que três perguntas que se impõem: Será que os envolvidos terão CORAGEM e atitude HOMEM para assumirem publicamente que erraram? Será que os envolvidos terão CORAGEM e atitude de HOMEM para se desculpar com as pessoas que compraram ingressos e/ou fizeram reservas em empresas aéreas e hotéis (incluindo um formal pedido de desculpas para o jornalista Victor Martins)? Será que os envolvidos serão exemplarmente punidos?

  • Nao tem mais boxes e torre de cronometragem e direcao mas se vc pensar bem parte significativa dos circuitos dos Eua tambem nao tem trabalham com tendas. Se a Stock Car quiser corre em Brasilia. Corre em Ribeirao Preto que nao tem nem pista!

  • Merda Federal, Estadual e Municipal meu caro!!!
    O Brasil está falido moralmente e economicamente, e agora, quem poderá nos salvar?

  • Não deve ser coincidência, que neste fim de semana aqui em Salvador conseguimos organizar uma copa verão de kart, mas depois de um ano de total abandono e de – tem kartódromo – não tem mais kartódromo – trator na pista -trator fora – vão construir em outro lugar – despeja – não despeja. Juntamos o que sobrou de pilotos e mecânicos, veio gente de outro estado, todo mundo botando do próprio bolso, até que a federação liberou, e deu certo. Mas sempre assim, seja Indy, stock, F-1, kart, onde for, tem que ser nesse sofrimento. Não precisava. A gente anda pelos boxes improvisados, e só vê muita nostalgia no pessoal que restou lá da década de 80, começo de 90, quando o kart isso, o kart aquilo. É foda!!

  • Não sei se seria capaz, mas existe alguma alternativa para a Bandeirantes que não seja tomar uma trolha homérica na justiça estadunidense?

    Chorar para o Haddad e ter a prova de volta em 2016 seria uma delas, já que a relação entre os Saad e o prefeito não é lá essas coisas?