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SÃO PAULO | O Q2 deixou a gente sonhar com uma F1 de um ‘quarteto fantástico’: os carros de Ferrari e Mercedes estavam ali emaranhados por menos de 0s2, o que tornava a pole imprevisível na Austrália. Mas para chegar ali, o desempenho de Vettel, sobretudo, no TL3, corroborava que as coisas vão ser de fato um pouco diferentes e davam esperanças aos fãs. Os vermelhos evoluíram bastante e não vão fazer mera figuração na temporada nem na corrida de logo mais.

Na coletiva, Vettel disse que a pole não estava disponível para a Ferrari. Tenho certas desconfianças. O acidente de Ricciardo acabou quebrando o ritmo do Q3. Ficar 0s3 atrás de Hamilton não parece uma situação real. No mínimo, pois, dava para que a composição da primeira fila fosse bem mais próxima.

O inglês, aliás, chegou à 62ª pole da carreira e se equiparou a Senna no número de primeiros lugares no grid na Austrália. Ayrton só correu em Adelaide, que não é a anã paraguaia — essa é para os fortes. É em Adelaide que Stroll vai largar. Assunto para logo mais.

A segunda fila copia a primeira e tem Bottas à frente do compatriota Räikkönen. Valttinho passa a impressão, mesmo, de que vai tomar uma tunga de Hamilton durante a temporada inteira. Nos TLs, foram 0s6; na classificação, 0s3. Também é papo para uma análise em separado, mas o desempenho de Bottas vai gerar em todos um sentimento de quanto Rosberg foi bom e importante para a F1. Só agora, com a falta dele, é que a gente vai dar valor. É tipo um microcosmo da vida: só se mensura quando se perde.

Verstappen abre a terceira fila com uma Red Bull alheia a qualquer briga: não tem ritmo para andar no patamar de Mercedes e Ferrari e está melhor que quem vem atrás. É de Max, também, o discurso mais pessimista: o de que quem fizer a primeira curva na frente vai ganhar a prova. E se isso vem de alguém que tinha dito, semanas atrás, que as ultrapassagens serão como em 2016, e é um exímio ‘passer’, o que se tem a fazer é diminuir as expectativas para uma corrida animada. Melbourne não tem retas longas e não é propriamente um circuito que propicia trocas de posição.

A maior surpresa até agora é Grosjean e a Haas. A volta que achou no fim do Q3 é espetacular, daquelas que se tirou além de 100% do carro. Não parece, no entanto, que os americanos pintem como quarta f0rça ao lado da Williams. Mas seguindo o raciocínio de Verstappen, se o francês contornar a primeira curva à frente de Massa, lá vai permanecer por um bom tempo. Até que a Williams tente uma estratégia. E sabemos como a Williams é em estratégia.

Podemos nos decepcionar com o desempenho da Williams? Sim, podemos. Está bem atrás do trio-de-ferro. Que o ritmo de corrida desdiga essa má impressão, porém era esperado algo a mais. Massa fez o que pôde. E Stroll… bem…

Desde o ano passado, quando foi ventilado seu nome como possível titular e a posterior confirmação, a tecla de que não estava pronto para a F1 foi batida à exaustão. Ter 18 ou 19 anos passou a ser indiferente porque Verstappen acostumou mal a patuleia. A Williams preferiu se curvar aos bilhões da família canadense, e seu ex-canadense campeão, Villeneuve, disse bem há alguns anos algo que Claire e sua turma deveriam ter aprendido: quando uma equipe parte para a opção de ter um pagante, esquece. São quatro acidentes na conta. O câmbio trocado gerou uma punição de cinco lugares, mas só vai ser cumprido um porque Stroll largaria em penúltimo pelo desempenho que teve na classificação.

Stroll só conseguiu ser melhor que Palmer, que é uma das maiores aberrações do grid nos últimos tempos — e olha que o grid teve baluartes como Van der Garde, Merhi, Stevens, Chilton e Gutiérrez. Não dá para entender como uma equipe de fábrica como a Renault resolveu manter em seu casting um piloto como este. Foram 3s2 de diferença para Hülkenberg e 1s1 para o próprio Stroll. Se o diretor Cyril Abiteboul tiver um pouquinho de percepção, saca o rapaz em breve. Porque não é simplesmente um caso de mau acerto do carro.

De resto, a Toro Rosso teve uma evolução notória em relação à pré-temporada; a McLaren não tem quebrado tanto, mas segue um horror; a Sauber não fez um carro dos piores como se achava, e tem de agradecer por ter um ótimo Giovinazzi à disposição quando não se tem um Wehrlein; e a Force India ainda não tem as melhores condições, mas parece ter um potencial a ser explorado.

Palpite para a vitória? Vettel. E no pódio com Hamilton e Räikkönen.

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