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SÃO PAULO | Esperávamos todos uma disputa pela vitória, mas Verstappen — e aqui não cabe nenhuma inclinação de culpa — atrapalhou as intenções de Vettel. Montreal tem, junto com Mônaco, o pior espaço para largada na F1: ambos consideram uma curva acentuada, uma reta pequena e o contorno de uma curva fechada. Vettel larga na mesma balada de Hamilton. Räikkönen larga mal pra burro. Verstappen encontra uma fresta para passar o finlandês e tentar a linha de 3 — oi, Indy, minha boa amiga… — por fora. Max deu uma sorte danada de não furar aquele pneu traseiro esquerdo. E a asa putrefata de Vettel o jogou lá para o fundão.

Parando no início da corrida, Vettel só poderia pensar em uma estratégia de duas paradas que lhe fizesse escalar o pelotão; se ficasse com aquela, seus pneus chegariam em pandareco e é capaz que nem conseguissem passar Alonso ou Vandoorne no retão. Como Räikkönen também não fez porra nenhuma atrás de Ricciardo e Pérez, a Ferrari adotou a mesma tática para os dois.

O resultado mais plausível naquele cenário seria um sétimo lugar para Vettel. Se fosse naquela matemática que estudamos no ensino médio/fundamental, era a situação ideal para, no âmbito do campeonato todo, ‘anular’ as últimas duas corridas: corta a vitória de Vettel e o sétimo de Hamilton em Monte-Carlo, corta a vitória de Hamilton e o sétimo de Vettel em Montreal. Aí o alemão contou com um Kimi problemático e uma teimosia orquestrada por Pérez que entregou os dois postos da Force India. Uma voltinha mais, dava para Vettel pegar o pódio. Mas é sempre bom ter um pódio com Ricciardo. Professor Xavier que o diga.

Fato é que a Mercedes trabalhou muito bem pós-Mônaco. Era a resposta necessária a ser dada para a Ferrari. As duas equipes vão para todas as próximas provas jogando para a outra a responsabilidade da vitória, como já tem sido feito. E o campeonato caminha belamente com esta disputa que evidencia as qualidades absurdas de Hamilton e Vettel e com os dois coadjuvantes de luxo — o que fez Bottas no fim de semana todo a não ser figuração?

Sobre Ocon/Pérez: entendo perfeitamente quando a patuleia simplifica a questão com um “se está mais rápido, passa”. Mas também há de se entender, ainda mais nesta nova F1 de turbulências e dificuldades, que nem sempre quem está mais rápido consegue passar. E que a possibilidade de algo acontecer no índice VDM é alta. Como quase aconteceu quando Ocon partiu pra cima e tomou uma fechada. Se acontece um incidente qualquer entre os dois ali, capaz de Vijay Mallya cavar um túnel de qualquer lugar que esteja na Inglaterra e chegar escondido no Canadá para dar umas boas bifas nos dois. Ocon, novo, foi decente no pedido; Pérez, compreensivelmente duro, mas turrão e inconsciente. Ao não pensar no resultado que a equipe poderia ter, o mexicano se queima não internamente, mas numa F1 que pede por pilotos mais maduros e que pensem de forma holística. Se Pérez tinha lá seu nominho no topo da lista da Ferrari, certamente ganhou um asterisco para que Arrivabene & cia se lembrem bem deste episódio.

Quanto a Ocon, vai brilhar muito ainda.

Hülkenberg comeu pelas beiradas com o que lhe é possível e Stroll fez uma corrida decente, com alguns erros notórios quando tentava ser ultrapassado, mas que lhe dá pontos que ao menos tiram uma pressão do tamanho do mundo. Numa situação normal, com Massa, Sainz e Kvyat na pista, terminaria ali num décimo-qualquer coisa.

Sainz é outro que precisa se cuidar. Depois de um excelente sexto lugar em Mônaco, dá uma dessa em Montreal, acertando Grosjean sem piedade. Mais um azar de Massa nesta pista.

Por fim, Alonso. O caso de Alonso tem de ser estudado. O que ele virou em dois meses é algo magnífico. Como a Indy lhe fez bem. O camarada tava lá em Montreal, provavelmente já de saco cheio diante daquele carro-motor 1.0, e na noite de sábado resolve ligar para conversar com Paul Tracy durante o GP do Texas. Daí solta que já não descarta correr a temporada inteira da Indy. Daí faz uma corrida à Alonso, máxima aonde pode chegar, abandona a duas voltas do fim e vai pras arquibancadas ser idolatrado. O Alonso pré-Indy jamais faria isso. Jamais. É uma outra pessoa, que dificilmente continua na McLaren e vai ser feliz correndo de qualquer outra coisa, possivelmente esta mesma Indy, no ano que vem.

É bem legal ver quando alguém se acha de novo na vida.

Comentários

  • “(…) com alguns erros notórios quando tentava ser ultrapassado”. Não entendi. Desde quando alguém “tenta ser ultrapassado”? Talvez a intenção fosse dizer “quando alguém tentava ultrapassá-lo”.

  • Essa história do Alonso parece papo de marido dedicado a esposa, e que depois de muitos anos de casamento nota que a digníssima já foi contaminada pela rotina e já nem dá mais bola pra ele. E por uma dessas do destino, ele começa a olhar pra vizinha que sempre foi gostosona. Mas ele não podia se deixar levar. Agooooora, se sentindo carente vai lá, chega de carrão de sena e taca-lhe ficha na tia. E redescobre o prazer de viver e volta pra casa na esperança de que algo possa mudar.

  • Com o noticiário de hoje, acho que Alonso fica na McLaren. Com motor Mercedes e sem lugar melhor – a não ser que a Renault assim lhe pareça, mas ainda tem sua incerteza isso, pelo menos pra 2018 -, será o melhor lugar caso fique na F1.

    Agora a equipe parede gostar dele e o respeitar: mesmo com mega salário, ele realmente demonstrou compromisso com a equipe mesmo com 2 anos e meio totalmente merdas. Não por acaso o Brown está se desdobrando pra mantê-lo (e também por saber que se perder esse, não arruma outro ponteiro tão cedo).

    Confesso que me tornei realmente fã do piloto Alonso depois da fantástica temporada que ele fez em 2012 (e eu estava em 2010 na arquibancada em
    Interlagos o xingando pachecamente ainda no calor do faster than you). Naquele ano eu vi o piloto que os números jamais farão justiça. E o que ele tem vivido e mostrado desde 2015 o tornou um personagem diferente: continua reclamão como qualquer pessoa competitiva (é muito pra imprensa, diga-se), mas que demonstra uma resiliência absurda na prática, na pista, nas corrida. Perdoem-me o “sacrilégio”, mas acho que cabe um paralelo: ele vive nessas temporadas sem sucesso o seu período “Senna 93”, que foi quando o Ayrton esteve no auge da técnica e da forma, sendo suficientemente reconhecido mesmo que os resultados não refletissem isso, e se permitindo viver relaxado e risonho. Antes era o obcecado pelo reconhecimento, que não se permitia sequer ter uma namorada para não perder o foco. Até o Prost reconhece isso.

    Sem falar que em 93 teve até Galisteu,rs.

  • Sorte ou azar o tempo dirá. esse oba oba da MErcedes e HAmilton, por outro lado é ótimo para a FErrari. Não fosse o incidente com Verstappen VEttel chegaria em segundo. O resultado da prova não mostrou a realidade. Isso pode ser bom para a Ferrari.

  • Realmente é excelente ver alguém se reencontrando na carreira…
    Alonso queria (e ainda quer) um terceiro título – porque a classe dos tricampeões é um time que dá gosto – mas acima de tudo, F1 não deveria (sempre) seguir números para apontar quem é bom e quem não é. Ao menos me lembro de Gilles Villeneuve e Jim Clark quando penso nisto; são espetaculares e não lideram nenhuma estatística sequer na categoria.
    É indiscutível a qualidade do Alonso, e ele depois de pular a cerca percebeu que há uma vida mais saudável bem acessível… Romper com o desejo do Tri é difícil, mas abrindo mão disto ele terá um caminho livre pra ser maior do que ele mesmo acredita que é.

  • Concordo com quase tudo a não ser o comentário sobre Perez. Não criticamos sempre quando um piloto acata a ordem a equipe de deixar o companheiro passar? Acho que ele fez o certo, se manteve consistentemente rápido à frente do Ocon(durante td a perseguição,Ricciardo não escapou pra valer hora nenhuma) e acho que, msm que houvesse a inversão de posições, Vettel teria ultrapassado ambos(tinha mais carro e pneus melhores) e nem Ocon teria ultrapassado Ricciardo (o australiano é mto duro na defesa e anda bem em Montreal). Acho que o resultado foi justo para tds.

    • Concordo com você Fábio, muitos criticavam o Massa (na época de Ferrari) por ele não ser aquele Massa durão da Sauber, que desobedeceu ordem e acabou sendo demitido; o mesmo com Verstappen, elogiado por ter negado um pedido na Red Bull, em suas primeiras corridas…

    • Uma pequena diferença aí.
      Uma média iria brigar por um pódio caso houvesse a inversão. O que é magnifico nas questões de patrocínio.
      Não concordo muito com ordens de equipe, no entanto, a FI poderia ter um resultado que dificilmente conseguirá nessa temporada.

    • Deixando as ordens de equipe de lado, o negócio é o seguinte:
      Ocon está numa ascendente vertiginosa, dane-se o Pérez.
      Mais dia, menos dia, ainda nesse campeonato, a ordem vai se inverter.
      O mexicano, por sua vez, já teve a chance da equipe grande e desperdiçou.
      Gostem ou não, também já está na descendente da carreira, daqui à pouco seråo 10 anos na categoria, uma eternidade para se pensar em equipe de ponta, melhor agradecer ao indiano foragido da justiça pela chance de continuar onde está, e isto majoritariamente pelo patrocínio que leva.
      Na minha cabeça, quando a Ferrari quiser de fato substituir o Raikkonen, jamais pensará em Perez tendo um Ocon ou um Giovinazzi à disposição.