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Vettel, Hamilton, Bottas



SÃO PAULO | Comecemos pela Williams. Seis meses atrás, lá em Barcelona, os resultados dos testes apontavam para um carro rápido e de alta confiabilidade. A expectativa era bem alta, a ponto de imaginar que viriam disputas por pódios e que estavam pouca coisa defasada para Mercedes e Ferrari. Agora, depois das férias, onde se buscam novas soluções aerodinâmicas para consertar cagadas, a merda é completa.

É realmente inadmissível que uma equipe que tem uma saúde financeira muito melhor que seus piores anos pós-glórias, gente gabaritada em seu comando e um piloto como Massa ande apenas melhor que a Sauber num circuito em que o motor é peça fundamental. Pior, é ver que o time se encontra em férias: na sexta, puseram pneus errados no carro de Stroll e tomaram uma multa; hoje, Felipe tomou punição porque desrespeitou bandeira amarela. Vocês acham realmente que Alonso vai querer ir para um time desse, mambembe? Se na McLaren sabe-se que o problema é a Honda, o que ele não diria da Williams?

Não, Alonso não vai para a Williams. A não ser que ele tenha surtado e não tenha mais pretensão alguma na carreira. Entre a Williams e a Dale Coyne na Indy, que vá lá ser companheiro de Bourdais no ano que vem.

E outra: ainda que Massa tenha cometido um erro primário hoje, no geral ele faz uma temporada decente pelo carro que tem na mão. Mas valeu a pena ter abdicado da aposentadoria na F1 para se submeter a isso? OK que o dinheiro é dos bons, mas se foi só pelo dinheiro, dinheiro vem de outras formas, outras categorias, outros projetos.

De novo: ser apenas melhor que a Sauber em Spa-Francorchamps com um motor Mercedes na lomba é caso para pensar se vale a pena ter uma operação na F1.

Já que Alonso foi citado, serve o gancho: claro que é um exagero quando ele disse, após o treino, que a McLaren seria facilmente primeira e segunda no grid se não fosse o motor, mas significa que a Honda segue sendo Honda. As férias acabaram, mas a reclamação aberta serve. Imaginava até que viriam palavras de afeto e carinho por alguma evolução, mas não. De qualquer forma, tanto ele quanto Vandoorne andaram decentemente na classificação e estão de fato no meio do pelotão e em franca evolução. Mas não creio que a McLaren tenha o melhor chassi do grid.

Ao pelotão da frente, pois. Hamilton se viu de novo às voltas com a emoção. Se no Canadá veio pela família Senna e o capacete, agora na Bélgica aconteceu por igualar o recorde de Schumacher em poles, 68. Era algo que não se imaginava tão brevemente, alcançar os feitos do alemão. Lewis tem seus contras que ele mesmo provoca, mas é um dos maiores pilotos de todos os tempos, sim. É e vai ser o melhor piloto em classificação por um bom tempo – e parece que vai durar um tempão; quem que viria aí da molecada nova capaz de tirar essa marca dele? Verstappen? Ocon?

E gostei do respeitoso e forte cumprimento entre ele e Vettel ali na pista, no novo cercadinho. Gosto muito quando há uma rivalidade ferrenha e fodida entre competidores, mas também prezo quando há gentileza e reconhecimento da grandeza. É um cumprimento de oito títulos — já contando com o deste ano — e de uma admiração que, ainda que abalada pelo que aconteceu no Azerbaijão, existe. Porque os feitos dos dois nunca hão de apagar.

Vettel, segundo, se utilizou do vácuo de Räikkönen para terminar 0s2 atrás de Hamilton no Q3. A Ferrari claramente deve à Mercedes na classificação, mas na corrida ao menos o alemão deve dar trabalho. A largada vai ser legal. Quem quer que contorne a Source amanhã em segundo vai ter a vantagem de pegar o vácuo depois da Eau Rouge para tentar a ultrapassagem no retão. Pode sair faísca, então. Só assim, entendo, Bottas e Räikkönen podem se aproveitar de algo, seja no seco ou na chuva.

A Red Bull segue sozinha no mundo intermediário e a Force India está em quarto, com a Renault se aproximando perigosamente. Até Palmer evoluiu, vejam vocês, e hoje o azar se fez presente no Q3. Quer dizer, Palmer evoluiu hoje. Amanhã é outro dia. A sombra de Kubica é grande.

O último momento-corneta: fim do Q1, os dois carros da Toro Rosso estavam separados por uns 3 segundos na pista. Ambos estavam na zona da degola. Kvyat passou, e o tempo na esquerda da tela ficou verde, mas não moveu posição alguma, terminando em 17º. Sainz completou a volta e pulou para oitavo. Aquela cena do salto do nome me foi significativa. Porque é isso mesmo: Kvyat é um piloto estagnado na carreira. Sainz, ainda que tenha uns rompantes de insanidade, só tende a crescer.

Para finalizar, palpite: dá Hamilton com Vettel em segundo. Isso se for corrida em pista seca. Se chover, Verstappen vem pras cabeças e termina atrás de Lewis. Mas, claro, sempre torcemos pelo caos.

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