S18E01 Austrália 3

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SÃO PAULO | Faltaram emoções na estreia da F1 na Austrália. Ao menos, o resultado em si não foi o esperado: a vitória de Vettel só posterga para as próximas provas a liderança que Hamilton há de impor no campeonato se o desempenho dos carros se repetir do Bahrein em diante. E, curiosamente, foi a quase-filial Haas quem premiou a matriz Ferrari ao dar um show de como não se trabalhar nos pits.

A situação real da F1 era uma bola cantada desde que Hamilton resolveu tirar da cartola aquela volta primorosa no fim do Q3 e, por consequência, o sorriso de Vettel. Com Lewis mantendo a ponta após uma largada sem sustos, nenhuma outra estratégia premiaria qualquer adversário: quem vinha de pneus supermacios não tinha desempenho suficiente e estava encaixotado atrás das Haas — Verstappen atrás de Magnussen, Ricciardo atrás de Grosjean depois de ter lindamente superado Hülkenberg. Aí a Ferrari chamou Räikkönen para os pits, levando a Mercedes a reagir. Vettel ficou na pista rezando por um problema. A Haas não soube apertar as porcas e jogou seus carros na pista. 25 pontos para o alemão.

Estava claro que Seb ganharia a corrida uma vez na frente de seu maior rival. Há uma dificuldade latente em ultrapassar — arrojados, Verstappen e Ricciardo não ameaçaram Magnussen e Grosjean nenhuma vez. Mesmo com um carro evidentemente melhor, Hamilton foi comboiando até cometer um erro. Aí a Mercedes viu que já era e que o melhor a se fazer era poupar o equipamento nessa F1 cujo regulamento incentiva a não arriscar.

Um adendo sobre Räikkönen: um fim de semana bem decente, não há do que se falar. Tenho dúvidas de como seria o cenário se estivesse ali em terceiro, e não segundo. Será que a Ferrari chamaria Vettel para os boxes antes ou Räikkönen seria mesmo a piranha-de-boi? Um triunfo de Kimi cairia bem só para ter algo realmente diferente na abertura do campeonato.

Ricciardo terminou colado em Räikkönen, algo que já era comum no ano passado, mas que especificamente demonstra que a Red Bull tem o mesmo ritmo de corrida da Ferrari. Verstappen ficou encaixotado atrás de Alonso, este com uma McLaren que evoluiu, que tem o que comemorar, mas cujo resultado também mascara a posição em que a equipe inglesa ocupou no fim de semana: a de sexta força, atrás de Haas e Renault. Hülkenberg foi sétimo e Sainz, com náusea, foi décimo; Vandoorne terminou em nono; pontos OK para estes três. Bottas foi o oitavo; recebeu a posição meio que por osmose, já que pouco fez para chegar aos pontos.

Bottas que se cuide. Já começou devendo. A Mercedes que dê a chance devida a Wehrlein.

De resto, a Force India realmente vai sofrer. O projeto do carro deste ano nasceu muito errado. Pérez e Ocon, com o carro do ano passado, fariam algo melhor. O primeiro tentou buscar o ponto de Sainz; o segundo andou muito aquém do que se espera no fim de semana todo. E na rebarba, Toro Rosso, Sauber e Williams tiveram problema em um de seus carros cada — Gasly abandonou, ora, ora, com problema no motor Honda; Ericsson caiu fora por um problema hidráulico; e Sirotkin foi o primeiro a sair da prova porque o freio falhou. Hartley, sei lá que que aconteceu, Leclerc segurou Williams, e assim foi. Estas vão sofrer para brigar por pontos.

Fica para Sakhir, daqui duas semanas, a esperança de uma F1 diferente. A Austrália — nota 5 na edição 2018 — às vezes mascara desempenhos, e o circuito do deserto do Bahrein tem sido ótimo para disputas mais ferrenhas entre vários carros. Até lá, a Mercedes vai fazer uma reuniãozinha básica se só falhou no equipamento que dava a projeção da distância Hamilt0n-Vettel no período do VSC. E que a Ferrari também veja que a conquista foi circunstancial e trabalhe em melhorias.

Comentários

  • Não sei porque a mídia brasileira paga tanto pau para o Pascal Wehrleim, o cara tomou pau do Ocon na manor e depois tomou pau do Ericsson na Sauber (tomou sim, é só comparar os tempos de classificação). Além disso, há uma campanha de demonização do Ericsson só porque a Sauber estolheu ele em detrimento do Felipe Nasr. Ericsson andou mais que o Nasr em 2016, mais que o Wehrleim em 2017 e foi mais rápido que o Leclere na Austrália, para desespero do Reginaldo Leme.

  • O desempenho da McLaren mostrou também que o motor não era o único culpado.
    Não chegou aos pés da RBR e andou igual ou pior que a Renault.
    Eles juravam que com mais motor a briga era pela vitória/pódio. Tá certo que a parceria é nova mas o chassi tbm não é lá nenhum espetáculo.

  • Acredito que se a Mercedes for dar chance para alguém, será para o Ocon.

    Wherlein na melhor das hipóteses assumiria a vaga do próprio Ocon.

    Abraços.

  • Vitor, gostei da análise. Precisa e lúcida. Antes de ler o que você escreveu, fui na enquete e dei nota 5 ao GP da Austrália. Pura coincidência. Bem, começou a temporada, que seja disputada e emocionante, muito mais. Bravo!