S18E04 Azerbaijão 1

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SÃO PAULO | A gente sempre se vale de muitos clichês para desenvolver um raciocínio e/ou escrever um texto, no caso. “A classificação mais imprevisível dos últimos tempos” talvez pareça exagerado ou não dê a noção exata. Ou, ainda, seja de fato comum demais – até outro dia, teve um treino que ninguém sabia quem seria pole, se eu não me engano em um GP da Rússia recente. Mas não é uma afirmação mentirosa. Apesar de Vettel na pole, foi atípica e peculiar.

Além das estratégias visando a corrida do domingo em relação às paradas e quetais, as equipes tiveram de lidar com um ótimo fator extra: o jogo de vácuo, algo que a McLaren usou bem nos últimos anos e da qual nem se aproveitou hoje – até porque Vandoorne foi mal à beça. Quando a gente vê que Ocon chegou a ter, por bastante tempo, o melhor terceiro trecho do setor da pista do Azerbaijão, começa a tentar desvendar os macetes do que foi e pode ser a corrida. Um número ajuda: em determinado momento do Q2, Hamilton cruzou 0s486 acima do tempo do então melhor, Bottas, na segunda parcial. Cruzou a linha de chegada pulando para primeiro, 0s003 à frente do companheiro. Havia um carro à frente – longe, mas havia. O tanto que a ausência de matéria puxa o carro que vem atrás é algo impressionante, é coisa que se vê em oval da Indy.

Se cada carro parecia ter um acerto diferente do outro, o negócio, então, era encaixar uma entrada da curva 16 – coisa difícil para todos – e pegar o vácuo necessário para acelerar os mais de 20 segundos em altíssima velocidade. A Mercedes evoluiu muito de ontem para hoje e entendeu bem o que tinha de fazer para não tomar tempo de Ferrari e Red Bull. Hamilton foi competente demais e deu uma grande sorte em achar um lugar ali na primeira fila. Poderia estar ali facilmente uma Red Bull ou Bottas. E, certamente, Räikkönen.

Porque, pela terceira vez seguida, Kimi tinha a pole na mão. Não como no Bahrein e na China, onde tinha o melhor tempo e acabou amargando a segunda posição com o roubo final de Vettel, mas agora na situação inversa. O finlandês tinha as duas melhores parciais e colocaria um tempão sobre o companheiro, mas aí foi contornar a curva final e se perdeu. E perdeu tanto que só vai largar em sexto. Um erro clamoroso, diria Claudio Carsughi. Raikkönen é o único que vai largar com os ultramacios amanhã; os demais vão de supermacios.

Bottas é terceiro e puxa Ricciardo e Verstappen. Esse sextexto deve fazer uma prova daquelas.

O negócio foi tão maluco que quase a Williams vai para o Q3, e isso com qualquer um dos pilotos. Stroll e Sirotkin, beneficiados pela penalização a Hülk, saem em 10º e 11º. É que são uma bomba, né, mas é a grande chance de a equipe pontuar no ano. E Leclerc que enfiou um caminhão de tempo e Ericsson e passou com sobras para o Q2? E o que fará Alonso largando em 12º?

E a Toro Rosso, hein?

Bom, a chegada de Hartley à F1 se deve à decisão acertada da Renault em enxotar Jolyon Palmer. Foi ali que a Red Bull resolveu emprestar o então não muito contente Carlos Sainz e abriu uma vaga na Toro Rosso. Como o outrora bem sucedido programa de desenvolvimento de pilotos do grupo energético não tinha ninguém para colocar de pronto, resolveu pegar o neozelandês que participara dele e fora defenestrado. Hartley, bicampeão do WEC, estava acertado para ser o segundo piloto da Ganassi e formar um ‘Team NZL’ na Indy. Sua vida mudou por completo. As provas finais do ano passado serviram de readaptação, de modo que tudo que fizesse seria relevado.

O episódio d’hoje no Q1 que quase provocou um acidente de gravíssimas proporções mostra que Hartley realmente deveria ter seguido no WEC. Imagine este tipo de pilotagem e conduta na Indy, num superoval, ou mesmo no Texas. Estar ali no meio da pista com um pneu furado num trecho estreito daqueles é muita irresponsabilidade para alguém que tem certa bagagem na carreira. Começo a crer que este rapaz não termina o ano na Toro Rosso. Ou, se fica, fica porque a equipe realmente não tem o que fazer – porque não há opções no mercado.

Tenho até medo de escrever isso, mas a expectativa para a corrida deste domingo é imensa. Fazia tempo que a gente não tinha um cenário como este – ficaria muito frustrado se Vettel, por exemplo, largasse na frente e vencesse de ponta a ponta sem sustos. Sério: qualquer um parece com chances reais de vencer a corrida. Porque ninguém consegue fazer voltas minimamente corretas e, em termos de clima, o vento vai estar ainda maior e as temperaturas, mais baixas. A tendência de ser uma prova louca como a do ano passado é grande. O erro está inerente a todos. E nisso até podem se beneficiar as ótimas Force India – puxa vida! – de Ocon e Pérez. Os dois precisam ter a cabeça que não tiveram no ano passado, quando poderiam ter saído de Baku com uma vitória histórica. As Renault de Sainz e do punido Hülkenberg estão aquém desta situação.

Palpite? O mais difícil que já dei. Mas se é para colocar no bolo todo e é para tentar ganhar sozinho, vou jogar no mais arriscado dentre os seis: Verstappen.

Comentários

  • A Toro Rosso pegou esse Hartley e o Nasr que fez temporadas honestas pela Sauber e é mais jovem nunca foi sequer cogitado. Alguma explicação?

    • Interesse nos motores Porsche que estão chegando.
      Estão dando uma colher de chá básica para o kiwi, que é um “Porsche Boy”, poder contar em casa que é piloto de F1, depois vão bater na porta em Stuttgart e pedir um motorzinho para os Red Bull, simples assim!

  • Victor, seguinte:
    Na minha cabeça, só existe um único motivo para o fraquíssimo Hartley estar na F1:
    Os motores Porsche estão chegando e a Red Bull está dando uma bajulada básica nos alemães, deixando o “Porsche Boy” curtir uma de piloto de F1 durante esse ano.

  • As vezes penso que essa falta de pilotos da Red Bull já seja um reflexo dos planos da equipe de ser vendida logo mais logo menos – que não faça mais sentido garimpar e criar pilotos sendo que em breve eles já não estejam lá para aproveitar desses caras.

    Ou talvez seja só falta de gente mesmo.

  • Achei que vocês iam corrigir, mas como não foi o caso, decidi avisar…
    Até acho legal trazer pra F1 a nomenclatura dos seriados (S18E04), desde que se faça corretamente… essa não é a 18a temporada da F1, é a 69a, logo o correto é S69E04…
    Aproveito pra elogiar as reportagens… Vocês são muito f***… Obrigado pelas informações!!!
    Abraços