Fora do buraco

Vettel

[bannergoogle] SÃO PAULO | Leva-se um tempo até ter uma visão mais profunda do que acontece exatamente em Dark. A série da Netflix, cuja segunda temporada estreou mês passado, é um nó por vezes desesperador na cabeça do espectador. As personagens das quatro famílias alemãs são retratadas em várias épocas, de 33 anos, e a história envolve uma caverna – ou buraco de minhoca – que representa a passagem do tempo em uma lógica baseada na teoria da relatividade de Einstein.

Se você não viu a série, provavelmente não entendeu este primeiro parágrafo – e é altamente compreensível que não entenda. Uma hora, aquela gente da cidade de Winden está em 2019; de repente, sai da caverna em 1986; ou em 1953; ou, ainda, em 1921. Tem suicídio, tem morte, tem personagem que não envelhece, tem a mesma personagem como parte de famílias diferentes. O negócio é realmente sombrio, como sugere o título.

Vettel bem que seria o protagonista perfeito de Dark. Tedesco de uma cidade pacata, Sebastian adentrou uma floresta, encontrou uma caverna e resolveu entrar nela durante o GP da Alemanha de 2018. Ao sair, encontrou um outro mundo em que deixou de ser o mesmo de antes.

Ninguém nem lembra que Vettel conquistou uma vitória desde então – na Bélgica. Porque ele perdeu aquela em casa que parecia fácil assim que a pista foi ficando mais molhada; rodou na Itália ao tocar rodas com Hamilton; também viu o mundo ao contrário ao se encontrar com Verstappen no Japão; igualmente, perdeu o controle ao se chocar com Ricciardo nos EUA; repetiu a cena de Monza de 2018 contra Hamilton no Bahrein neste ano; perdeu o controle da Ferrari, quando pressionado pelo inglês, no Canadá; e a do último domingo, em que encheu a traseira do carro de Verstappen, ao ser ultrapassado na Inglaterra.

O que fez desde então faz com que seja necessária uma análise mais profunda da carreira de Vettel, causando um nó na cabeça do espectador – e é altamente compreensível que as avaliações, até mesmo rasas, de que tenha conseguido quatro títulos só por ter um carro de outra categoria se proliferem aos montes. Vettel entrou neste buraco de minhoca e envelheceu mal. Seu desempenho é sombrio. Ainda mais quando comparado à nova personagem da temporada, Leclerc, que lhe tira o papel principal dentro daquela família vermelha.

A relação espaço-tempo desta passagem termina daqui alguns dias. Vettel retorna à caverna para sair naquela Hockenheim onde sua derrocada se iniciou. Lá, vai tomar um choque ao ver que o mundo, na verdade, segue o mesmo de agora e que a mudança se encontra nele. Nenhuma teoria explica quem Sebastian realmente é. São poucos que relativizam seus erros.

No 33º ano de sua vida, diante de seu público, Vettel começa, na prática, do zero. Como um ator-diretor, resolve se a personagem se salva com um final redentor e feliz ou se prefere um fim marcante que não deixe muitas saudades.

Comentários

  • Já vi Vettel ganhar uma corrida (com pole e autoridade) à bordo de uma ex-minardi, em Monza.
    Já vi Verstappen ganhar sete corridas sem ter o melhor carro.
    Já vi Alonso ganhar meia dúzia de corridas sem ter o melhor carro.

    Mas nunca vi o Hamilton ganhar uma corrida sem o melhor carro.

    Desde 2014, Hamilton não tem um carro de outro planeta, ele tem um carro de outro universo.

    Serão seis anos consecutivos ao final de 2019 onde ele sentou em um carro de F1 em condições de fazer pole, vitória e volta mais rápida.

    A condição da Mercedes é muito, mas muito mais favorável a um piloto do que todos os anos de Red Bull, onde se não estou enganado, dos 4 anos em que Vettel foi campeão, em dois deles (2010 e 2012) o carro não era tão melhor assim. Então se compararmos laranjas com laranjas, Vettel esteve à bordo de dois carros imbatíveis, contra seis do Hamilton.

    Um piloto ganha corridas sem o melhor carro, mas nunca ganhou e nem vai ganhar um campeonato assim.

    No Brasil temos as eternas viúvas do Senna, que enxergam no Hamilton em função da idolatria dele ao brasileiro, seu herói da vez. Como se pilotos de carros de corrida fossem heróis.

    E esse brasileiro é tão desonesto intelectualmente que diante de fatos semelhantes vê demérito em um piloto e mérito em outro. Francamente.

    É muita necessidade de ter um herói milionário (aliás, de todos os pilotos citados não existe um que não seja milionário) para chamar de seu.

    • Perfeita a sua análise, Rodrigo!
      Suas palavras sobre Hamilton foram de uma precisão cirúrgica.
      Penso igualzinho à você, inclusive já cansei de dizer que, mesmo depois de alinhar trocentos títulos mundiais, e isso ele vai alcançar, por conta do carro de outro universo, LH jamais chegará aos pés de um Clark, ou Hill, ou Stewart, só para ficar entre os ilhéus com 2 ou mais títulos.
      Poderia também citar Hunt ou mesmo Mansell, que precisaram ralar muito para superar Lauda e Piquet respectivamente, mas tudo bem, deixa quieto.
      Assinando embaixo do que você disse, bacana perceber que outros também enxergam a moleza que é a vida dele.

  • Descer a lenha no Vettel é um prazer quase sexual. Então, vamos lá.

    Vimos inúmeras vezes ele largar na pole (Red Bull, claro) e por estar pilotando um foguete, ele não batia roda com roda com ninguém, porque todo mundo sabe: se tiver de bater roda com roda com qualquer piloto, ele faz cagada. Para vencer, Vettel não pode ter ninguém na frente dele, e nem do lado. Dessa forma, até o Taki Inoue conseguiria ser campeão mundial.

    Precisamos falar sobre a Reforma da Previdência. Na Ferrari. Curto e grosso: Vettel faria um grande favor para os verdadeiros fãs de F1 se ele passasse no Dep. Pessoal e pedisse a aposentadoria.

  • Para falar sobre Vettel, primeiro é preciso explicar que Mark Webber era MOTORISTA. Todos os leitores desse blog já sabem: existe uma diferença muito grande entre ser piloto de F-1 e ser apenas um motorista.

    Portanto, a coisa toda é simples assim: eu não reconheço os quatro títulos do Vettel, pois ele competiu com um motorista. Se seus companheiros de equipe fossem Alonso ou Hamilton, o total de títulos do Vettel seria ZERO.

    Vale lembrar qual foi a única frase do Webber que entrou para a história: ” Nada mal para um segundo piloto”. O próprio Mark Webber se considerava um Zé Ruela.

  • Vettel nunca me enganou, na verdade ele errava pouco na Rede Bull porque não precisava buscar o limite pra vencer. Webber, piloto mediano que foi, jamais teve o mesmo equipamento e ainda sim quase venceu em 2010.

    Depois que deixou de ter o melhor carro e começou a ter companheiros mais habilidosos, Vettel se viu numa encruzilhada e ali nasceu o calvário.

    Esmagado por Riccardo, teve dificuldade pra vencer o velho Raikkonen, e agora sucumbiu ao Leclerc. Na boa, ele nunca foi isso tudo e os fatos provam. Na F1 de hoje pra ser gênio parece que basta ter um carro dominante e ganhar um monte de corridas mesmo sem fazer esforços. F-numeros!

    • Concordando em tudo, Paulo Henrique.
      Mas fazendo também uma constatação básica, da qual gostaria de ouvir também sua opinião, Victor:
      A penúltima frase do Paulo também se encaixa perfeitamente em Hamilton.
      Simples assim.
      Muito mais valiosos foram os títulos de Clark, Hill, Brabham, Hulme, Stewart, Hunt, Lauda, Fittipaldi, Piquet, do que os trocentos que o britânico vai acabar por conquistar, ainda mais por conta do veto à qualquer companheiro de equipe que possa efetivamente incomodar de verdade, esse “Bosttas” é muito fraco.

  • Acompanho a série Dark (muito boa por sinal, indico a todos), e realmente a analogia foi muito boa. Acho que desde que o vettel perdeu uma temporada para o riccardo, ele não é mais o mesmo, no inicio da ferrari ainda teve seus brilharecos, mas depois daquela prova na alemanha que ele passou reto na curva, naquela pista molhada e jogou fora a vitoria, de lá pra cá e ladeira a baixo.

  • Sabe Victor ,conversando com meu filho a respeito, chegamos a conclusão, que o projeto
    do carro Ferrari 2019, o Leclerc se adaptou melhor a êle. Mas a sua explicação acima
    se encaixa melhor na situação de Vettel, que se não melhorar , os tifosis tiram êle da Ferrari.