Por que a F1 teve corridas tão boas

2019 German GP

[bannergoogle] SÃO PAULO | Há tempos que a F1 não tem uma sequência de três corridas tão intensas, que deixam os espectadores, em casa e no autódromo, satisfeitos e com o delicioso gosto de quero-mais. Há quem lembre que, mesmo em 2018, Áustria, Inglaterra e Alemanha também foram boas. OK, podem ter sido, mas nada se compara ao que aconteceu recentemente: a antítese da França.

E por que estes três últimos GPs foram assim? Levanto quatro pontos.

Pistas de verdade não têm áreas de escape convidativas, pintadas e indutivas ao erro (de pilotos e comissários). A trinca Red Bull Ring-Silverstone-Hockenheim têm seus pontos permissivos, mas penalizam o erro quando necessário. Em qualquer corrida de carros, o limite tem de ser encontrado, mas o além não pode ficar impune. Giovinazzi teve lá seu problema, ficou parado na brita; Vettel e Verstappen conseguiram escapar da prisão que as pedrinhas provocam, mas perderam tempo; com VHT ou não, aquela área de escape que leva à reta principal matou as corridas de Hülkenberg e Leclerc; o muro acabou com a de Bottas e, por muito pouco, com a de Hamilton. Além disso, são circuitos que permitem ultrapassagens – ainda que isso seja facilitado pelo tosco artifício do DRS.

O clima atuou decisivamente em duas das três provas, literalmente falando. O calor inesperado e excessivo na Áustria, batendo os 35ºC, sugou a força das Mercedes e permitiu que Ferrari e Red Bull se superassem. Culminou naquele fim de prova delicioso e a evidência da grandeza de Verstappen. Na Alemanha, o mesmo calor caminhava para acabar com a festa de 125 anos da Mercedes; daí a temperatura baixou no sábado, e lá estava Hamilton, doente, na pole; aí veio a chuva no domingo, e deu no que deu – a festa devidamente acabada da Mercedes. Naquela em que os termômetros estavam OK, a Mercedes venceu com sobras, mas o clima quente entre Verstappen e o mordido Leclerc apimentou a corrida.

Pode negar à vontade, ressaltar que é a mesma do começo do ano, mas a FIA aprendeu muito bem com o GP do Canadá. Precisou que Vettel fosse um bode expiatório, só que as corridas ganharam outra forma justamente nestas três citadas corridas. Em qualquer outro momento, o ato de Verstappen era passível de punição na Áustria; as disputas entre o holandês e o monegasco na Inglaterra receberiam pelo menos uma bela de uma olhada dos comissários, e nada aconteceu – Max, inclusive, retomou a posição sobre Charles por fora da pista. A evidência máxima disso, entretanto, foi a largada na Alemanha. O mundo já estava preparado para a paumolice do começo atrás do safety-car. Três voltas depois, eis que os pilotos alinharam nos colchetes e partiram. Surpreendente. Leclerc, ao sair dos boxes e quase acertar Grosjean – sempre ele – não tomou a mesma punição que Verstappen em Mônaco; deram uma multa de 5 mil merkels à Ferrari; Hamilton tomou só 5s por ter cortado o caminho dos boxes – um drive-through não seria exagerado; nada se aplicou ao incidente entre Albon e Gasly no fim da prova. A entidade está realmente mais condescendente e deixando rolar. Todos estão bem assim.

Por fim, os atores. Pegando pelos seis primeiros: 1) Hamilton: mediano na Áustria, ótimo na Inglaterra, horrível na Alemanha; 2) Bottas: mediano na Áustria, bom na Inglaterra, horrível na Alemanha; 3) Verstappen: excepcional na Áustria, bom na Inglaterra; ótimo na Alemanha; 4) Vettel: ótimo na Áustria, horrível na Inglaterra, bom na Alemanha; 5) Leclerc: ótimo na Áustria, excepcional na Inglaterra, ruim na Alemanha; 5) Gasly: horrível na Áustria, bom na Inglaterra; ruim na Alemanha. Verstappen manteve um certo nível e, também por isso, merece ser considerado o piloto da temporada. Os demais oscilaram muito. Não estamos vendo, pois, os protagonistas da ‘F1 A’ fazendo o que podem de melhor, o que tira aquele fator de marasmo e imprevisibilidade.

A Hungria vem aí. A pista é tradicional, tem lá suas britas, mas não é muito boa para ultrapassagens; a previsão do tempo indica temperaturas bem amenas; dois dos seis protagonistas vão correr sob risco intenso: Bottas e Gasly. A tendência é de que haja uma quebra na sequência, com uma Mercedes dominante. Mas se do resto pra trás for bom — a ‘F1 B’ tem apresentado disputas igualmente interessantes —, já terá deixado por completo o gosto amargo que foi acompanhar algumas das provas mais enfadonhas de 2019.

Comentários

  • Sequencia de ótimas corridas. Surpresa mesmo é o nível de performance que a Honda vem entregando, fica a impressão que o passado volta de uma forma cíclica, essa temporada esta a lembrar muito o titulo do Button na Brown. Inicio avassalador (igualzinho ao Hamilton) e nascimento de uma força chamada RedBull (na época com Vettel). Que a historia se repita para um 2020 repleto de novidades.

  • Sei lá. Acho que há um pouco de autódromos que ajudam com atitude dos pilotos. Vettel, por exemplo, fez uma corrida corretíssima (fazia tempo). E pistas que punem uma falha maior do piloto, ajudam. Piloto tem que andar no limite (coisa que com essa geração atual de carros, não fazem, pois tem que andar sempre economizando combustível e pneus). Já não tem motivo pra errar tanto. Se errar, que se atole em brita, que quebre o bico na parede, enfim, que seja minimamente prejudicado.

  • Estou supondo que quem gosta de F1 não gosta de pistas com áreas de escape convidativas e pintadas. Sou a favor de brita em todas as pistas, mas lembro que há cerca de uns 2 ou 3 anos, o Fernando Alonso disse que em pistas onde também há corridas da Moto GP, não dá para colocar brita. Então a solução é bem fácil: basta apenas colocar areia em todas as pistas, de preferência bem funda, para que o piloto que escape não consiga retornar para a corrida.

  • Corrida maluca e imprevisível, do jeito que a gente gosta. Citando apenas três fatos inusitados.

    1- Lance Stroll liderando uma corrida.

    2- Alex Albon andando na 4ª posição.

    3- Os dois carros da Mercedes terminando a corrida sem pontuar (lembrando que a punição dupla da Alfa Romeo veio bem depois da bandeirada, colocando Hamilton na zona de pontuação)