Quem ama bloqueia

SÃO PAULO | O alerta já havia sido dado pelo pulha @ivancapelli. Que, diante da notícia da criação do @rubarrichello, vista neste blog, foi, como fazem todos que se interessam pela pessoa ou nutrem algum tipo de sentimento próximo, apertou um simples botão ‘follow’ para acompanhar o que semelhante individuo está fazendo, que é a proposta do Twitter. Deparou-se com um cadeado e uma solicitação em inglês para que fizesse um pedido para acompanhá-lo.

Digamos que é raro ver alguém se propor a entrar neste microblog de comunicação rápida e fácil restringir o que escreve a três ou quatro ou a quem quiser, como se fosse a mãe ou cozinheira que se senta e separa cuidadosamente os grãos bons de ervilha dos ruins para fazer uma sopa. Digamos que é ainda mais raro, muito raro, raríssimo, uma figura de conhecimento público, mundial, fechar ao mundo o que pensa (?).

É uma atitude surpreendente. Capelli, no entanto, foi bloqueado. Isso já não é surpreendente.

A colega @vanessaruiz, da Rádio Globo/CBN, também comentou em seu espaço de 140 caracteres que “Rubinho me bloqueou tbm” e acrescentou que “(N sei de onde ele teve essa brilhante ideia pq nem me conhece… eu acho)”.

A proposta de um jornalista de automobilismo, bem como o de futebol, o de vôlei, o de cinema, o de economia, o de cultura, e todos os outros, é trazer notícias referentes a seu tema e, quando lhe dada a oportunidade, como é o caso de um blog ou de uma coluna, analisar e opinar, procurando restringir (ops!) seu foco à atividade. O interesse aqui é o carro, a corrida. O piloto. É como se fosse aquela questão de separar a vida pessoal da profissional. O que faz ou deixa de fazer, se fuma, bebe ou dá, é mera questão de foro íntimo. Só que a partir do momento que a personalidade influi, para o bem ou para o mal, também passa a ser motivo de análise do jornalista. A imagem, diferente do que dizia a propaganda, vale muito.

O piloto Barrichello, vice-líder do Campeonato Mundial de F1, não venceu nenhuma das oito corridas disputadas na temporada. Viu o companheiro Jenson Button vencer seis. Barrichello teve problemas em algumas provas. Cometeu erros. Deu declarações, a grande maioria delas retumbantes, referentes a tais problemas. Justificou os erros. A grande maioria de suas respostas recebeu uma série de críticas, e não só no Brasil, como ele costuma dizer — um jornalista italiano, depois da primeira prova na Austrália, o comparou a Tony Little, o segundo colocado do Festival de Sanremo de trocentos anos atrás. Os jornais espanhóis o tratam como segundo piloto da Brawn. Não é um “privilégio” nacional, portanto. Mas Barrichello não sabe e nunca soube lidar com as críticas. Que eram feitas ao piloto Barrichello. Ele, envolto na manta da ira e do rancor, revidava, às vezes até pessoalmente. E daí vai aquela coisa do apelido: você coloca numa pessoa, ela não gosta, e aí que ele pega, mesmo.

Devo ter falado com ele pelo menos umas dez vezes nessas de 500 Milhas da Granja, Desafio de Kart e F1. Sempre me respeitou. Não tenho absolutamente nada contra a pessoa Barrichello. Que é um piloto ótimo de entrevista, disso não se pode negar. Só que suas palavras tomaram uma importância tão grande quanto o que faz nas pistas. Sua personalidade está, hoje, direta e intrinsicamente atrelada com sua profissão. A ponto de gente como Hortência, de quem nunca se havia ouvido uma palavra sequer sobre automobilismo, soltar aquela pérola, desnecessária e descabida, sobre sua estrela. Barrichello virou um personagem folclórico, virou predicado, quase substantivo. É um membro da nossa cultura.

Veio o Twitter, e com ele mais uma forma viciante, quase em tom de reality-show, de se expressar o que cada um faz de sua vida. Isto é, uma coisa pessoal que inevitavelmente mistura com o profissional. @NelsinhoPiquet_ foi o primeiro dos pilotos brasileiros a se juntar nesse microcosmo. Nelsinho deixa seu Twitter aberto a quem quiser segui-lo ou não. Ficou no início a dúvida se era ele mesmo quem postava. Ninguém está lá do lado dele para ver se ele mesmo digita ou se é algum assessor. Mas já que é seu, oficialmente, é ele — e parece ser, mesmo. Nelsinho não é nenhum esplendor de piloto, poucas vezes teve um desempenho acima de crítica, esteve muito perto de ser defenestrado da Renault, foi achincalhado aos montes pela imprensa e até pelo chefe. Passava impressão de ser um azedume e de ter a boca solta que herdou do pai. Só que nunca demonstrou birra e nunca fez beicinho. Sempre ficou na dele. E inegalvemente o Twitter tem ajudado muito em desfazer essa imagem negativa. Trata bem o fã e a imprensa, mesmo aquela que coloca a mão inteira em sua ferida. Além de ter fornecido informações, também por fotos, que temos usado. Nelsinho está prestes a completar 24 anos.

Felipe Massa, 28, ao que consta, não tem Twitter. Se não tiver, provavelmente não muda nada na vida dele. Também não muda nada na de ninguém. Massa também foi alvo da mídia quando vinha mal na F1. E sempre acompanhou isso. Um episódio: depois de vencer seu primeiro GP do Brasil, em 2006, Massa entrou na sala de coletiva da FIA e viu Flavio Gomes sentado. Em meio a comemoração, chegou ao nanojornalista e deu-lhe um tapinha. Disse algo nesse sentido: “Vai, que nota você vai me dar agora, hein?”, referindo-se ao ranking do Grande Prêmio. Gomes pegou um papel enquanto Massa se sentava na cadeira do meio. Quando viu um 4, Felipe começou a rir. E assim seguiu a vida. Pode-se não achar Massa um piloto top — o que é difícil, como disse em post dias atrás, já que ele atingiu uma consistência e uma consciência evidentes — e pode não se achar que seja um piloto carismático. Mas leva tudo numa boa com a maturidade que atingiu. Sua imagem já o ajudou até a construir o caráter de heroi nacional para alguns. Postura e palavras ajudam.

Barrichello chegou ao Twitter às 22h45 de ontem. Barrichello, que diz que a imprensa é que cria polêmica, criou outra: evitou que alguns vejam o que ele está escrevendo, como se o que postasse fosse, embuído do espírito celestial de Moisés, uma tábua de mandamentos e lições às quais poucos privilegiados devem ter acesso. Sua resposta é que “neguinho escrevendo soh pra encher o saco e falar mal no teu twitter.oq vc faz?”. Bloqueou dois jornalistas. Perguntei ao assessor dele, Anderson Marsili, amigão meu, que disse que Barrichello ainda está se familiarizando com o Twitter. E com todo respeito, não acho que seja o caso de não saber o que um botão “block” signifique. Até porque há uma explicação subsequente, com três itens do que vai acontecer com tal ato punitivo, e um botão de confirmação da sentença. Pouco depois das 15h, Barrichello escreveu algo parecido, dizendo que não sabia que se tratavam de jornalistas e que o Twitter é novo. Barrichello, 36 anos, segue guardando mágoa, sem entender que, muitas vezes, passar por cima dos detratores e dos neguinhos que ficam querendo tirar uma com classe é a melhor reação que poderia ter. Ou, na melhor das hipóteses, responder com bom humor. Uma brincadeira geralmente desarma as pessoas. Uma brincadeira ganha as pessoas. Barrichello preferiu mostrar, num lugar de papo aberto e leve, uma tacanha, mesquinha, insípida e, porque não, ridícula atitude. Em tempo: Barrichello aceitou meu pedido para que eu pudesse segui-lo às 15h10.
 
Barrichello preferiu ser a ervilha que a mãe cozinheira joga fora.

Comentários

  • Quer dizer que ele não sabia que era jornalista, e se não fosse, porque bloquear. Quanto mais tenta explicar pior fica. Mas o que se pode esperar de um SUJEITO INFALIVEL, ele apesar dos anos de janela deveria ter ouvido a entrevista do MASSA ao final do treino, quando apesar do carro não estar bom admite ter errado no ultimo trecho, por isso teria ficado do Q3. Se fosse com o rubinho, ele iria dizer que alguém tinha feito alguma coisa, talvez o SCHUMACHER pessoalmente, afinal eles não são amigos era tudo fachada. Alias este episodio da falsa amizade interessava mais a quem, será que havia uma clausula contratual obrigando o RUBINHO a se portar desta maneira ? Já disse algumas vezes e repito: SE ASSINOU E NÃO GOSTOU PORQUE RENOVOU COM A FERRARI ? PORQUE COMO DIZ O PIQUET O SALDO NO BANCO ERA MAIS IMPORTANTE. ENTÃO COMO DIRIA O REI DE ESPANHA ´PORQUE NÃO SE CALA !´

  • Eu acho que o bloqueio foi meio que automático. Fui bloqueado também. Não sou jornalista, nem nada, só um torcedor. Não acho que tenha sido de propósito não. Abraços

  • Não achas que estás perdendo tempo demais com este assunto ? Se o cara está afim de bloquear determinados acessos é um direito dele.

  • A cara dele. Claro tava aprendendo sim, vou fazer de conta que acredito e assim sigo sem ler lá, porque não tenho o menor interesse. Acho que o Rubinho por natureza já é um cara que fala mais do que deve, imagina com um twitter na mão.

    Entrei só de curioso, e ele já ta dizendo que os caras não são loucos de não transmitir a categoria que vai ter 3 brasileiros.

    Tadinho, o dia que eu acompanhar corrida por ele to fudido né.

  • Alexandre Carvalho

    Realmente, os twitters falsos são muito engraçados. Principalmente aquele /barrichellogp2 , com seus “confiança em si!” e o o campeonato FUCK (Formuna Unique Championship with Kers).

  • Direito de bloquear o acesso à sua página no Twitter todo mundo tem. Mas a partir do momento em que uma pessoa famosa como o Barrichello decide criar um perfil oficial no intuito de interagir com o público, ele perde esse direito.

    Mas concordo que, na situação dele, ter um perfil no Twitter é bem arriscado. Se a idéia partiu dele ou do Anderson com o objetivo de minimizar a popularidade dos perfis fakes (que costumam ser bem engraçados, diga-se de passagem), começaram de forma bastante equivocada.

  • O twitter, quando usado bem, é uma ótima maneira pra aproximar figuras públicas a fãs e jornalistas. Tanto que vários políticos já tomaram proveito disso. Agora eu pergunto: por que diabos criar um twitter se é pra bloquear todo mundo? E essa desculpa de “não estar familiarizado” também não cola. O próprio RB twittou: “me diga uma coisa:neguinho escrevendo soh pra encher o saco e falar mal no teu twitter.oq vc faz?”. Ou seja, ele sabia muito bem pra quê o botãozinho ‘block’ servia.

    VM responde: Bia, não ia entrar mais nesse mérito, mas já que foi você (ainda bem!), completo dizendo que é exatamente isso que penso. Não se pode dizer que ele apertou sem querer e que não tinha essa intenção. Enfim, já se fué. Beijos.

  • Achei esta crítica totalmente injusta e desnecessária.

    Mesmo que ele tivesse bloqueado propositalmente, é um direito pessoal. Nesse mundo digital em que menina é menino, velho é garotinho e o escambau, quem garante que @luizinacio é o Presidente? Verificar ou não a identidade de quem está seguindo os comentários é uma prerrogativa do assinante do tweeter.

    E ainda acho que o barrica tá fazendo uma enorme besteira em “twitar” pois qualquer coisa que ele escrever será usada contra ele. E se ele não escrever, também!!!

    Ele não é nem nunca foi o melhor piloto, mas está entre os top 6 da F1 atual. Considerando que a F1 é a elite do universo dos pilotos, não é pouca coisa.

    Aí ele vem pro Brasil e dá pau em todo mundo nas provas de kart e os jornalistas brasileiros, que influenciam a torcida brasileira, vivem repetindo que ele é um fracassado.

  • Jornalistas esportivos metem o sarrafo no cara e depois querem ser seguidores? No mínimo ele pensa que o que escrever será usado mais uma vez para esculhambá-lo. Agora que ele liberou o acesso, é só esperarmos pelas manchetes dos blogs fazendo piadas com o que ele postar.

  • Pow, o cara é tão azarado e espinafrado q qlqr tropeço é motivo pra tomar + espinafre! kahuakhua
    Sabe q as vezes tenho até dó? Só as vezes…
    Passa rapido… rsrs Passa mais rapido do q qnd ele “passa”… kauhkauh

  • Victor,

    Desculpe me intrometer, mas o Rubinho informou agora há pouco no Twitter que ele não estava acostumado com tal ferramenta.
    Reproduzindo suas palavras: “uma coisa:o twitter eh bem novo pra mim e to aprendendo a mexer…teve gente falando mal q eu bloqueei sem saber q era jornalista… acabei de tirar o filtro e comeco do zero…mas quero utilizar o espaco pra tirar duvidas e curtir a torcida.”

    Abraços,

    VM responde: Intrometa-se à vontade, Fernando. Aceitemos a familiarização como resposta e toquemos a vida. Não é nada que devemos levar adiante. Ainda bem que o erro foi corrigido :)

  • Barrichello mandou agora há pouco no twitter: “uma coisa:o twitter eh bem novo pra mim e to aprendendo a mexer…teve gente falando mal q eu bloqueei sem saber q era jornalista…”
    Será que o cara fez sem querer mesmo?