Terra do Bukit Timah, 3

SÃO PAULO | Quando surgiu a informação no Twitter de que, às 10h48 de Brasília, na preparação para o Q3 em Cingapura, a audiência da Globo indicava 3.8 no Ibope, troquei de canal para ver o que o SBT passava para estar com 9.3. Eram desenhos, e confesso não saber que desenho, coisas meio toscas para mim, acostumado com Tom & Jerry, Pica-Pau e Chaves. Tinha lá um robô, uma coisa meio futurista, arminhas, bem babaca, mas tem quem goste, a molecada de hoje gosta. A molecada de hoje é meio esquisita.

Mas vá lá, eram desenhos, e numa manhã de sábado, que costuma não ser lá grande coisa em termos de audiência, o SBT batia nos 10 pontos — quase 600 mil pessoas, segundo os cálculos feitos pelo instituto em São Paulo —, e a Record beirava os 5 pontos.

Ainda quando estava na Alemanha, li o que Nano Gomes escreveu a respeito do gosto do brasileiro pelo automobilismo, cada vez mais escasso. Diria o outro que o escriba foi pontual. De forma geral, o povo está perdendo o gosto pelas corridas. Não há mais aquela paixão por carros, aquele afã pela velocidade, e se por um lado aceita-se que a patuleia foi acostumada a torcer só por um piloto igual ao seu — da mesma forma enganada quando os resultados não vinham —, estas novas gerações que pouco brincaram de pipa, pião ou carrinho de rolimã têm outras prioridades na vida antes de ver um bando de barbados andando a 300 por hora em retas e curvas mundo afora.

Temos, então, dois pontos que já se desgrudam: não é que o brasileiro não assiste só porque brasileiro não vence. Brasileiro não assiste independente de quem quer que esteja lá sentado. O automobilismo está virando artigo de raridade. E quando muitas gentes dizem que as corridas vão começar a passar em canal a cabo, por exemplo, não é de se achar o maior absurdo do mundo ou que seja uma realidade muito distante. As TVs vivem de números de audiência, e por mais que a Globo ganhe rios de dinheiro com suas cotas de patrocínio atualmente, estas empresas que bancam a farra vão logo questionar se vale a pena pagar 60 milhões de dilmas anuais para 3.8 pontos no Ibope.

Daí junta o molho dos maus tratos do automobilismo local, com esta CBA capenga e mendigante, que não faz um troço bom e decente, e voilà!, eis o palco perfeito para o abandono e o descaso. Se muitas vezes dizemos que nós estamos vivendo a História, temo em dizer que aos poucos acompanhamos a decomposição do automobilismo. Um dia, talvez, este esporte volte a ser grande por aqui.

Adendo: 27/9, às 13h: a coluna de Ricardo Feltrin, da Folha, traz os dados de como o Ibope da F1 caiu em 10 anos, 55% em números. E a conclusão a que Feltrin chega é que a galera que simplesmente via as corridas deixou de ver TV — e não migrou para outro canal. É similar ao que imaginava: que o gosto pelas corridas tem diminuído e os jovens simplesmente seguem o exemplo daqueles que desistiram.

Comentários

  • Na realidade a Globo deu um tiro no pé com essa história de torcer só por brasileiros. No passado tinha o sinal verde, que voltou recentemente, mas nuns horários muito ruins. Que eram matérias curtas, mas que davam informação sobre a pista, sobre os pilotos, sobre a história da F1. Hoje não há nada disso! Os programas começam em cima da F1. O Galvão e o Reginaldo Leme têm um papel fundamental, de passar a informação de forma a chamar à atenção de quem assiste e criar o interesse pela competição que, pela beleza dos carros, pelo desafio – cabe também a eles destacar isso -, pelo interesse do mundo que cerca a F1, tudo isso é relevante e não é destacado, apenas torcer por brasileiros. Como estes estão em baixa no automobilismo, há o natural desinteresse.

  • Pois é, o apetite desmesurado pelo lucro com regulamentos que mudam a cada ano levaram a uma situação em que não se sabe mais o que está valendo. Caraca, se o carro não anda porque criar asas móveis? Tem é que melhorar o carro e a pilotagem! E as pistas? Parecem pistas de kart de fim de semana. É corrida em Singapura, é corrida no deserto do Saara, é corrida na China. Pistas horrorosas que tiram a emoção do esporte que tem como base a velocidade. Pra que uma curva em grampo para ser feita a 20 Km/h em primeira marcha. Não são só as novas gerações que estão desistindo não. Tenho 55 anos, acompanho a F1 desde os tempos do Jim Clark, e já prometi que no ano que vem só vou assistir as corridas européias nas pistas tradicionais.

  • Só que tem um detalhe. Os treinos passaram num horário diferente do habitual e isso pode ter influenciado.
    E não vejo tanta ameaça assim… transmissão de F1 dá status e ela talvez seja direcionada cada vez mais para um público específico valorizado financeiramente. Além disso, fim de semana de manhã é um horário meio desprezado pelas emissoras… se a Globo fosse de TV Globinho, a audiência talvez seja pior ainda.
    E discordo do autor do Blog: se o Massa tivesse disputando o título, a audiência seria um pouco maior sim. Como os dois pilotos estão abaixo na tabela e disputam posições intermediárias, então o interesse diminui sensivelmente, até mesmo entre aqueles que gostam um pouco de automobilismo.

  • Olha cara, eu confesso que desanimei desse esporte nesse país. Alias, de qualquer outro. Se a imprensa nao fizer algo maciço para fazer ele criar audiencia “na porrada”, ele começará a ser artigo de TV a cabo, como a Indy ja é na pratica.

    3,8 pts é uma vergonha para um esporte que ja fez 10 pts em dia ruim. Em breve, ate a Formula 1 vai perder seu horario de manha. Especialmente se nao houverem brasileiros no grid ano que vem….

  • Destruindo Autódromos como o de Jacarepaguá, o automobilismo acabou no Brasil.
    Só temos hoje categorias para ricos. Os regionais morrem, uma Globo que poderia com seu poder ajudar, não está nem ai.
    Com regionais fortes, os torcedores lembrariam que exstem corridas.
    Onde estão as categorias de base?
    Olha o fiasco do esforçado Bruno Senna.
    Massa, coitado.
    É de se lamentar muito um Ibope desses.

  • Tem que pensar o seguinte: essas empresas nao patrocinam a transmissao pela transmissao em si, mas pelo pacote que a Globo oferece, que so de anuncios nos intervalos de Jornal Nacional, Jornal da Globo, Fantastico, Esporte Espetacular, Globo Esporte, etc, ja vale a pena, seja F-1 ou toneio de bolinha de gude. Sobre brasileiro so assistir quando brasileiro ganha e a total verdade: os ultimos grandes numeros foram com Felipe Massa, em 2008.

  • Comentei isto com a minha filha a uns meses atrás quando estivemos na Hungria para assistir a F1. A Formula 1 não demora mais uns 2 anos vai passar somente na TV fechada. Em 2014 dificilmente teremos um brasileiro no grid, pois o Massa não passa de 2013, e o B.Senna dificilmente estará no grid no ano que vem. O Reginaldo Leme e o Galvão vão se aposentar, e além disso o jovem de hoje não curte mais carro como antigamente. A Globo não irá conseguir renovar as cotas de patrocínio nos valores que vem conseguindo nos últimos tempos, pois o ibope está bem ruim mesmo. Portanto, tudo está convergindo para este fim, o que é lamentável.

  • Isso é balela!
    Querem fazer sensacionalismo barato por causa de um Ibope.
    Coisa de quem precisa de matéria….
    3.8 é pouco? Pode ser.. +- 228mil tv ligadas em SAMPA, mas no Brasil todo não tem como medir.
    Trabalho com TV, sei também como funciona…
    Realmente matéria sensacionalista!

  • Acho que seo Felipe Massa sair mesmo da Ferrari, o que deve ocorrer com toda certeza até o fim de 2013, será a gota d´água para a Globo, e o destino dos fãs fanáticos brasileiros será assisitir às corridas pelo Sportv, quem sabe até no esquema pay per view, sowente para quem quiser desembolsar…

    • Meu caro Leonardo , se Mepassa continuar na equipe rossa ou qualquer outra sera só para fazer numero pois jamais sera mais que o que esta sendo atualmente, um piloto mediano e olhe que nem isto o primeiro sobrinho consegue ser,então esperar o que ;que surja uma nova geração abençoada, A Italia esta esperando desde a morte de Ascari um vero campeão e até agora nada,e olhe que eles tem um bom campeonato domestico ,gente do ramo na federação italiana(não oportunistas deslumbrados) e a mais tradicional equipe de F1 e nós o que temos??????????
      E possivelmente após a destruição do verdadeiro Interlagos (aquele de 7960m,não este ridiculo circuitinho mediocre,que só forma pilotos para serem no maxímo segundões) das situações vexatórias de Buarriquello e Mepassa o automobilismo brasileiro tenha sido amaldiçoado pelo deus da velocidade(quem seria,Hermes talvez???)

  • Concordo plenamente, acompanho automobilismo desde da década de 70.
    Hoje em dia não ligo mais a TV na globo, até tentei acompanhar a stock, mas quando cortaram aquela corrida faltando 3 voltas pro final, foi demais, nunca tinha visto tamanho desrespeito. E a narração das corridas se tornou algo ridículo, beira ao insuportável, todos inseguros e sem liberdade ao lado do narrador que quer saber mais que os próprios pilotos, onde nas divagações perde ultrapassagens sensacionais, tratando o telespectador como ignorante. Quanto as outras competições, nem me atrevo a ir, ingressos caros, não se pode entrar com lanches, bebidas, não pode acampar, fazer um churrasquinho então!!! filas nos banheiros, privilégios para alguns , enfim, é pra acabar mesmo.
    A cultura do automobilismo se foi, não precisa nem de categoria de base, nem talento, é só ter dinheiro, faz um cursinho e pronto, já pode alinhar.
    Os Ingos, os Rubens, os Ayrtons, os Felipes, os emersons, que saudade.

  • É Vitor, mas não podemos esquecer de destacar a culpa que a emissora tem nessa derrocada de público…
    Qual é a possibilidade de participação/interatividade que os telespectadores possuem durante as transmissões dos treinos e corridas? Porque as transmissões da F1 na Globo se distancia tanto do contato com seu público, indo no caminho inverso do que acontece com outros esportes (como o Futebol)? Onde está o atrativo para a emergente nova geração de telespectadores? Ficou tudo muito chato e distante da “realidade”…
    Mesmo sendo um telespectador assíduo dos finais de semana do circo da F1, por dois anos consecutivos venho sugerindo interatividade nas transmissões. Mas a emissora que diz prezar pela relação com o seu telespectador sequer responde aos e-mails.
    Infelizmente, do jeito que aí está, vai ser inevitável que as crianças e os jovens dessa geração continuem sendo esquisitos e felizes com seus desenhos estranhos…

  • É Vitor…. infelizmente o automobilismo morreu no Brasil…. mas talvez ninguém tenha coragem de admitir…. pois “viver” de lixocar, a única categoria cujas carroças não conseguem fazer o café e precisam de uma chicane absurda, ridícula e patética, é o fim dos tempos…
    Não existe mais categoria(no singular mesmo) de base de monoposto enquanto na Europa moleque de 13 anos tem calo na bvunda de tanto andar em carro e, apesar de odiar o Massa, tenho que reconhecer que ao menos tentou fazer algo por aqui com a F Future…(independente do apoio da FIAT, ele colocou o nome dele lá).
    Lembro muito bem em 2002 ou 2003, no primeiro ano da F-Renault que até a última corrida, tínhamos 3 pilotos brigando pelo título e era o máximo, até que, neste final de semana trouxeram um tal de Kubica, campeão do campeonato Europeu….coitados dos “pilotos” nacionais….. eram mais de 1,5 seg por ovlta mais lentos….. por aí eu já percebi que as coisas por aqui estavam no caminho do fim….
    Torço muito para que tenhamos cobertura televisiva decente e até que a globo está tentando… mas acho que aguentar o Galvão e o Reginalso falando asneira é pior do que ver corrida achando que algum brasileiro dos atuais venha fazer algo útil.
    Semana passada estive nas 6h de Interlagos e, apesar da divulgação, não deveria ter mais de 10 mil pessoas em Interlagos… aliás…. fui proibido de entrar com os lanches que fiz em casa pois “só pode entrar se for industrializado” po…. que palhaçada é essa ?????
    Não posso levar lanche de casa p/ ter que pagar 6 reais num pastel ???? 5 reais num saquinho de pipoca…. se isso for regra á partir de agora no autódromo, apesar de viciado em velocidade, nao irei mais ver nada em Interlagos ou autódromo algum….

    Abraços

    • Eu também estava lá em Interlagos e não pude entrar com os sanduíches que fiz em casa. tive que comer tudo antes de entrar….patético, só para deixar o expectador sem opções a não ser pagar pelas porcarias que estavam sendo vendidas….hot dog, pipoca, churros….garrafa de 300 ml de água a 4,00….revoltante. Por que pode entrar biscoito e sanduíche caseiro não ? Palhaçada isso, coisa de espírito de porco. Acho que pensavam que ia lotar e iriam ganhar muito dinheiro….. por volta das 17h fiz uma foto da arquibancada, não devia ter mais de 300 pessoas no setor A….para mim foi otimo, vi a corrida esparramado, mas para o evento, um fiasco, bem feito….

      • Eu já consegui entrar com meus lanches tranquilamente. É só usar um pouco de jeitinho com o segurança, também somado que eu fui um dos primeiros (acho que terceiro) na fila do setor A. Tudo foi tranquilo e só gastei com bebida – que estava extremamente cara. Da próxima, levo bebida de casa também.

        O que acontece com nosso automobilismo é simples. Brasileiro não gosta de esporte, a exceção do futebol. Enquanto o esporte ludopédico for o centro das atenções, durar de janeiro a dezembro, com jogos de terça a domingo, e todos os programas esportivos dedicam pelo menos 70% deles ao esporte, é difícil qualquer outro tomar espaço. Até porque a emissora oficial só sabe falar de futebol.

        O jeito é nem apelar para a TV a cabo (pois ontem teve corrida do Chase da NASCAR e deram espaço mais uma vez ao futebol), mas sim a Internet. Só ligarem seus computadores e acessarem a Vip Box e pronto, adeus dependência do futebol.